Na vida, somos sempre aprendizes. Todos nos podem ensinar.
Uns mostram-nos o que devemos realizar. Outros dão-nos a conhecer o que nunca podemos fazer.
Uns abrem-nos portas. Outros fecham-nos janelas.
Há quem nos estimule a progredir na esperança. E quem nos ajude a crescer na paciência.
É por isso que aprendemos com os amigos. Mas também é verdade que não desaprendemos com os inimigos.
Para o Dalai Lama, «os nossos maiores mestres são os nossos inimigos, pois são eles que mais nos interpelam para a virtude da complacência».
Quando se mantém a serenidade no meio da tormenta, é sinal de que se assimila a grande lição da existência.
Quando estamos preparados para a adversidade, estamos preparados para tudo.
Ouvindo Alexandre Soares dos Santos, não vale a pena continuar com análises e recriminações.
O que pode correr mal, corre quase sempre pior.
A sucessão de buracos na Madeira abriu uma cratera no pouco que restava da confiança. Para o gestor da Jerónimo Martins, Portugal está falido.
É, por isso, chegada a hora de recomeçar.
O problema é o seguinte. Será com aqueles que nos arrastaram para o abismo que vamos sair dele?
A vida mostra que os passos mais difíceis de dar são o primeiro e o último.
Às vezes, é um grande serviço saber retirar-se.
No que depender de nós, vamos em frente. A vida é uma sucessão de começos. Aprendamos com os erros, mas não falemos muito deles.
De novo, Alexandre Soares dos Santos: «A única coisa a fazer, todos em conjunto, é não assistir a este espectáculo triste de nos estarmos sempre a queixar na televisão, mas darmos as mãos e recuperarmos o país a trabalhar».
1. Na hora que passa, a Igreja volta a mostrar algumas dificuldades em redescobrir os horizontes do futuro e em reencontrar a energia dos começos.
O Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recolocar a Igreja nessa dupla direcção, levando-a a seguir em frente sem deixar de olhar para trás (ante et retro oculata).
As duas palavras fortes do Concílio apontavam nesse duplo sentido: aggiornamento (adequação à realidade de cada dia) e refontalização (voltar às fontes da fé).
Volvidas quase cinco décadas, pressente-se alguma quebra de vigor, um certo amolecimento e, mais preocupante, uma acentuada desmobilização.
É neste contexto que, em determinados sectores, germina a necessidade da convocação de um novo Concílio.
A esta sugestão é habitual responder que mais importante que um Concílio Vaticano III será estudar e aplicar o Concílio Vaticano II.
Sucede que não falta quem replique que um eventual Concílio Vaticano III teria como principal objectivo relançar as propostas e sobretudo o espírito aberto pelo Vaticano II.
2. Uma nova assembleia conciliar visaria precisamente conformar as estruturas da Igreja à concepção de Igreja firmada no Vaticano II.
Na Lumen Gentium, foi dado não só um passo, mas um verdadeiro salto.
Não se trata, porém, de uma qualquer novidade. Trata-se de retomar o que vem do início mas que, às vezes, corre o risco de ficar obscurecido.
Nesse documento, a Igreja recentrou-se. A primeira frase diz tudo: «A luz dos povos é Cristo».
No centro não está a instituição. Está Jesus Cristo.
Era por isso, aliás, que os teólogos primitivos comparavam a Igreja à lua.
Tal como a lua, também a Igreja não tem luz própria. Ela é um reflexo da luz.
Só que, à semelhança do que sucede com a lua, também na Igreja a opacidade coexiste com a luminosidade.
O peso das questões institucionais e organizativas condiciona o essencial: o encontro pessoal e comunitário com Jesus e a vivência da Sua mensagem no tempo.
O Vaticano II reabriu um caminho. Mas, como se compreende, não concluiu a caminhada. Que, de resto, só estará concluída no fim da história.
Foi até feito mais. Há textos conciliares que apelam à «reforma perene».
No fundo, o que é proposto a cada membro da Igreja (conversão) é reclamado com urgência a toda a Igreja (mudança).
O percurso passa por transpor para as estruturas o que se afirma na doutrina.
3. Tudo isto passa não apenas por adaptações, mas por uma efectiva alteração de paradigma.
Habitualmente, os Concílios Ecuménicos (já se realizaram 21) incidem sobre a doutrina e sobre a missão. Penso que é chegado o momento de haver um Concílio que se debruce, acima de tudo, sobre o testemunho.
É por isso que o local, não sendo obviamente o mais importante, pode ter o seu valor simbólico. Daí que, em vez de um Vaticano III, pudéssemos conjecturar um Jerusalém I.
Seria uma forma de revitalizar o presente com a força das origens. O paradigma Jesus, por nós perdido e desperdiçado, está sinalizado na coroa de espinhos e sobretudo na cruz.
É o paradigma de uma Igreja que respeita os poderes, mas que está distante do poder e que não se concebe a si mesma como poder.
Foi a caminho de Jerusalém que Jesus, exorcizando cerce as veleidades de alguns, tornou bem claro que veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20, 28).
O reconhecimento que a Igreja teve para com o imperador levou a que, inevitavelmente, sufragasse muitos dos seus actos. Até a pena de morte chegou a ser justificada.
Só que, além de funcionar como suporte do poder, a Igreja também se foi estruturando a si mesma num sistema de poder.
4. Na hora difícil que a humanidade atravessa, a Igreja de Jesus não pode ser mais uma carga. Ela só tem sentido se constituir, como Jesus, um alívio de todas as cargas (cf. Mt 11, 28-30).
O grande problema não é a culpa que, frequentemente, ajudamos a criar. O grande problema é a dor, é o sofrimento, são os dramas sem fim, é a desesperança.
Jesus é o rosto de um Deus que ama apaixonadamente o Homem.
É esse amor que o Homem precisa de reencontrar na Igreja.
Basta o amor, emoldurado pela verdade e ancorado na justiça, e tudo o resto virá por acréscimo.
Só o amor traz a bonança para acalmar as tempestades que se acendem nos corações.
É preciso que cada ser humano perceba que Deus só quer uma coisa: que todos sejam felizes!
«Que alegre este sol. Há Deus. Tivera-O negado antes do sol, não O negaria agora».
Eis o apuro místico que se evola da poesia de Sebastião da Gama.