Quem escuta a sua obra e se delicia com a sua música, de teor assombrosamente divinal, mal imagina o drama em que decorreu a vida de Mozart.
Afogado em dívidas e cercado por invejas e intrigas, os últimos anos da sua existência (que foram só 35) assemelharam-se a um tormento constante.
A última obra que compôs, a pedido de um desconhecido, era tida como uma premonição: «Estou a compor o meu próprio Requiem».
Chegou a convencer-se de que tinha sido envenenado, o que nunca chegou a ser provado.
Mozart teve em António Salieri um rival que, pelos vistos, nunca conviveu bem com a sua genialidade.
Tudo isto levou a que nem depois da morte os detractores parassem. Tudo chegou aos ouvidos do rei austríaco, que ficou sobressaltado.
Avisada, a viúva, Constanze, pediu uma audiência. Precisava de uma pensão, pois tinha seis filhos para criar, dívidas para saldar, mas, acima de tudo, a reputação do marido para defender.
A forma como interveio é deveras reveladora: «Majestade, toda a gente tem inimigos, mas ninguém tem sido mais atacado pelos seus inimigos do que o meu marido, simplesmente por ter um talento tão grande»!
De facto, há quem, habituado às trevas em que mergulhou, não suporte o brilho e faça tudo para atentar contra a luz.
A inveja é, no seu étimo, incapacidade de ver. Tal incapacidade redunda num transtorno que leva à revolta e ao descrontolo.
Um coetâneo de Winston Churchill pressentiu o mesmo quando este lhe pediu opinião acerca do primeiro discurso que fizera no Parlamento.
«Meu caro jovem, disse-lhe, acabaste de cometer o maior erro da tua vida. Fizeste um discurso brilhante. Há pessoas que nunca te vão perdoar isso»!
Parece impossível. Mas, infelizmente, é a mais diáfana das verdades!
De repente, parei, pasmei e inquiri: será que estamos a 1 de Abril?
A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) vai propor um aumento de 30% nas tarifas eléctricas já para Janeiro, ao qual acresce o agravamento do IVA de 6% para 23% nas contas da luz.
Tudo somado, iremos ter um aumento de 47% nas facturas?
Caso para dizer: faça-se luz!
Há quem já não aguente mais!
Depois de ouvir Nuno Crato na RTP, confirmo a impressão que os últimos dias forneceram.
O Ministro da Educação oscila entre as convicções que trazia e as muitas condicionantes que encontrou.
O seu pensamento é habitado pelo essencial: o professor deve concentrar-se no ensino.
A dúvida consiste em saber se as dificuldades vencerão esta oportunidade ou se esta oportunidade acabará por vencer as dificuldades.
Dá, no entanto, para ver que há muitos escolhos a remover. Ainda há nuvens a obscurecer a luminosidade do sol.
Saúde-se a determinação do ministro.
A educação é o sector-chave para ultrapassar a crise e ganhar a aposta do futuro!
... que sejas feliz!
(e diz-te como conseguir em Mat 5, 1-12).
1. Precisamos de fé porque somos viandantes e, na viagem da vida, caminhamos, quase sempre, na obscuridade.
Se tudo fosse claro, se a luz brilhasse permanentemente e não só a espaços, facilmente a dispensaríamos.
Enquanto a eternidade não chega, só a fé compensa a neblina que se atravessa no horizonte.
É para a fé que nos remetemos quando nos acontece aquilo que não prevemos nem explicamos.
Luís Miguel Cintra surpreendeu-se quando se viu a chorar nas Festas da Assunção, em Espanha. Foi percebendo que estava diante de «coisas que terão que ver com um estado de transporte pessoal em que a pessoa se transcende e entra num estado místico».
A fé vale também pela credibilidade dos que a dizem ter. Num tempo de ondulações líquidas, carecemos de referências sólidas. «Desde sempre precisei de exemplos. De santos. Do exemplo de vidas políticas, voltadas para os outros e voltadas e voltadas para Deus».
2. O encenador assume o seu mergulho na dúvida e na incerteza. Sente-se como actor do mistério do mundo» e com um forte «desejo de pensar a vida de forma mais vasta que não a materialista, que se exalte na construção de metáforas ou de espectáculos e também no que se pode chamar fé, crença ou esperança numa transcendência da vida que a torna um mistério inexplicável».
É por esta via que Luís Miguel Cintra entrevê o progresso: «Confio muito mais que, mesmo que não se veja, alguma transformação existirá para a qual eu já contribuí. De alguma maneira, o mundo irá progredir sempre».
Nesta fase da sua vida, sente uma grande necessidade de um pensamento religioso. «Tomo consciência de como ela exsitiu desde sempre, mas quero dar-lhe uma forma mais concreta».
Vê-se «integrado no que se chama a ideologia cristã» e entende que, sem fé, a vida empobrece. «Como é possível não ter fé? Como se pode viver sem necessidade de acreditar em nada a não ser no que é comprovado cientificamente? É deixar escapar uma parte principal da vida».
3. Lamenta que a sociedade, em vez de congregar, esteja a separar as pessoas, deslaçando-as. A sua esperança está focada «numa transformação interior que volte a reunir as pessoas socialmente».
Ao contrário do que foi visado nas auroras revolucionárias, hoje «não existem colectivos, mas pessoas individuais que, por razões completamente diferentes, e maneiras de sentir diferentes, se juntam para um objectivo comum».
O que Luís Miguel Cintra denuncia na Igreja é nem sempre ter fomentado a interpretação individual dos textos. Para ele, «a Igreja não devia impor às pessoas uma unidade tal que despersonalize o envolvimento das pessoas».
Aqui, aproxima-se muito do que defende, por exemplo, Simon Weil, que apela para a escuta (e para a espera) de Deus no silêncio inultrapassável da consciência.
4. A fé não desmundaniza nem desumaniza. «Acreditar em Deus é acreditar também numa parte misteriosa da condição humana. O que me agrada no Cristianismo é a ideia de que Deus Se torna homem». Isto significa que «a forma humana pode conter divindade».
O pensar na morte, neste sentido, ajuda a valorizar a vida dos outros. «Fico a gostar mais da vida, porque gosto do que as outras pessoas vivem e fazem. Há uma espécie de corrente que transcende o destino individual e que se vai prolongando entre gerações. O que vivi provoca mais vida».
A fé é, afinal, um fluxo vital que nem a morte detém.