Escrevo rapidamente o que é possível contar para melhor me concentrar no que não posso dizer.
Que é muito mais. Incomparavelmente mais. Infinitamente mais...
A vida raramente é uma estrada em linha recta. É quase sempre, como todos nós sabemos, um caminho curvilíneo, uma subida íngreme, um percurso agreste.
Nas curvas desta viagem, sabemos o que temos, mas nem sempre conseguimos saber com o que contamos.
É fundamental olhar em frente. Mas não podemos deixar de olhar para o lado nem para trás.
Afinal, ninguém anda sozinho neste itinerário da existência.
Para um político, nem sempre a sua análise é convertível em decisões. É pena quando as análises, sendo boas, não são aplicadas. Só que as decisões são tomadas em base em compromissos e as acções carecem de articulação.
Tudo isto configura uma situação complexa. Às vezes, o óptimo tem de ser trocado pelo bom e até o bom é torpedeado pelo sofrível.
É neste sentido que continuo a pensar que o Prof. Nuno Crato é das pessoas com melhor preparação no campo da educação.
O seu pensamento é correcto. Os seus textos deixaram sempre um halo de entusiasmo em muitos espíritos.
Só que, agora, ele não está sozinho. E aquilo que é uma vantagem também constitui uma condicionante.
As estruturas tanto são um apoio como podem configurar um entrave. E, no limite, mais vale avançar devagar com muitos do que, apressadamente, com poucos ou nenhuns.
Continuo persuadido de que a reforma da educação é a pedra angular da superação da crise.
Nuno Crato precisa, nesta sua missão (diria) homérica, de algo que, em política, não costuma ser concedido: tempo.
Também precisa de vontade política. E, aí, parece-me que as barreiras são muitas e não me refiro só ao memorando da troika.
Nós estamos a olhar para o instante, para este instante.
Não deixemos, entretanto, de olhar para o horizonte mais largo.
A educação é a prioridade. Do seu êxito depende o futuro. Apesar de tudo, não desistamos de acreditar.
O presente é tão desalentador que o futuro só pode ser melhor!
É certo que é no contacto com as pessoas que encontramos as maiores desilusões. Mas é também aí que deparamos com as mais saborosas experiências.
Tal ocorre sobretudo na abertura entre gerações. De facto, as idades confinam. Não se devem enquistar.
Com os mais novos vamos rejuvenescendo. Com os mais idosos acabamos por amadurecer.
Nem na solidão estamos totalmente sós!
Um mestre de vida espiritual perguntou aos seus discípulos se sabiam onde acabava a noite e começava o dia.
Um deles disse: «Quando vemos um animal à distância e podemos distinguir se é vaca ou cavalo».
O mestre disse imediatamente: «Não!»
Os discípulos replicaram: «Então é quando vemos uma árvore à distância e conseguimos distinguir se é figueira ou laranjeira».
O mestre repetiu: «Também não!»
Os discípulos insistiram: «Então quando é?»
O mestre finalmente explicou: «Quando vedes o rosto de um homem e reconheceis nele um irmão; quando vedes o rosto de uma mulher e reconheceis nele uma irmã. Se não fordes capazes disso, qualquer que seja a hora, ainda é noite!»
A Teologia diz respeito ao que há de mais envolvente e apaixonante na vida. Porque, ao ser (tentativa de) discurso sobre Deus, torna-se (tentativa de) discurso sobre a vida, o homem, o mundo.
A atmosfera é sempre uma teosfera que religa o que, aparentemente, está mais distante: o céu e a terra, a eternidade e o tempo, a morte e a vida. Nada se dilui nem dissolve. Tudo se integra e acolhe.
A Teologia pertence pois ao que há de mais englobante. Mobiliza a razão, mas não descarta a emoção. Faz-se Teologia a escrever. Mas pratica-se Teologia (sobretudo) a rezar, a sofrer e também a chorar.
Ela é, verdadeiramente, scientia amoris (ciência do amor). No amor está tudo. Por isso é que ele nunca acaba.
Temos é de o tornar presente a partir do seu cume, a partir da Cruz, donde ele escorre, a jorros, pelo mundo inteiro. Enfim, a Teologia é tudo. E tudo é Teologia.
É a crise que provoca a desesperança ou é a desesperança que provoca a crise?
Assim sendo, que importa fazer primeiro: vencer a crise para recuperar a esperança ou recuperar a esperança para vencer a crise?
Não esqueçamos o legado de Teillard: «O futuro pertencerá àqueles que derem ao mundo um pouco de esperança». Um pouco que seja já é bom, muito bom.
O crente tem de ser um esbanjador de esperança. E a Teologia terá de se posicionar, cada vez mais, como docta spes (douta esperança), como spes quaerens intellectus (a esperança que se procura entender, que se procura dizer).
Ninguém tem a idade que tem.
Todos temos a idade do universo. Se não estivéssemos no passado, teríamos presente? Ou futuro?
Por isso, se, em nome do futuro, subestimamos o passado, corremos o sério risco de o comprometer, de o amputar. O passado faz parte do futuro. Foi no passado que o futuro começou.
Conta Antonhy de Mello que houve um incêndio em casa de um homem que dormia profundamente.
Tentaram trazê-lo para fora através da janela. Não deu. Tentaram retirá-lo pela porta. Também não deu. Ele era muito grande e pesado. Já à beira do desespero, alguém sugeriu: «Acordem-no e ele sairá por si mesmo».
Aceita a realidade como ela é. E desfruta.
Ajuda a transformar a realidade como Deus a quer. E não desistas.
O primeiro é o conselho dos (inumeráveis) livros de auto-ajuda, que tanto por aí proliferam.
O segundo é o imperativo do Evangelho.
O primeiro parece dar mais facilidade. Mas só o segundo conduz à felicidade.
O crente tem de ser sempre um sereno inconformista, alguém que cultiva a paz da permanente inquietação.
O que nos constrange hoje é, acima de tudo, a falta de horizontes.
O imediato é o terreno do nosso trabalho, mas não pode ser o limite das nossas esperanças.
A vida precisa de um projecto mobilizador e nem a morte nos há-de tolher.
O Padre António Vieira, uma espécie de Bach da literatura, disse que «a morte tem duas portas: uma porta de vidro, por onde se sai da vida; e uma porta de diamante, por onde se entra na eternidade»!
Apesar das sombras, procura ver.
Apesar da ansiedade, procura esperar.
Apesar das dúvidas, procura acreditar.
Apesar das lágrimas, procura sorrir.
Apesar da certeza da morte, procura viver.
Apesar do sofrimento, procura ser feliz.
Transforma o cinzento em azul, a obscuridade em luz, o torpor em ânimo, o desencontro em harmonia, a violência em paz.
Hoje é o dia mais importante. Porque é hoje.
Um bom dia.
Dizem estudos recentes que 40% da população europeia tem problemas de saúde mental.
Tendo em conta que este género de patologia se repercute nas pessoas mais próximas, podemos inferir que, pelo menos, 80% da população do continente está afectada.
Dá que pensar. A Europa está doente?