Uma coisa é ser mais pobre (Quaresma será mais pobre que Ronaldo, mas, mesmo assim, é rico), outra coisa é ser pobre: não ter para o essencial.
À luz do que disse Georg Simmel, somos pobres quando não temos meios para aquilo que pretendemos. Só que as pretensões são oscilantes.
Daí que pobre, na verdade, seja aquele que não tem para o que precisa: pão, casa, vestuário.
A simplicidade não é tida em grande conta. Achamos que a pessoa simples é ingénua, inferior. Só que ser simples é ser autêntico, transparente. É não ter medo de si mesmo.
Hoje, temos medo de tudo e de todos, a começar por nós. Daí que as palavras escondam o que somos, do mesmo modo que as roupas ocultam o que temos.
Nas romarias, fazemos figura do que não somos: ricos.
Andamos por fora a exibir uma felicidade que não sentimos e a expor uma alegria que não temos.
As próprias roupas que usamos nas ocasiões mais solenes pretendem mostrar uma identidade diferente. Mas dá para ver como é tudo vaporoso, artificial.
Pode ser tudo muito vistoso, mas soa tudo a falso. A simplicidade é, definitivamente, o melhor adorno.
O trauma do fim das férias não está tanto no reencontro com o quotidiano. Está sobretudo no regresso a nós.
Mas só seremos felizes quando formos iguais a nós em toda a parte. Sem arrebiques nem ostentações.