E se, afinal, a crise até for algo positivo?
Não esqueçamos que uma crise é sempre bipolar: encerra tanto de perigo como de oportunidade.
É possível que as privações por que vamos passar nos levem a um estilo de vida mais despojado, mais contido, mais partilhado.
Não tivemos na devida conta que, nos tempos ditos de prosperidade, houve quem não tivesse acesso ao essencial.
Muitos limitaram-se a desfrutar, a consumir.
Talvez esta seja uma oportunidade para descobrir que, afinal, há mais vida para lá do ruído, para lá do consumo.
Importante é não estiolarmos diante das dificuldades.
Já há quem esteja a reagir perante o peso dos exames que o governo se prepara para implantar.
O ensino, de resto, comporta-se como um retrato epifânico do país.
Quando existe uma dificuldade, não devemos ficar a bradar contra a dificuldade. Todo o nosso esforço deve consistir em ultrapassá-la, em vencê-la.
Os exames são um risco. Mas o que é a vida senão um risco. E não será que vale a pena correr esse risco?
Sem desdouro para a avaliação contínua, o exame mobiliza a capacidade de fazer uma síntese e de preparar a mente para responder ao inesperado.
Não raramente, um exame até acaba por favorecer quem trabalha.
Neste momento, a cotação de um exame nem sequer é de 50%.
Há que acreditar que os problemas existem para serem vencidos e não para nos vencerem.
Os resultados dos exames destapam uma situação que é importante destacar. Eles não revelam ausência de capacidade. Eles patenteiam, sim, falta de atenção.
A sabedoria começa (avança e, quiçá, culmina) na atenção, na concentração.
É por isso que este tempo (para muitos, de férias) devia favorecer uma cultura alternativa e não uma cultura meramente redundante.
A alma humana precisa de silêncio. Cresce no silêncio.
As dificuldades não serão invencíveis. Até poderão fortalecer-nos.