A mesma figura é muito conservadora para os progressistas e demasiado progressista para os conservadores.
Para uns, determinada posição não defende convenientemente a tradição e, para outros, não se abre devidamente à modernidade.
Subjaz a este tipo de análise uma hermenêutica sistémica.
Como a Igreja tem um percurso de séculos, há uma panóplia de elementos que matriciam os julgamentos.
O que mais impressiona é a hostilidade que pervade este género de comentários.
Irmãos na fé são tratados como se de adversários se tratasse.
Ainda assim, é preciso reconhecer que é maior a animosidade dos meios conservadores. Não falta até quem ameace com processos. E, o que é mais espantoso, nem o próprio Papa parece escapar uma avaliação severa.
Logo Bento XVI que tanto se tem empenhado em restaurar a tradição. Mas só porque vai a Assis para um encontro com outras religiões ou porque se declara em linha com o Vaticano II, chovem todos os pronunciamentos inclementes.
Tudo isto pretextaria uma intervenção profunda. Mas quer-me parecer que há pouco Evangelho, pouco Jesus em tudo isto.
Mais que sequenciadores de uma tradição (respeitável, sem dúvida), somos seguidores de Jesus de Nazaré.
É pela Igreja que vemos Jesus. Mas é sobretudo por Jesus que temos de rever a Igreja. Sem dramas. Mas com lucidez e humildade.
O mundo está à espera que lhe levemos um pouco de esperança. E isso só se consegue com a ressonância testemunhal das Bem-Aventuranças.