A Europa tem futuro, mas tem mais passado.
É isto que explica que a realidade acabe sempre por se sobrepor ao sonho.
É isto que explica, concretamente, que um economista da Alemanha afirme não querer que os alemães sustentem os portugueses e os gregos.
Frases como esta sinalizam, supremamente, a fragilidade do projecto europeu.
Ainda não foi possível criar uma identidade europeia. As nacionalidades são mais fortes.
Seria de esperar que a filosofia de base fosse esta: europeus apoiam europeus, seres humanos ajudam seres humanos.
Na América do Norte, foi possível estabelecer uma federação porque, entre outros motivos, havia pouco passado e muito futuro.
Apesar da crise que também por lá se sente, as sinergias funcionam e os estados que estão melhor auxiliam aqueles que estão em maior apuro.
A Europa tem caído sempre diante do seu passado.
O sonho da unidade europeia é uma constante.
Começou por ser intentado no plano espiritual sob a égide do Catolicismo. Mas surgiu a Reforma e uma clivagem cultural marca o norte protestante e o sul católico.
No século XX, a Europa avançou para a unidade em nome do que não queria: a guerra.
Mesmo assim, tal determinação embateu inicialmente na resistência anglo-saxónica. Vencida esta, uma nova frente se abriu: a moeda única. Uma vez mais, a unanimidade não foi conseguida. O Reino Unido não quis aderir ao euro. Outros, como Portugal e a Grécia, mostram não terem grandes condições de permanecer no euro.
Como explica Pedro Bidarra, a realidade triunfa sempre sobre a ideia.
O futuro acena. Mas o passado continua a condicionar.
Conseguirá, alguma vez, a Europa sobreviver a si mesma?