A relação com Deus não desestrutura o humano.
Deus, porque é Deus, nunca desumaniza. Ele é, como afirmava Edward Schilebeekx, o futuro e a plenitude do homem.
É, enquanto homem, que o homem chega a Deus.
Daí a pertinência da observação de Maria Filoménica Mónica O seu afastamento da religião deve-se ao facto de não conseguir aceitar que alguém pense por si mesma, em vez de si mesma.
Isto trouxe-me à lembrança uma conhecida parábola de Lessing. Dizia, mais ou menos, o seguinte.
Se Deus me ofecerer, na Sua mão direita, a verdade e, na Sua mão esquerda, a vontade de descobrir a verdade, eu agarrar-me-ia à Sua mão esquerda.
Ainda que errasse e errasse constantemente, ainda que me perdesse no caminho, não hesitaria em agarrar-me à mão esquerda de Deus para Lhe dizer: «A verdade, a verdade pura, és Tu, só Tu».
No fundo, na procura já existe encontro. É na procura que nos sentimos pessoas. E na procura dificilmente fugimos à verdade do encontro e ao encontro da verdade.
É quando nos recusam a condição de pessoas, é quando decidem por nós, que mais facilmente podemos fugir.
No limite, é preferível um equívoco na procura a uma verdade na imposição. Uma verdade imposta nem sequer respeita o estatuto de verdade.
A verdade é um evento da liberdade. Da liberdade de quem procura. Da liberdade de quem se deixa procurar.