Há, hoje em dia, quem escreva muito e quem escreva bem. Mas não há muita gente que escreva muito bem.
O alerta vem de Nuno Júdice, uma das vozes mais esclarecidas do panorama actual da literatura portuguesa: «Talvez haja um problema de falta de qualidade da escrita nas gerações mais novas».
A excelência acaba por vir sempre ao de cima. Mas, até lá chegar, é preciso fazer uma triagem muito aturada porque o que assoma à superfície, com tiques de popularidade, não facilita o discernimento.
Penso que a literatura devia fazer parte de todos os estudos, inclusive dos científicos.
É pavorosa a pobreza da linguagem em muitos dos intervenientes que comandam, actualmente, a vida pública.
A velocidade com que os grandes nomes são esquecidos parece directamente proporcional à rapidez com que, em vida, eram vitoriados.
Quem fala, hoje, de José Cardoso Pires, de Alexandre O'Neill, de Vitorino Nemésio, de Augusto Abelaira, de José Gomes Ferreira, de Ruy Cinatti, de Ferreira de Castro ou de Vergílio Ferreira e de Miguel Torga?
Mas até acerca dos consagrados das nossas letras ergue-se um silêncio tumular.
De Pessoa e de Eça ainda se fala. O Padre António Vieira vai merecendo umas alusões. Mas quase se passa uma esponja sobre Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
O Acordo Ortográfico é um sintoma. O português de referência é menos o destes mestres do que aquele linguajar que se ouve nas ruas e se multiplica, anarquicamente, pelas redes sociais e pela imprensa.
Sinal dos tempos!