Os partidos têm os seus defeitos, mas, mesmo com os seus defeitos, são essenciais para a democracia.
É importante, por isso, que sejam estimulados a melhorar o seu serviço e a optimizar os seus recursos.
Não há dúvida de que, quando se pensa em partidos, pensa-se em poder.
É inevitável que cada força partidária esteja focada na forma de chegar mais depressa ao poder e de se estabilizar, duradouramente, no poder.
Isso não impede que se reflicta sobre a sua matriz, identidade, vocação.
A elevada abstenção não indica apenas alheamento da vida política. Pode identificar também um segmento inexplorado de um eleitorado potencial. Trata-se, porventura, de cidadãos que estão à espera de ser convencidos. Por atitudes convincentes.
Eis, portanto, uma passagem que se abre: da desilusão à expectativa.
O PS entrou em processo de escolha de uma nova liderança.
Ainda que tal não seja verbalizado, é natural que a preocupação seja pensar naquela pessoa que melhor pode assegurar o regresso ao poder.
E o que está em discussão, para já, são nomes.
Seria bom que, a montante e a jusante deste debate, se fizesse um outro.
O PS é um partido estruturante do nosso regime democrático. Pugnou pela liberdade e liderou a entrada de Portugal na Europa. Tem no seu código genético uma referência de primeira grandeza como Antero de Quental.
Num tempo de esbatimento das ideologias, também o PS foi invadido, como é compreensível, por uma certa deriva tecnocrática. O pragmatismo assim o terá ditado.
Mas nota-se também uma grande nostalgia pela tradição humanista que este partido sempre mostrou. Tal tradição humanista levou a que, a certa altura, o PS atraísse não apenas os cultores do socialismo democrático, mas também paladinos de outros ideais como a democracia cristã.
O personalismo deixou de ter porto de abrigo na actual paisagem político-partidária. É por isso que as pessoas passam facilmente da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
Esta volatilidade pode agilizar o sistema, mas acaba também por certificar o esboroamento do tecido programático dos partidos.
Nestas eleições, quase não se falou de socialismo, de social-democracia ou de democracia cristã.
Os tempos são outros e as coisas mudam. O problema não é tanto a falência das ideologias, mas a ausência de ideais.
Os nomes que se perfilam para a liderança do PS avultam pela capacidade oratória, pela gestão das equipas e pela capacidade de adaptação aos novos tempos.
Mas não haverá alguém que consiga revitalizar a génese humanista, solidária e altruísta do socialismo democrático?
Quererá o PS gerar uma alternativa ou estará mais empenhado em preparar uma alternância?
Desta vez, o PS vai ter algo que costuma faltar: tempo.
E o tempo pode oferecer a moderação, a sensibilidade e a esperança de que todos precisam.