Não foi só o PS a ser superado pela Oposição. Foi sobretudo o Governo a ser vencido pela Realidade.
A maioria dos votantes e a quase totalidade dos que não votaram disseram, antes de mais, o que não queriam.
O povo não quer mais austeridade. Está saturado de tanta austeridade.
Acontece que aquilo que as pessoas não querem é muito diferente daquilo que as pessoas acabaram por aprovar.
No fundo, ontem foi aprovada a continuação da austeridade. A tal austeridade que as pessoas não querem.
Daí que a realidade, que derrotou os vencidos, possa, daqui a algum tempo, derrotar os vencedores.
Vai haver alternância, mas pouco espaço haverá para a alternativa.
Há, entretanto, um mínimo que se espera. Que se fale verdade. Que não se negue a realidade. Que se aposte na justiça. Que se olhe para quem vive em dificuldade. Que haja desapego em relação ao exercício de cargos públicos.
Que o novo poder não faça do poder anterior pretexto para as coisas que não correrem bem. Que o novo poder encontre um suplemento de alento para que as coisas possam correr melhor.
O memorando da troika não deixa muito espaço de manobra. Mas pouco será limitar-se a fazer de outro modo o que já estava a ser feito.
O tempo já não é de culpas nem de desculpas. O tempo é de acção, de união e de seriedade.
Acabem-se os juízos sobre os erros do passado. Unamos esforços na construção do futuro.
Para já, parece sombrio. Cabe-nos dar-lhe motivos para reaprender a sorrir.