Quem acompanha minimamente a campanha eleitoral nota como se desmorona, uma vez mais, a esperança de ver ubiquar o sonho de Platão na política portuguesa.
Defendia o filósofo grego que o governo da cidade devia ser assegurado pela razão. E a razão seria corporizada na pessoa do rei-filósofo. Ou seja, o governante devia ser, fundamentalmente, sábio.
Muitos séculos depois, porém, Immanuel Kant desfazia qualquer ilusão a este respeito: «Não é de esperar que os reis filosofem ou que os filósofos se tornem reis, pois a posse do poder corrompe, inevitavelmente, o livre juízo da razão».
Hoje em dia, os sábios já não se candidatam à governação. E, pelos vistos, os governantes já não aspiram à sabedoria.
É uma lacuna grave. Não só política. Mas também cívica.
Na hora que passa, tudo se resume ao dinheiro. Ele é a solução. Só que também é o problema. Estranho?
Reparem.
Vamos receber 78 mil milhões de euros. Parece ser a solução. Mas, só de juros, vamos pagar quatro mil milhões de euros por ano. Não será um grande problema?
Precisamos de competência para gerir esta conjuntura. Mas do que necessitamos verdadeiramente é de sabedoria para vislumbrar um desígnio comum, um rumo alternativo, uma esperança mobilizadora.
Estamos apreensivos quanto ao futuro, mas não queremos aprender com o passado.
E já Alexis de Tocqueville alertava: «Desde que o passado deixou de projectar a sua luz sobre o futuro, a mente humana vagueia nas trevas».
Tudo vai vagueando no espaço mediático com grande espectacularidade. Uma aurea mediocritas parece ser o passaporte mais viável para o êxito imediato.
A sabedoria fica à porta, escondida. Pagaremos um preço cada vez mais elevado pela conivência, que todos acabamos por manifestar, para com o desfilar da propaganda com muito ruído e nula substância.