1. Cresce, a olhos vistos, o encantamento de muitos cristãos pelas religiões orientais, sobretudo pelo Budismo.
Mas o mais curioso é que o seu objectivo não será tanto tornarem-se budistas, mas serem melhores cristãos.
Pode parecer estranho, mas não falta quem reencontre na tradição budista o que não consegue encontrar em muitas instituições cristãs: a vivência da mensagem de Jesus.
Há, sobretudo, dois valores que Jesus propõe e que o Budismo deixa transparecer com especial luminosidade: a paz e a compaixão.
Ali vão, pois, cultivar a paz no interior e, ao mesmo tempo, crescer na compaixão para com os outros.
2. Não falta, aliás, quem defenda que esta interacção entre o Cristianismo e o Budismo vem das origens.
Alguns alegam mesmo que o próprio Jesus terá tido contacto com a sabedoria budista.
É possível que, antes de começar a Sua vida pública, tenha conhecido vários povos.
Em finais do século XIX, o investigador Nicolas Notovitch andou pelo Tibete e por lá ouviu falar de um Santo Issah.
Sucede que Issah seria o correspondente oriental de Jesus. No mosteiro budista de Himis, há documentos que falam da passagem desta figura por lá.
E o certo é que Santo Issah era uma figura venerada pelos budistas.
3. Já no século VI, mais ou menos quando Maomé iniciava o Islão, um pequeno grupo de monges cristãos percorreu a rota da seda desde a Pérsia até à China.
Acolhidos pelo imperador, traduziram para mandarim os textos sagrados que tinham transportado ao longo de cinco mil quilómetros.
Ao traduzir, procuraram integrar e foi assim que involucraram os ensinamentos de Jesus em princípios do pensamento oriental, de pendor budista.
Tendo mudado o ambiente, que passou a perseguir cristãos e budistas, muitos desses manuscritos (a que deram o nome de sutras, do sânscrito fio) foram escondidos numa gruta.
Foi aí que, em 1900, um monge taoísta os redescobriu. Ray Riegert e Thomas Moore compilaram parte desses ensinamentos num volume a que deram o (apelativo) título de Os sutras perdidos de Jesus.
Aqui palpita uma harmonia que, muitas vezes, se perdeu confirmando a percepção, vertida no livro, de que «quem conhece apenas uma religião não conhece nenhuma religião».
Também nestes textos ressoam algumas das mensagens principais de Jesus: a compaixão, a misericórdia, a bondade e o amor.
Diz Jesus nesta tradução sútrica: «Com respeito por todas as outras criaturas vivas, ajam sempre com bondade e nunca tenham pensamentos cruéis».
Um dos preceitos do Sermão da Montanha recebe uma curiosa reformulação: «Procurem o que é puro. A pureza é como um espaço vazio, produz a luz do amor cujo brilho ilumina tudo».
4. Tudo isto revela um potencial enorme, mas que, por vezes, teima em continuar inexplorado pela vertigem descaracterizadora em que, não raramente, nos deixamos atolar.
Estará lá fora o paradigma que perdemos cá dentro?
Por outro lado, esta osmose inter-religiosa atesta que no diferente poderemos redescobrir a nossa identidade: como pessoas e como crentes.
No fundo, é sempre possível aprender com os outros a sermos nós próprios.
Não há problema nenhum em mudar. Se todo o mundo é composto de mudança, a religião não deixará de mudar.
O mais importante é a profundidade da mensagem e o alcance dos gestos. De todos os pontos é possível ver Jesus. Nenhum nos desaponta.
Jesus é mesmo o universal concreto. Ele está em tudo.
E, às vezes, os que consideramos mais distantes em relação a Ele até podem ser os que estão mais perto d’Ele: da Sua mensagem, da Sua vivência, do Seu amor, da Sua paz.