O Concílio Vaticano II empenhou-se em ler os sinais dos tempos, expressão sábia que remete para algo essencial, determinante.
Perceber os sinais que cada tempo emite é, por isso, um sinal de sensatez e de fidelidade.
O tempo não é o espaço da dissolução, mas é o terreno da mudança.
Por muito que queiramos, não temos vinte anos quando completamos cinquenta.
Restaurar o passado quando se caminha para o futuro pode ser um sonho legítimo, mas é uma opção impossível.
O tempo é o caminho para o espírito. Nesse caminho, há lugar para o antigo e para o novo, para o antes e para o depois.
O presente, como dizia Zubiri, é transcorrência, uma espécie de transporte do ontem para o amanhã.
Cada época nunca pode ser a mera continuidade da época anetrior. Cada tempo emite os seus sinais.
A grande inspiração do Concílio foi não andar para trás. O passado continua a ser uma referência, mas a inspiração é a origem.
Refontalizar, palavra fecunda na trajectória conciliar, é voltar à fonte para melhor continuar o caminho.
É a partir da fonte Jesus que o Concílio propôs um encontro com o moderno. Impressiona, pois, que ele tenda a ser aplicado, por vezes, em sentido pré-moderno.
O Concílio foi um caminho aberto, que não pode ser interrompido. A renovação da mensagem é inseparável de uma reforma das estruturas.
O importante é que a Igreja se repense e se reforme incessantemente a partir de Jesus e de cada época em que se encontra.
O despojamento, a humanidade, a clemência, a bondade e a opção pelos pobres terão de estar na linha da frente.
A fidelidade não é apenas doutrinal. Tem de ser também iconográfica.
A simplicidade de Jesus tem de resplandecer mais na Igreja de Jesus.
O povo continua a ser crente, mas é também cada vez mais crítico.
Certos posicionamentos doutrinais partem do princípio de que os outros são adversários e que nós temos uma espécie de direito de propriedade sobre a verdade.
Urge repor a liberdade à cabeça de tudo. Onde há poder, fenece a liberdade e decai a afirmação da verdade. É que o medo condiciona e pode mesmo bloquear.
Jesus foi, além de claro, muito simples.
Voltar às Ben-Aventuranças e ao Mandamento Novo é uma opção que tem tudo para (re)mobilizar tantas vidas sedentas de sentido.
A Igreja é chamada a estar com os pobres, os que choram, os que constroem a paz, os puros de coração, os perseguidos.
Para quê tantas leis se uma única lei tudo resume: o Amor?