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Quarta-feira, 11 de Maio de 2011

O regresso do Cristianismo a Cristo não passa só pela doutrina.

 

A fidelidade a Jesus não consiste apenas na repetição do que Jesus disse. Consiste sobretudo na imitação do que Jesus foi.

 

A humildade, o despojamento, a simplicidade e a opção preferencial pelos pobres estão inscritos no código genético do seguimento de Cristo.

 

A ostentação, a sobranceria e a proximidade com o poder criam uma fricção.

 

Às vezes, há o sério risco de um afastamento do Cristianismo em relação a Cristo.

 

Há configurações que se distanciam da identidade.

 

Subsiste, por vezes, a impressão de que há um desfasamento entre o que o Cristianismo é e aquilo em que o Cristianismo se tornou.

 

Uma das diferenças mais notórias tem que ver com a pluralidade e a integração do diferente.

 

Parece que a unidade resulta mais da imposição de um centro do que do acolhimento de muitos pontos.

 

No princípio, notava-se uma coexistência entre várias formas de organização. Até a designação dos servidores das comunidades era variada. Não havia qualquer problema com isso.

 

A posição que não venceu no Concílio de Jerusalém (que pretendia que todos os cristãos passassem pela circuncisão) não foi estigmatizada.

 

Os vencidos não foram expulsos. Não houve anátemas.

 

Infelizmente, as épocas seguintes nem sempre se deixaram iluminar pela luz das origens.

 

Ainda hoje, quem lê (e ouve) posições conservadoras e posições progressistas fica com a sensação de que o maior adversário é um irmão na fé.

 

Há algum progressismo que parece dissolver a fé na simples moda de cada época. E existe um certo conservadorismo que entricheira a fé, recusando a menor abertura aos sinais dos tempos.

 

Acresce que esta animosidade interna está polarizada em torno de querelas doutrinais, rituais e disciplinares. Ou seja, fala-se muito de problemas institucionais e pouco em Jesus.

 

Não raramente, o que se torna central são conceitos e afirmações que não vêm de Jesus.

 

Tudo isto são sinais de que a história está longe do fim. E não faria mal, em muitos pontos, regressar às origens.

 

Cristo é a cabeça do Cristianismo. O Cristianismo não é a cabeça de Cristo.

publicado por Theosfera às 23:30

Um discurso não pode valer apenas pelo ornamento retórico. A sensatez do conteúdo deve prevalecer sobre a estética da forma.

 

Daí que seja preciso ter cuidado com quem fala demasiado bem.

 

Não se trata de estigmatizar a arte de bem dizer. Trata-se, sim, de introduzir alguma cautela no discernimento.

 

A demagogia tem uma especial apetência pela retórica.

 

Sem uma forte componente ética, um bom discurso pode ajudar não a revelar, mas a esconder.

 

Um bom discurso tanto pode ajudar a difundir a melhor ideia como pode ajudar a publicitar o pior projecto.

 

Hitler, embora não muito dotado intelectualmente, era mestre no manuseio da palavra.

 

Os seus discursos eram inflamados e envolviam as assembleias, suspensas do que ele dizia.

 

O discurso do rei faz-se eco desta apreciação. O que Hitler dizia era mau. Mas era bem dito.

 

Ele não se fazia rogado e conseguia enlear até os sectores mais imprevistos.

 

Muito gente não saberá, mas houve um bispo que escreveu um livro acerca dos fundamentos do nacional-socialismo. No fundo, pretendia dar-lhe um enquadramento teológico.

 

Alois Hudal, assim se chamava o prelado, perguntava na introdução: «Não terá o Nacional-Socialismo trazido ao povo alemão uma ideia boa e válida para que o apoio ao movimento com uma atitude religiosa positiva seja não só desejável como absolutamente necessário?».

 

Como ponto em comum entre católicos e nazis, o antístete apontava a mesma convicção na obediência cega à autoridade.

 

É claro que Roma não concordou e o próprio Papa Pio XI fez sérios reparos à obra. E, apesar da simpatia inicial de Hitler (leitor compulsivo), o nazismo também não apreciou por aí além esta injecção de catolicismo na sua ideologia.

 

O que importa realçar é o perigo. Até as piores ideias podem contagiar quem menos se pensa.

 

O poder nunca deixou de suscitar uma teologia subserviente. Pela palavra. Ou pelo silêncio.

publicado por Theosfera às 11:22

Numa altura em que tanto se compete no uso da palavra, talvez não fosse inoportuno reflectir sobre a importância do silêncio.

 

É claro que não é fácil encontrar a medida justa. À semelhança de Gregório Magno, já todos nos arrependemos de ter calado quando deveríamos falar e de ter falado quando nos deveríamos calar.

 

Post factum, sabemos melhor. Mas não há dúvida de que o silêncio pode ser tão eficaz como a palavra. Perceber a sua oportunidade é o segredo da sabedoria.

 

Tendo sido Winston Churchill tão expedito no uso da palavra, há um episódio em que o seu silêncio se revelou determinante: para a sua carreira, para o seu país e até para o mundo. Santana Castilho faz-se eco deste caso num texto que assina no Público.

 

Quando Chamberlain compreendeu que não era o primeiro-ministro adequado para liderar o Reino Unido na guerra, escolheu, como era tradição no partido conservador inglês, o seu sucessor: Lorde Halifax.

 

Mas Chamberlain queria um governo forte e sabia, por isso, que era indispensável que Churchill fizesse parte do elenco. Convocou-o e disse-lhe:

- Halifax é o melhor, mas temos necessidade de si. Aceita ser o número dois?
 
Churchill, por patriotismo e por dever, disse que sim. 
 
Horas depois, Lorde Beaverbrook, magnata da imprensa inglesa, pediu a Churchill para o receber com urgência e disse-lhe:
- Não é possível! Aceitou que seja Halifax o primeiro-ministro?
 
Churchill respondeu que se tratava de um assunto de Estado e que não seria curial discuti-lo com ele. Beaverbrook insistiu. Churchill respondeu que não tinha outra saída. E Beaverbrook voltou à carga:
- É um crime contra a Nação! Só você poderá mobilizar a Grã-Bretanha.
 
No fundo, Churchill concordava com Beaverbrook. Mas objectou que tinha dado a sua palavra e que não voltaria atrás. Então, Beaverbrook disse:
- Peço-lhe, ao menos, uma coisa. Quando for convocado por Chamberlain, com Halifax, e Chamberlain lhe perguntar se confirma a sua aceitação, fique em silêncio durante três minutos. Três minutos completos. Em nome da Inglaterra, peço-lhe!
 
Churchill achou isto impertinente e não viu como isto poderia mudar a situação. Mas, como tinha amizade e estima por Beaverbrook, prometeu-lhe que o faria.
 
No dia seguinte, Churchill e Halifax encontraram-se no gabinete de Chamberlain, na Dowing Street. Chamberlain pediu a Churchill:
- Pode confirmar, se faz favor, a Lorde Halifax, que aceita fazer parte do seu governo?
 
Churchill ficou calado. Passou um minuto, e Churchill continuava em silêncio. Minuto e meio depois, Churchill permanecia em silêncio. Ainda não tinham transcorrido os três minutos, lorde Halifax não aguentou, exclamou e saiu:
 
- Creio que é Winston Churchill que deve ser o primeiro-ministro!
 
Não hesitemos em recorrer à terapia do silêncio. Até para recuperar o valor da palavra. O descrédito do discurso começa a ser saturante.
 
Uma palavra só é devidamente acreditada quando é germinada no silêncio.
 
É o silêncio que fermenta a palavra mais sólida.
publicado por Theosfera às 10:19

Disse Martin Heidegger que «a Filosofia fala grego».

 

É, pois, para a Grécia que costumamos olhar quando queremos aprender a pensar.

 

Talvez nunca, como agora, tenha sido importante olhar para a Grécia. Temos de repensar.

 

A Grécia recebeu, há um ano, uma ajuda internacional, cujo balanço não está a ser muito positivo.

 

Os sacrifícios são muitos. A austeridade é brutal. E, não obstante, a dívida cresce.

 

Motivo? A economia decresce.

publicado por Theosfera às 10:12

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