O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 10 de Maio de 2011

Jesus pretendeu uma evolução no judaísmo, mas acabou por ser condenado por ter operado uma revolução.

 

Tal revolução consistia na proximidade de Deus (sem pôr em causa a Sua transcendência) e na igualdade entre todos os homens (sem pôr em risco as diferenças entre eles).

 

Jesus respeitava a lei, mas ia mais além da lei.

 

Era cumpridor, mas não Se mostrava submisso.

 

Advertia, mas não condenava.

 

Era assertivo, mas não transigia com a violência. Nem para Sua defesa.

 

Era aberto, mas não imparcial. Assumia uma predilecção pelos pequenos, pelos pobres e pelos humildes.

 

Condensou a Sua mensagem num mandamento: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei».

 

O Seu amor por nós foi maximamente ilustrado na Cruz. Deu tudo. Deu-Se todo.

 

No regresso à vida (e na anástase para Deus), disse para que levassem esta mensagem a todo o mundo.

 

O Cristianismo primevo assim procedeu. Espalhou a mensagem. E o impacto foi parecido com o do Mestre: muitos aderiram, alguns litigaram.

 

A revolução de Jesus estava em marcha.

 

A partir de certa altura, houve uma involução, um recuo.

 

O império deixou de perseguir os cristãos. E começou até a perseguir os não cristãos. Não faltou quem justificasse tudo isso. O imperador era visto como o 13º apóstolo. O seu poder (mesmo quando exercido de forma autocrática e prepotente) era atribuído a Deus.

 

Há quem não suporte uma teologia política para defender os pobres sem se importar que haja uma teologia política para apoiar quem oprime os pobres!

 

Para se explicar, o Cristianismo recorreu à filosofia grega. Para se organizar, adoptou o direito romano.

 

A mensagem foi apresentada sob a forma de doutrina. E o amor foi transfigurado em poder.

 

Jesus acolheu sempre o diferente. A Igreja começou a ter dificuldades com o dissonante.

 

Jesus apelava para o amor. No Cristianismo começou a insistir-se no poder.

 

Estes critérios levaram a que se justificasse o injustificável como a inquisição, a pena de morte, a escravatura.

 

Jesus foi sendo lido à luz do sistema eclesiástico. É importante que o sistema eclesiástico seja lido à luz de Jeus.

 

A Igreja proclama Jesus como sendo a luz. Importa que se deixe iluminar por Ele.

 

A revolução de Jesus não pode ser detida pelos que se dizem Seus seguidores. 

publicado por Theosfera às 22:55

O Festival da Eurovisão já não é o que era.

 

A participação portuguesa é que, pelos vistos, continua a ser como (quase) sempre foi.

 

Desta vez, nem sequer foi à final. Salvou-se a luta. E a alegria.

publicado por Theosfera às 22:11

A lógica beligerante que impende sobre a política pode mobilizar algumas massas, mas não serena os espíritos.

 

Clausewitz descrevia-a mesmo como um modo não sangrento de fazer guerra.

 

As campanhas eleitorais costumam ser o zénite deste modo sem modos de fazer política.

 

Vivemos, hoje, uma fase em que precisamos obviamente de clarificação, mas não podemos dispensar a convergência.

 

Há trinta anos, Roger Garaudy fazia notar que «a democracia não é a direita contra a esquerda, nem a esquerda contra a direita. A democracia é cada uma das pessoas e das comunidades participando todos os dias na invenção de um futuro que não é simples prolongamento do passado».

 

O problema é que «o mal vem muito de cima» e rapidamente atinge todas as camadas.

 

Andamos todos deslaçados. Até Garaudy dava conta de que não basta o crescimento económico. Só venceremos a crise «com uma esperança e uma fé».

 

Para ele, «a grande fraqueza dos movimentos revolucionários no Ocidente, no século XX, foi a de se terem separado da fé. A grande fraqueza das igrejas cristãs foi a de se terem separado dos movimentos populares».

 

Segundo Garaudy, a importância da fé reside no facto de ela nos «arrancar ao nosso pequeno eu, aos nossos pequenos interesses, e de nos ajudar a realizar a nossa vida sentindo-nos responsáveis por todos os outros e por todo o seu futuro».

 

Um novo espírito precisa-se. Mais aberto. Mais solidário. Mais inclusivo. Mais com. E menos contra.

publicado por Theosfera às 21:53

O pensamento deve muito a Sócrates. Não quer dizer que antes dele não se pensasse. Só que a moldura do pensamento era diferente.

 

Anteriormente, a pensamento era uma construção. Com Sócrates, continuou a ser uma construção, mas que não dispensava uma desconstrução.

 

Sócrates começou por questionar o estabelecido. Desmontava verdades adquiridas. Por isso, tornou-se incómodo. Pensar, desde o princípio, é um exercício perigoso.

 

Para Sócrates, importante não é agradar ao chefe nem seguir as maiorias. O segredo está no imperativo da consciência.

 

Fernando Savater oferece uma panorâmica muito sugestiva acerca de Sócrates e do pensamento num livro intitulado História da Filosofia sem medo e sem pavor.

 

Pensar é algo muito nobre. Mesmo quando «vem e vai», como poetou o grande João de Araújo Correia. 

publicado por Theosfera às 21:25

Ontem, houve tensão. Hoje, está a haver alguma distenção.

 

Entre José Sócrates e Paulo Portas, notou-se bastante crispação. Predominou a estratégia. O que estava em causa era saber se alguma coligação era possível entre aqueles dois líderes e seus respectivos partidos.

 

Como isso não acontece entre Jerónimo de Sousa e Passos Coelho, foi possível apurar, no debate desta noite, um maior esclarecimento.

 

O clima foi de uma grande urbanidade. Não houve interrupções. Este é o ambiente que eleva o nível da acção política.

publicado por Theosfera às 21:20

O relacionamento entre os povos tende a replicar, como aliás se compreende, as relações entre as pessoas.

 

No fundo, os relacionamentos deixam de ter a feição de encontros para assumirem, cada vez mais, a forma de contratos.

 

Tudo é mercantilizado num jogo de ganhos e perdas, de prémios e punições.

 

A solidariedade não passa de um ornamento retórico que faz aparições fugazes.

 

A ajuda que Portugal vai receber é um caso que merece ser estudado.

 

Não se trata verdadeiramente de um auxílio, já que existe uma forte componente de punição. Basta olhar para as altas taxas de juro.

 

Ninguém está disposto a perder mesmo quando em causa estão povos e pessoas que passam pelo mistério da fragilidade.

 

No fundo e ao contrário do que diz Dostoiévski, a compaixão já não é a lei que predomina na vida pública.

 

Era bom que os políticos e os economistas (e também os cidadãos) lessem os grandes escritores. Até para não perderem as grandes referências.

 

Falta uma asa humanista no voo que nos quer levar para o abismo. Só com um reforço do humanismo conseguiremos sair do pântano.

 

A crise não é só (nem principalmente) económica. A montante e a jusante desta, há uma panóplia de factores a ter em conta. Não lhes percamos o rasto. 

publicado por Theosfera às 16:32

É bom que haja pluralidade. É legítimo que exista divergência. E é até salutar que se coloque intensidade no debate.

 

O que não será edificante é que se emoldure tudo isso num clima de animosidade e num quadro de crispação.

 

Este é o tempo em que a pedagogia é mais necessária e se impõe como prioritária.

 

Acresce que os olhos dos nossos credores estão mais voltados na nossa direcção. Em alguns casos, é a primeira vez que jornais de dimensão mundial olham para Portugal com atenção.

 

E, pelos vistos, a avaliação não está a ser muito animadora.

 

As constantes interrupções, o ataque permanente, a insinuação constante e o ar sobranceiro não são, definitivamente, ingredientes de afirmação democrática.

 

O destempero na linguagem e a agressividade na pose não nos ajudam a crescer.

 

Ainda estaremos a tempo de reacertar no caminho?

publicado por Theosfera às 14:46

Candidato foi uma das palavras que, ontem, se ouviu no debate.

 

O interlocutor queria fazer baixar o patamar. O litigante não estaria ali como primeiro-ministro, mas como candidato. Como ele, aliás.

 

Naquele momento, eram iguais. Ambos eram candidatos. Mas seriam cândidos?

 

Sem menoscabo pela função governativa, talvez até seja uma promoção.

 

Candidato é uma daquelas palavras carregadas de sentido, a que o uso repetido traz alguma banalização.

 

Candidato vem de cândido, que significa branco e evoca, por isso, pureza, lisura, transparência, autenticidade.

 

Isto corresponde, no fundo, ao essencial da vida pública. Que falta faz a candura na política, na sociedade, no trabalho, em toda a parte!

 

Há tanta escuridão a envenenar o nosso dia-a-dia, o nosso relacionamento. Há tanta escuridão entre as pessoas.

 

Candidatos devíamos ser todos nós, cidadãos. Devíamos primar sempre pela alvura, pela brancura dos gestos e não pela escuridão trapaceira dos golpes.

 

O candidato é alguém que, mesmo não se apontando a si mesmo como modelo, procura ter uma conduta exemplar.

 

Infelizmente, nem sempre as palavras são tomadas pela sua significação. Muitas vezes, são percebidas a partir do uso que delas se faz.

 

E não há dúvida de que, para muitos, cândido é alguém bom, mas também ingénuo. Alguém que não engana, mas que se deixa enganar.

 

Ora, o que vemos, hoje em dia, é o oposto de tudo isto. Os candidatos são peritos na astúcia. E vibram por todos os poros quando apanham (ou julgam apanhar) o outro em falso.

 

No tempo que passa, o candidato tem pouco de cândido. Recorre à palavra, mas não lhe absorve o sentido.

 

O candidato pratica a propaganda, torna-se uma figura.

 

A humildade não é o seu forte, o que seria de esperar de alguém tatuado pela candura.

 

Era bom que se relesse O pequeno tratado das grandes virtudes, de André Comte-Sponville. 

 

Não basta exibir o projecto que já se tem e denunciar o programa que outros possam ainda não ter.

 

O ar triunfante pode não ser necessariamente um trunfo.

 

Como era bom que aparecesse alguém que deixasse transparecer o que é ser candidato.

 

Uma candura que não esconda a verdade, que não se refugie em esquemas, que aceite dar a mão e não apontar o dedo é uma conquista que continuaremos a desejar. Por quanto tempo?

publicado por Theosfera às 11:50

Até o sábio fica espantado: «O povo já nem sequer está em choque».

 

Palavras de Eduardo Lourenço para descrever a reacção, aparentemente abúlica, do povo português à crise presente e à austeridade futura.

 

Noutras épocas, a rua estaria em movimento com a estridência dos sons e o eco da revolta.

 

Será que a população está mais madura? Ou não será que uma depressão colectiva se abateu sobre nós?

publicado por Theosfera às 11:25

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