Nem sempre o progresso é sinónimo de crescimento. Como alerta Luís Racionero, o progresso também pode ser sintoma de decadência.
Temos, por isso, de estar de sobreaviso diante de uma espécie de automatismo do progresso.
A escola superior, está, cada vez mais, distante das letras, das humanidades. A pressão do emprego parece criar uma vertigem pelos cursos científicos.
A universidade afasta-se assim, crescentemente, do seu conceito. Ela é o território em que muitas especialidades prosperam. E não o terreno onde as muitas especialidades se poderiam cruzar.
Uma reportagem de hoje realça a queda dos cursos de letras, designadamente da História e da Filosofia.
É pena. A crise nas humanidades é o sintoma de uma cultura pouco humanitária.
Até nas ciências, a interligação com as letras é importante.
Além de especialistas do concreto, precisamos de cultores do universal.
A maturidade articula-se na complexidade. E atesta-se na integração do diferente.
Pessoas de uma só ideia e proprietários de um só saber podem alimentar a ilusão de que tudo está no que aprenderam.
O espírito crítico tende a decrescer e o dogmatismo a aumentar.
A pressa, atiçada pela pressão, gera uma dificuldade acrescida na digestão de um livro, na meditação de uma palavra ou na degustação de um conceito.
O mundo precisa de tudo. A universidade empobrece sem a riqueza que lhe é dada pelas letras.
A própria ciência precisa de outros horizontes de questionamento e de problematização.