O mundo novo já não é só admirável, como pensava Aldous Huxley. É também preocupante e muito perigoso.
Qualquer acontecimento é transformado num espectáculo.
Um espectáculo tem espectadores. Estes tanto podem estar no local como à frente de um televisor.
A comunicação social apresenta qualquer acontecimento sob a forma de espectáculo.
Espectáculo tanto pode ser o casamento real, como a beatificação de João Paulo II, como a morte de Osama Ben Laden.
Os inídicios, aliás, já vinham de algum tempo a esta parte. O desembarque das tropas americanas na Somália, nos inícios dos anos de 1990, foi preparado para a hora dos telejornais.
As comunicações políticas ocorrem, geralmente, às oito da noite. E, esta semana, a intervenção do primeiro-ministro foi às oito e meia por causa do jogo de futebol que passava no canal público da televisão.
Já não é a televisão que vai atrás da realidade. É, cada vez mais, a realidade que vai atrás da televisão.
As pessoas sentem o peso da realidade, mas as suas decisões são cada vez mais condicionadas pelo desempenho televisivo dos políticos.
É tudo muito plastificado e pobre, mas é um sinal dos tempos.
Quem está melhor frente às câmaras acaba por estar em melhores condições de vencer.
Os eleitores assemelham-se cada vez mais a espectadores. O que importa não é a obra, nem a ideia, nem o programa. É a imagem.