O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 28 de Abril de 2011

Diante de uma tragédia como a que, esta noite, ceifou a vida a seis compatriotas nossos nas estradas da França, Deus é imediatamente convocado.

 

João Paulo II, na Salvifici doloris, reconhecia que o sofrimento é não só uma questão colocada a Deus, mas, muitas vezes, contra Deus.

 

O dilema vem da antiguidade. Já Epicuro o enunciava com um brilho perturbante. Uma síntese pode ser elaborada do seguinte modo. Se Deus é omnipotente, porque é que não actua? Se não actua, como é que é Deus?

 

Não raramente, a tendência é tudo remeter para a esfera do mistério. E não há dúvida de que nem a mais elaborada teodiceia consegue oferecer uma explicação cabal para a origem do mal. Nem para o mal físico nem para o mal moral. Porque é que temos de sofrer? Então acerca das crianças, quem não sente um aperto na alma diante do seu sofrimento?

 

Os especialistas, como Walter Kasper, apontam mesmo o protesto contra o mal como uma das variáveis mais poderosas do ateísmo.

 

Andrés Torres Queiruga, na sua mais recente obra, enceta uma reflexão entre a ponerologia e a teodiceia.

 

Para ele, o mal, enquanto carência, decorre da finitude estrutural do mundo. Por muito que nos doa, estamos num mundo finito, imperfeito. Temos de conviver com a contingência.

 

Deus, a partir do testemunho de Jesus, não é uma explicação para a origem do mal. É sobretudo uma presença na luta contra o mal. Inspirando-se em Alfred Withead, Torres Queiruga apresenta Deus como o Anti-Mal.

 

É certo que os problemas não ficam superados nem as perguntas respondidas.

 

Uma coisa é certa. Urge abandonar, de vez, o discurso sobre um Deus que castiga. Como compaginar tal discurso com a imagem de um Deus Pai?

 

Um Pai nem sempre consegue impedir o sofrimento dos filhos. Mas está com eles quando sofrem. Está com eles para vencerem o sofrimento.

 

O sofrimento transforma a questão de Deus. Deus transforma a questão do sofrimento.

 

As questões não ficam apagadas. Porventura, até ficarão mais adensadas. Mas o caminho que resta é a certeza de que um Deus solidário e, quase sempre, silencioso habita a nossa alma na hora da nossa dor.

publicado por Theosfera às 22:37

Há quem se espante por não notar diferenças de vulto entre crentes e não crentes na vida pública.

 

A diferença pode estar entre quem assume os comportamentos em nome próprio e quem os atribui a Deus.

 

Só que, sem se aperceberem, tratar-se-á mais de uma divindade construída do que de uma inspiração acolhida.

 

E é assim que encontramos perseguições e condenações tanto no âmbito religioso como no espaço irreligioso.

 

Deus não é a justificação dos nossos actos, mas o estímulo para que possamos superar muitos deles.

 

Deus é o que nos leva a superar-nos, não a justificar-nos.

 

O mundo das religiões nem sempre oferece a melhor guarida ao divino.

 

O silêncio da procura fá-lo aspirar mais que a torrente de muitos discursos.

publicado por Theosfera às 22:00

Já Agostinho da Silva assinalava que Deus é logos, mas, muitas vezes, parece a-logos, isto é, longe das palavras, habitante dos silêncios.

 

De uma coisa estamos seguros: não é pelas palavras que muitos Lhe atribuem que Ele mais vem ao nosso encontro.

 

Parafraseando uma conhecida máxima bíblica, seria tentado a dizer que é mais fácil encontrar Deus nas profundezas do silêncio do que na suposta eloquência de muitas palavras pronunciadas em Seu nome.

publicado por Theosfera às 19:31

Zubiri disse o óbvio quando afirmou que «viver é optar».

 

As nossas opções revelam a nossa identidade, o nosso ser, o nosso carácter.

 

Na sua variedade, se repararmos bem, as escolhas tendem a aproximar-nos dos vencedores.

 

Elaine Pagels alerta que a própria história tende a ser feita a partir de quem vence.

 

Deus não é assim. Só que nós não nos apercebemos. E até cometemos o topete de instrumentalizarmos Deus como um escudo para as nossas opções.

 

A imutabilidade de Deus consiste, acima de tudo, na Sua fidelidade.

 

Deus não é neutro. Mas a Sua opção não é difícil de apurar.

 

O Talmude judaico apresenta-nos o seguinte:

 

«Deus está sempre ao lado do perseguido.

 

Se um justo persegue outro justo, Deus põe-Se ao lado do perseguido.

 

Se um perverso persegue um justo, Deus põe-Se ao lado do perseguido.

 

Se um perverso persegue um perverso, Deus põe-Se ao lado do perseguido.

 

Se um justo persegue um perverso, Deus põe-Se ao lado do perseguido».

 

Deus não está com o justo só por ser justo. Deus está com ele desde que ele não persiga ninguém. O perseguido pode nem ter sido justo, mas nada justifica que seja perseguido.

 

Mesmo quando está em causa a verdade ou a razão, tudo cai diante da força ou da violência. Quem se julga na posse da verdade ou da justiça e parte para a violência, não conte com o apoio de Deus.

 

Os perseguidos, sim. Podem não ter razão. Podem não ter apoios. Mas Deus está com eles.

 

Muito temos todos que aprender com Deus. A começar pelas próprias igrejas. Também nelas houve perseguições, perseguidores e perseguidos.

 

Os perseguidores invocam o nome de Deus. Mas só os perseguidos podem estar certos da Sua presença.

 

A história, segundo Deus, não é como a contamos.

publicado por Theosfera às 11:48

Há qualquer coisa de surreal na conjuntura que estamos a atravessar.

 

Se o nosso problema é a despesa, como entender esta aventura eleitoral? Os dois principais partidos estimam gastos na ordem dos quatro milhões de euros!

 

É claro que a democracia tem custos. Mas também tem benefícios.

 

Sucede que, na hora presente, só damos conta dos custos.

 

Mesmo assim, antes a pior das democracias que a melhor das ditaduras.

 

O fruto da democracia não se afere só pelos resultados. Afere-se, antes de mais e acima de tudo, pelos princípios, pela conduta, pelos valores.

 

Só que a democracia tem de ser permanentemente refundada até para não abrir as portas à sua negação.

 

O respeito pela lei em articulação com a justiça e a vontade das pessoas são as vértebras que nunca podem ser desatendidas ou negligenciadas.

 

A hora não é entusiasmante. Mas o momento que vivemos é uma oportunidade soberana para repormos o essencial na nossa vida cívica: decência, verdade e solidariedade.

 

A democracia está em crise. Mas não está moribunda.

publicado por Theosfera às 11:40

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