Disse Zubiri, e creio que com razão, que as maiores criações do espírito humano eram a filosofia grega, o direito romano e a religião cristã.
O Cristianismo posiciona-se talvez como a síntese, já que assimilou os outros dois elementos. Foi à filosofia grega que recorreu para se explicitar e foi o direito romano que assimilou para se organizar.
Só que, a páginas tantas, o que seria chamado a ter uma função instrumental começa a exercer um papel preponderante. Muitas vezes sem nos apercebermos, estamos mais a discutir conceitos filosóficos e normas jurídicas do que a escutar a Palavra de Jesus.
A helenização da doutrina e a romanização da organização constituem, por um lado, um sintoma de força e configuram, por outro lado, um perigo. Mostram que o Cristianismo tem uma grande capacidade de adaptação, mas assinalam também o perigo de um certo desfiguramento.
Por estes dias, volta a discutir-se muito a situação da Igreja. De novo se fala da doutrina e organização. É importante que, pelo menos neste tríduo pascal, reaprendamos a olhar para Jesus na Sua inteireza e na Sua (digamos) transcendência em relação a tantas palavras.
Deixemos ressoar os Seus gestos como o lava-pés ou o Seu apelo a que nos amemos uns aos outros.
Não são precisos grandes comentários. Só é necessária uma grande disponibilidade para a vivência, para o testemunho.
Este é o tempo de fazer ressoar a palavra, amassada em vida e regada com sangue, de Jesus.
N'Ele existe sempre uma interacção simbiótica entre a palavra dos lábios e a palavra da vida.
Quem mais ama é quem melhor cumpre.
Só o amor é digno de fé, dizia o teólogo.