O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 18 de Abril de 2011

A nossa vida acaba por ser a história dos nossos encontros.

 

A proximidade é um laço que não conhece fronteiras.

 

Há instantes, foi-me oferecido um livro cujo autor se apresentava como irmão ateu.

 

António Oliveira Bento tinha estado comigo há pouco mais de um ano.

 

As Reflexões ao espelho, que editou, sinalizam uma inquietação muito viva e uma abertura muito grande.

 

Como se pode ver ao percorrer estas páginas, Deus não está longe de ninguém. Nem dos ateus.

 

Há, de resto, um ateísmo que é muito mais que negação. Trata-se de um apelo e de um estímulo à purificação.

 

O ateu acaba por ser o irmão gémeo do crente.

 

Nasce no mesmo mundo. Caminha na mesma vida. Não descola da mesma inquietação. E olha no mesmo sentido.

 

As perguntas que levanta enriquecem as respostas que espera.

 

Mesmo quando é percebido como ausência, Deus não deixa de estar presente.

 

Um ateu também se relaciona com Deus. A via adversativa não deixa de ser uma via de relação e pode enriquecer até o encontro.

 

Já Johannes Baptist Metz alertava, em 1965, que a relação com o ateísmo faz parte da realização do crente como crente.

 

Para um crente, Deus está em toda a parte. Gandhi assegurava que Deus estava na humanidade. Na humanidade de todos os homens. Incluindo na dos irmãos ateus.

 

Alguns objectarão: irmãos, mas ateus.

 

Prefiro replicar: ateus, mas irmãos.

 

Sempre!

publicado por Theosfera às 19:25

Viver é também andar quando tudo para. E é saber parar quando tudo anda.

 

Viver é não só acompanhar a corrente. É, acima de tudo, procurar um rumo, ainda que este se encontre no sentido contrário da corrente.

 

Viver é nunca deixar de ter vontade de viver.

 

Viver não é correr. É continuar, cada vez mais, a ser.

 

Só vive quem nunca deixa de ser.

 

Viver é testemunhar o sentido, construir uma esperança, oferecer uma oportunidade, abraçar uma causa.

 

Viver é dar a vida.

 

Quem só pensa em possuir acaba por não possuir a vida.

 

Viver é começar. É não desistir de esperar.

 

Viver é deixar que a eternidade habite cada instante.

publicado por Theosfera às 16:26

1. A presente crise não é a primeira nem terá sido a pior. Mas é bastante grave.

 

Não haverá, pois, motivos para que andemos alarmados. Mas também não há razões para que nos mostremos distraídos.

 

Acontece que, por uma espécie de torpor que se abateu sobre nós, parecemos deprimidos como (quase) sempre e desleixados como (praticamente) nunca.

 

Apesar dos avisos, tudo indica que a actual situação nos apanhou desprevenidos e completamente impreparados. Daí a necessidade de recorrer ao auxílio exterior.

 

Só que este é o medicamento para aliviar a dor. Mas não constitui a terapia para vencer a doença.

 

Não são os comportamentos que nos trouxeram até aqui que nos ajudarão a sair daqui.

 

Só uma atitude radicalmente nova nos abrirá as portas a um futuro diferente. A um futuro que seja não a repetição, mas a transformação do presente.

 

Não é isso, porém, o que se desenha. Preparam-se medidas novas, ainda por cima austeras, mas mantêm-se as atitudes de sempre. Respira-se a mesma desconfiança e até se cavam mais divisões.

 

 

 2. Um problema global não se resolve com uma solução parcial. Um problema global precisa de uma solução global.

 

Precisamos de reduzir a despesa, mas também de gerar riqueza. Precisamos de economia, mas também de moral. Precisamos de competências, mas também de valores. Precisamos de respostas, mas também de perguntas. Precisamos de capital, mas também de espírito. Falta dinheiro e faz falta um rumo. 

 

Será que estamos dispostos a transformar o problema em oportunidade?

 

Convenhamos que os sinais não são muito alentadores. A ambição do indivíduo e o interesse do partido aparecem antes de tudo e parecem contar mais que tudo.

 

O todo continua a ser sacrificado pela parte quando o necessário é que a parte se sacrifique pelo todo.

 

É bom que as perspectivas sejam múltiplas. Mas porque é que da multiplicidade só pode advir afastamento?

 

O que é comum a todos não deverá superiorizar-se ao que é diferente entre todos?

 

Porque é que só se admite a maioria de um partido ou de um quadrante ideológico?

 

Porque é que o caminho não há-de passar pelo envolvimento de todos?

 

 Parece-me, por conseguinte, que a lição não está a ser devidamente apreendida.

 

Na altura em que mais carecemos de convergência é que mais estão a aparecer as divergências. E o mais preocupante é que estas tendem a ter a forma de contradições insanáveis e de incompatibilidades invencíveis.

 

Será legítimo antepor o benefício de uns ao bem de todos?

 

 

3. O que, no fundo, faz falta é uma atitude verdadeiramente católica e genuinamente religiosa.  

 

Não uso estes termos no seu sentido habitual, institucional, mas proponho estas palavras a partir do seu significado original.

 

Uma atitude católica levar-nos-á a perceber que a verdade está na totalidade.

 

Foi isso, aliás, que impeliu Aristóteles a dizer que «a verdade é católica».

 

Ser católico é, antes de mais, ver segundo o todo. É aí que está a verdade.

 

Cada ponto oferece-nos uma vista. Mas a verdade está na totalidade do que é visto.

 

O todo está em cada parte, mas nenhuma parte, por si só, permite avistar o todo.

 

 

4. É aqui que entra em campo a pertinência de uma perspectiva genuinamente religiosa ou, melhor, religacional.

 

Religião tem que ver com ligação, não com separação. Religioso é o que liga, não o que separa.

 

E não há dúvida de que este é o tempo não só de propor, mas também de articular todas as propostas.

 

Isto requer não só conhecimentos nem apenas competências. Tudo isto clama por uma grandeza de alma que ainda estamos longe de revelar.

 

Precisamos de medidas novas, mas necessitamos sobretudo de um espírito renovado.

 

Seremos capazes de transformar mais um problema numa nova oportunidade? Ou iremos converter esta oportunidade na eternização dos nossos problemas?

publicado por Theosfera às 14:39

A virtude é, sobretudo, uma tentativa, um contínuo esforço e uma saudável teimosia.

 

Ela nunca exclui a falha e inclui sempre a insistência após a falha.

 

É por isso que a exibição de virtude é pouco apreciada. Pressupõe uma superioridade moral que nem sempre encontra o devido enquadramento na vida.

 

Um discurso que não tolere a falha tem, inevitavelmente, um efeito contrário: torna intolerável a falha de quem não tolera a falha.

 

O exibicionismo não é, ao contrário do que se possa pensar, uma forma de revelação. Acaba por ser um modo de esconder. O problema é que, nos tempos que correm, se torna cada vez mais difícil esconder.

 

Daí que um banho de humildade seja sempre purificador. Uma certa animosidade para com a Igreja não está tanto nas falhas que nela ocorrem. Radica na pretensão (implicitamente sugerida) de que os seus membros são melhores.

 

A Igreja não é formada pelos melhores, mas por pessoas que se dispõem a dar o seu melhor. Não se trata, pois, de alardear virtudes nem de esconder falhas. A transparência é o certificado da autenticidade.

 

O ensinamento de Jesus é precioso também a este propósito. Ele não pressiona nem exclui. A própria pecadora é acolhida. E, no último instante, o paraíso é franqueado a um ladrão.

 

Será que já nos apercebemos de que, como lembra subtilmente Timothy Radcliffe, o primeiro cristão a ir para o céu foi um ladrão?

 

É claro que, desde o princípio, não foi fácil aceitar isto. Segundo um poema siríaco muito antigo, houve um anjo que tentou impedir que o bom ladrão entrasse no céu!

 

Só que Aquele que veio chamar os pecadores (cf. Mc 2, 17) não iria deixar ninguém de lado, muito menos «aqueles cujas vidas são um caos».

 

Contundente foi Jesus para com aqueles que se julgavam superiores e humilhavam os humildes. O farisaísmo foi sempre o que mais espoletou sentimentos de revolta no Mestre dos mestres.

 

A presunção de superioridade moral leva as pessoas a investigar falhanços e a divulgá-los até com regozijo. O problema é que tal presunção de superioridade moral pode degenerar na presunção de veracidade de factos sem confirmação. Presunção atrai presunção e pode haver inocentes prejudicados.

 

Nenhum exibicionismo é cristão. E para quem se julga melhor que os outros não deixe de pensar que foi um ladrão o primeiro cristão a subir ao Céu. Não são os pecadores que ficam de fora... 

publicado por Theosfera às 10:42

«Não serás um criminoso. Não serás uma vítima. Nunca serás um espectador passivo».

Assim escreveu (relevante e magnificamente) o redactor de uma inscrição no Museu do Holocausto em Washington.

publicado por Theosfera às 09:47

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