Creio que foi Talleyrand que afirmou: «Quando algo se torna urgente já é demasiado tarde».
Andamos sempre a reboque dos acontecimentos.
Até certa altura fizemos história. Actualmente, parece ser a história a fazer-nos. Ou, o que será mais adequado dizer, a desfazer-nos.
Portugal é dos países do mundo onde as pessoas mais trabalham. Mas nem por isso a produtividade é elevada.
Estamos focados no défice público, mas a actual situação tem muito que ver com os cidadãos. É sobretudo a banca e o investimento imobiliário que nos trouxeram para este ponto excruciante.
Ainda assim, era o pensamento dominante que nos instigava ao consumo.
Está na hora de redefinir um rumo para o país e para os seus cidadãos.
Recordo que, quando entrámos na então CEE, Mário Soares assegurou que «a solidariedade europeia nunca nos faltaria».
Mas não podemos viver sempre à boleia dos outros, até porque (v.g. o caso da Finlândia) a satuarção de quem ajuda começa a notar-se.
Vamos ter de nos habituar a viver com menos. O problema é que, em muitos casos, isso significará a insolvência, a fome.
Outorgámos um doutoramento a Lula da Silva, mas não cuidámos de lhe perguntar a fórmula para colocar o Brasil como uma potência emergente. (Isto apesar das assimetrias que persistem).
Mas ele não se tem escusado a pôr em público o que fez. A sua fórmula pode sintetizar-se em duas palavras: desenvolvimento com justiça.
Uma sociedade não cresce quando o lucro aumenta, mas quando todos têm acesso ao essencial. A cada um deve ser dado segundo a sua necessidade. De cada um deve ser pedido segundo a sua capacidade.
Tudo precisa, pois, de ser refundado: a vida política e a vida cívica.
O actual modelo está esgotado.