Quando a economia se separa da moral e, desse modo, se impõe à política, o resultado não é famoso.
Vítor Bento explica, de forma condensada e magistral, a importância da articulação entre as três disciplinas. E deixa bem claro, no opúsculo recentemente publicado, que a crise é também (e bastante) uma crise de valores.
O que a linguagem cifrada dos especialistas nos oculta nestes dias o documentário Inside Job permite ver com toda a crueza.
Sem regras, qualquer actividade pode descambar. O sistema bancário norte-americano foi desregulado a partir da década de 1980. O poder político foi incapaz de antecipar qualquer medida. Houve quem recorresse ao crédito de forma descontrolada. Os vencimentos e os lucros dos quadros eram assustadoramente elevados.
Em 2008, o sistema ruiu. Muita gente perdeu as poupanças, os empregos e as casas. O mais curioso é que os responsáveis políticos, que de tudo sabiam e nada fizeram, mantiveram-se nos cargos.
Pormenor relevante: as agências de rating, tão severas na classificação das economias e dos bancos de muitos países, foram atribuindo as classificações mais elevadas (AAA) aos bancos norte-americanos em fase de desregulação.
O sistema financeiro global foi abalado com um prejuízo de mais de vinte triliões de dólares.
A responsabilidade está identificada. Mas os responsáveis não ficaram muito mal. Mal ficaram os cidadãos comuns.
Os mercados, como ainda ontem revelou um perito, andam sobressaltados e resolveram pressionar Portugal. O nosso desempenho não será totalmente exemplar, mas, ainda segundo aquele expert, não justificava a forte pressão.
Os Estados Unidos e, na sua escala, a Islândia já estão a recuperar. Nós, pelo contrário, ainda vamos na fase do diagnóstico.
Vejam Inside Job. É uma lição imperdível. Sobre aquilo que não deveria ser feito.
É um filme sobre a crise económica. E sobre o vazio moral.
A reter.