Sucedem-se as declarações e os comentários. Já se olha para o dia seguinte. O caudal das energias já está a ser drenado para as eleições.
A atenção dirige-se, pois, para o médio prazo. Mas, pelos vistos, há tantos desafios para o curto prazo.
O tom é crispado e muito ensimesmado. O futuro parece bastante embrulhado em calculismos sem fim.
Duas perguntas, entretanto.
Se José Sócrates entende que não tem condições para governar, como é que as terá no caso de voltar a triunfar sem maioria?
E se Pedro Passos Coelho considera ser necessário combater o défice e reduzir a dívida, poderá assegurar que não tomará medidas semelhantes às que hoje rejeitou?
Pressinto que o povo tenha dificuldade em compreender a razão desta crise agora. Que houve de tão diferente? A austeridade não vem de há muito?
Já agora, se o discurso do Presidente da República, na sua tomada de posse, não tivesse sido tão assertivo, o quadro político seria o mesmo?
Será que chegaram à conclusão de que os limites para os sacrifícios tinham sido ultrapassados?
Todos sentimos que não há condições para aguentar mais sacrifícios. Mas quem garante que eles tenham terminado?
Mais do que acabar com um governo, as pessoas gostariam que tivessem terminado os sacrifícios.
Toda a gente fala na necessidade de crescimento, mas ninguém apresenta alternativas concretas à austeridade.
Aliás, as directivas parecem ser, cada vez mais, ditadas pela Europa. Se queremos ajuda, temos de cumprir requesitos.
O espaço de manobra está completamente bloqueado. Aqui, temos pessoas. Mas lá fora olham sobretudo para números.
Era bom que se fizesse pedagogia em torno da necessidade de um grande consenso nacional.
E, já agora, também era bom que emergisse um conjunto de personalidades diferentes.
A sociedade civil (desde o mundo empresarial ao universo cultural) tem de intervir mais na acção política.
A política não pode continuar a ser só para os políticos.
Não pensem apenas na propaganda. Apostem no esclarecimento. Digam-nos a verdade. E não continuem a sacrificar os mais pobres.
Este país que, hoje, se vai deitar exausto, merece acordar, amanhã, com um pouco de esperança.
Quem no-la dará?