A Igreja não é um fim. Nem é o fim.
Não é o objectivo que nos mobiliza. Nem é o termo para onde caminhamos.
A Igreja é um instrumento ao serviço do Evangelho e um meio de construção do Reino de Deus.
Espanta, por isso, a tentação do eclesiocentrismo. E fere bastante que se estacione tanto nos meios em detrimento do fim.
A resistência à mudança é, assim, um sintoma preocupante.
Se Jesus foi, essencialmente, um reformador, é com dificuldade que se assiste à reacção negativa às reformas. Isto apesar de, nos documentos oficiais, se reconhecer a necessidade da reforma e até da reforma perene.
Reformar é, a partir da etimologia, voltar a dar a forma. Ora, a forma da Igreja terá de ser sempre a forma de Jesus.
Ele é que é o critério, a norma, a referência.
Alguém pode sustentar que não é preciso melhorar as formas até agora encontradas?
Acresce que a Igreja transporta o eterno, mas está no tempo. E o tempo é o espaço da mutação.
A grandeza do divino é a capacidade de ser dito de formas tão diferentes.
Pedro Mexia admira-se porque as discussões da actualidade são as mesmas de há quarenta anos.
São os mesmos os apelos à mudança. E, segundo ele, são as mesmas as resistências à mudança.
Tais apelos, de resto, não tocam no perene. Não preconizam alterações doutrinais de fundo.
Limitam-se a reclamar uma maior participação e clamar por uma cultura da misericórdia.
Nenhuma das mudanças, refere Mexia, «toca no essencial, mas várias são decisivas neste momento histórico».
É salutar esta preocupação. O conformismo nunca motivou ninguém.
Importa ter presente que a mudança não é, necessariamente, uma cedência. E é bom que se compreenda que a fidelidade é muito mais que a resistência.
Decididamente, Deus é eloquente embora não goste de ser loquaz. Nunca deixa de falar, ainda que goste de se mostrar subtil.
E um dos locais onde a Sua voz mais se faz sentir é o tempo. É cada tempo, este tempo também.
Captar o sentido do tempo acaba por equivaler a perscrutar a voz de Deus.
Afinal, o espírito do tempo (zeitgeist) transporta-nos, invariavelmente, ao tempo do Espírito.
A Igreja não é uma redoma em que tenhamos de nos fechar. Tem de ser sempre uma janela que urge abrir.