Umas vezes, é a maldade dos homens. Outras vezes, é a inclemência da natureza.
O saldo é, invariavelmente, o mesmo: vítimas atrás de vítimas.
Agora é o Japão que salta aos nossos olhos.
Nem um país na vanguarda do desenvolvimento consegue suster as ondas da destruição.
Muito foi acautelado (veja-se o que aconteceu o Haiti com um sismo de magnitude inferior), mas muito também foi destruído.
Nestas alturas, a alma dorida volta-se para Deus. Ou, como alertava João Paulo II, contra Deus.
A questão já não é sobre a identidade (quem é Deus?), mas sobre a presença (onde está Deus?).
Há muitas respostas na fé. Mas nem elas abafam as perguntas.
Porquê tudo isto? Porque é que uns se salvam e outros se perdem?
Porque é que tantas crianças são mortas?
Castigo de Deus? Mas nem o pior pai faria tal ao seu pior filho.
Porque é que Deus não actua?
Não pode? Mas não aprendemos que Ele é omnipotente? Porque é que não intervém numa situação destas?
Pode, mas não quer. Mas não sabemos todos que Deus é bom? Como é possível admitir que entenda não agir?
Eis o que muitos não deixarão de pensar.
A Teologia arrisca muitas explicações. Mas elas não satisfazem a pertinência das perguntas.
O mal é a questão teológica básica e a questão teológica crítica.
Sejamos humildes. Fiquemo-nos pelo silêncio e pela comunhão solidária.
Até o Papa questionou Deus quando foi, há cinco anos, a Auschwitz:
«Onde estava Deus naqueles dias?
Porque é que Ele Se silenciou?
Como pôde tolerar este excesso de destruição, este triunfo do mal?
Vêm à nossa mente as palavras do Salmo 44, a lamentação de Israel que sofre: «Tu nos esmagaste na região das feras e nos envolveste em profundas trevas.
Por causa de Ti, estamos todos os dias expostos à morte; tratam-nos como ovelhas para o matadouro.
Desperta, Senhor, por que dormes?
Desperta e não nos rejeites para sempre!
Porque escondes a Tua face e Te esqueces da nossa miséria e tribulação?
A nossa alma está prostrada no pó e o nosso corpo colado à terra.
Levanta-te! Vem em nosso auxílio; salva-nos, pela Tua bondade!» (Sal 44, 20.23-27)».
Vivemos tempos em que todos se calam.
E até de Deus parece que só vem o silêncio.
Nós sabemos que Ele está com quem sofre.
Mas, muitas vezes, não O sentimos.
Fala, Senhor!