Impressionante não é só a falta de soluções.
É também esta ausência de grandeza, de elevação.
Há uma crise antes (e, talvez, depois) da crise: a crise de valores.
Sem resolvermos esta crise, venceremos alguma crise?
Impressionante não é só a falta de soluções.
É também esta ausência de grandeza, de elevação.
Há uma crise antes (e, talvez, depois) da crise: a crise de valores.
Sem resolvermos esta crise, venceremos alguma crise?
Os actos não entusiasmam. As palavras não ajudam.
As medidas anunciadas insistem no mesmo: vida mais difícil para o povo.
As palavras sobem de tom e a temperatura do descontentamento já vai alta.
Toda a gente pensa em eleições, mas ninguém quer assumir a iniciativa.
O Governo não se demite. A Oposição não chumba. O Presidente não dissolve.
Já houve dissoluções da Assembleia da República com governos maioritários. É natural que, em presença de um Governo minoritário, a dissolução esteja na cabeça de muitos.
Todos sabem, portanto, o que estará na iminência de acontecer. Mas ninguém parece querer desencadear o acontecimento.
Todos esticam a corda. Uns apresentam propostas que sabem que outros não vão aprovar.
Uns e outros sabem quais poderão ser as consequências.
Todos parecem querer as eleições, mas ninguém parece ficar com o ónus de as provocar.
É que, pelos sinais que emite, o povo não parece querer eleições. Prefere (e quase exige) que os partidos se entendam.
Nesta tempestade de palavras, o ambiente está longe de desanuviar. Perspectiva-se uma verdadeira trovoada de sacrifícios.
O essencial aparenta estar afastado: um entendimento alargado entre os partidos.
É lamentável que, numa altura destas, as instituições não funcionem.
Em 2009, o povo foi chamado a eleger um parlamento por quatro anos.
Dois anos depois, pede-se ao povo que se volte a pronunciar?
Ao não dar a maioria absoluta a nenhum partido, o que o povo disse foi que deveria haver um acordo entre vários partidos.
Um Governo minoritário não deixa de ser legítimo, mas é reconhecidamente mais frágil.
O mais preocupante é a sensação de que não existe rumo.
No sábado, as ruas encheram-se. Hoje, as estradas foram bloqueadas.
O país está deprimido. O povo está revoltado.
Há uma prolongada anemia na cidadania. Mas existe igualmente um endémico défice de qualidade na classe política.
Há quem veja o abismo muito perto. Não iremos cair nele. Mas quando nos afastaremos, definitivamente, dele?
1. Estou certo de que nenhum de nós deixaria sem resposta a pergunta de Pilatos. Quem não sabe o que é a verdade (cf. Jo 18, 38)?
De uma forma ou de outra, todos nós nos sentimos visitados pela verdade. E sobretudo vemo-nos cheios de verdade e carregados de verdades.
Eis, pois, um domínio em que teríamos muito para falar. Como é que se entende, então, que Jesus nada tenha para dizer?
Porque é que Jesus ficou em silêncio se, imediatamente antes, tinha assumido que veio ao mundo para dar testemunho da verdade (cf. Jo 18, 37)?
À primeira vista, trata-se de um silêncio muito estranho, diria mesmo enigmático. Nietzsche considerou esta como sendo a página mais intrigante de toda a Bíblia.
Como é que o mestre da palavra, que arrastava multidões e somava adeptos, desperdiça uma oportunidade destas?
Acontece que Jesus responde. Não responde com os lábios porque já respondera com a vida.
O silêncio diante de Pilatos certifica uma profundidade e uma subtileza que jamais deveríamos esquecer.
Toda a Sua vida fora um permanente testemunho da verdade.
Para Jesus, a verdade não é tanto para dizer. É sobretudo para viver.
Ele não diz verdades. Vive a verdade.
A verdade não se apresenta de modo parcial. Não é apenas o intelecto que a filtra. Não é somente a lei que a impõe.
A verdade oferece-se de modo totalizante, pelo testemunho da vida.
2. É interessante notar que, na hora decisiva, Jesus apela não para o Seu discurso, mas para o Seu testemunho.
Não é por isso em vão que Jesus Se coloca como sendo luz para o mundo (cf. Jo 8, 12).
A verdade é iluminação que pressupõe uma procura e anela por uma descoberta.
A verdade não é o que cada um cria, o que cada um inventa e o que cada um impõe. A verdade é sobretudo o que cada um encontra.
Daí que o decisivo para o apuramento da verdade seja a consciência pessoal e não qualquer poder ou maioria.
Sendo assim, como perceber que haja tantos conflitos em nome da verdade?
Se nada nos move tanto como a verdade, também nada nos atemorizará tanto como a verdade.
É bom não esquecer que foi por causa da verdade que se cometeram alguns dos maiores crimes da humanidade.
Para combater o erro, alguns não se eximiram a recorrer aos mais hediondos métodos. A história está repleta de perseguições, condenações e mortes em nome da verdade!
3. Há, em tudo isto, um equívoco de base, que Xavier Zubiri sintetizou muito bem. Trata-se da pretensão de possuir verdades, em vez de se deixar possuir pela verdade.
Quando se condensou a mensagem de Jesus em dogmas, doutrinas e cânones, a questão da verdade sofreu um novo deslocamento.
Se Pilatos repetisse a mesma pergunta à maioria dos cristãos, dificilmente obteria uma resposta semelhante à de Jesus.
Quase ninguém ficaria calado. Ou seja, quase toda a gente sabe dizer a verdade. Mas será que todos estaremos em condições de mostrar a verdade?
O nosso termo de referência, para apurar a verdade, é mais o discurso sobre Jesus do que a pessoa de Jesus.
A história da Igreja assemelha-se, por vezes, a um catálogo de verdades. E, não obstante, nem sempre, na Igreja, se respira a verdade.
As palavras de Jesus são reproduzidas. Mas a presença de Jesus parece ofuscada.
Em suma, temos repetido verdades com insistência. Mas não temos conseguido mostrar a verdade com transparência.
É por isso que não falta até quem alegue distanciar-se da Igreja para melhor se aproximar de Jesus.
Isto pode parecer-nos um absurdo, mas devia, acima de tudo, servir-nos de alerta.
4. Percebe-se, por conseguinte, que Joseph Ratzinger/Bento XVI dedique uma longa apreciação ao tema da verdade no recente volume sobre Jesus.
Muitas vezes, a verdade está submetida ao poder. E, para sermos justos, temos de reconhecer que nem o poder eclesiástico é imune à tentação de tutelar a questão da verdade.
Quando a Igreja se reclama depositária da verdade de Jesus, é bom que nela resplandeça a compaixão, o despojamento, a simplicidade, a pobreza e o amor pelos pobres.
Nenhuma verdade é credível se não for transparente. Não basta repetir o que Jesus disse.
Fundamental é mostrar o que Jesus foi. E o que, no fundo, Jesus quer que sejamos.