Estamos num tempo em que as palavras são setas viperinas. Mordem o interlocutor e envenenam a convivência.
Como o pensamento está debilitado (assim o diagnosticam Gianni Vatimmo e Jean-François Lyotard), a substância de um texto é esmagada pelos incidentes que, supostamente, o apimentam.
Discute-se muito a autoridade de quem fala. E é bom que tal exame se faça.
Mas se formos por aí, se só puder falar quem tem autoridade, creio que quase todas as tribunas ficarão vazias. Um prolongado silêncio atravessará as nuvens.
Ninguém questiona a crítica a não ser quando ela corre na nossa direcção. Aí, já se tratará de ressabiamento.
Falta compostura na existência.
O país precisa de se reencontrar.
Não basta discutir discursos. É fundamental dar a volta à realidade.
Uma certa elevação (na palavra e na réplica, na acção e na reacção) é necessária. Vital. Urgente.