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Terça-feira, 01 de Março de 2011

Mais do que pelos prémios alcançados, O Discurso do Rei  vale por alertar para a premência do fenómeno da gaguez.

 

Julgo que a comunidade em geral (não só a científica) ainda não lhe dispensou a atenção devida.

 

Figuras como Jorge VI e, entre nós, Maria João Seixas mostram que, em si mesma, a gaguez não é impedimento para se chegar longe na vida. E nem sequer se torna num obstáculo intransponível para a comunicação.

 

Penso que, hoje em dia, a gaguez já não será um estigma social. Mas há sempre marcas no interior da pessoa.

 

Regra geral, a pessoa gaga propende a desenvolver uma auto-estima baixa. E se o ambiente circundante não for favorável, pode haver problemas de integração.

 

Como o gago não se nota muito numa conversação, pode haver tendência para que seja prejudicado. Há notícias de casos a ilustrar isto.

 

O mais habitual é aferir o estado de espírito da pessoa que gagueja. Quem gagueja está nervoso, assim se ouve amiúde.

 

A ser verdade, teria de haver muito mais gente a gaguejar.

 

Do pouco que se sabe (a gaguez nunca foi muito estudada), há um fundo orgânico que provoca, em determinadas circunstâncias, esta situação.

 

A gaguez pode controlar-se, mas dificilmente se supera completamente.

 

A terapia da fala obviamente pode ajudar, mas o melhor medicamento é o acolhimento da pessoa tal como ela é.

 

A gaguez profunda pode ser uma fase passageira ou pode prolongar-se no tempo.

 

Quanto maior for a pressão, tanto mais alta será a probabilidade de reincidência.

 

Li, uma vez, o melhor conselho que, a este propósito, encontrei: «Se quer deixar de ser gago, goste de ser gago»!

 

Recordo uma consulta a que fui ao Porto quando tinha seis anos. A médica pediu-me para fazer um desenho. Ouvida a descrição do mesmo e apercebendo-se do que se passava, disse ao meu saudoso Pai: «Deixe a criança à vontade».

 

Sucede que, certamente com o melhor propósito, a tendência era (especialmente na escola) para me obrigarem a repetir as palavras até que a dicção surgisse escorreita. Ora, isso levava ao alastramento da gaguez.

 

Falar tornou-se um tormento. Fui-me, assim, refugiando na escrita.

 

No início do ano lectivo, eram os meus colegas que davam os meus dados aos professores.

 

Às vezes, tentava, tentava e nada saía.

 

Até que, a partir de uma certa altura, quando tinha de ir a qualquer lado, começava por dizer que era gago. E, ao dizer isso, experimentava um alívio muito grande.

 

Deixei de pensar nisso. Gaguejar tornou-se, para mim, uma situação perfeitamente normal, quase uma componente identitária.

 

Há, em Portugal, uma Associação de Gagos, que permite a partilha de experiências.

 

Quem não é gago tem dificuldade em entender o que se passa. E até costuma dizer que também gagueja.

 

É diferente. Uma coisa é a palavra não sair por qualquer bloqueio momentâneo, outra coisa é uma situação permanente.

 

No fundo, isto reconduz-nos ao essencial: cada um deve ser como é e sentir-se bem como tal.

 

Não pode haver estigmas nem formatações.  

 

Uma certa gaguez até será benéfica para todos. Se nos levar a pensar melhor naquilo que vamos dizer.

 

Na vida, andamos sempre a balbuciar. À procura da palavra mais ajustada.

 

Demasiada fluência nem sempre traz bom resultado.

 

Às vezes, o que se diz a medo, com cuidado, não fere tanto como o que sai de modo torrencial, abrupto, desmedido.

publicado por Theosfera às 14:35

Reitor da Universidade de Coimbra está otimista.

 

Foi assim que vi. Foi assim que li. Aqui.

publicado por Theosfera às 14:32

Ainda há pouco, saudávamos a entrada do novo ano e já vamos para o terceiro mês de 2011.

 

Passam depressa os anos. Passam depressa os meses. Passam depressa os dias, as horas, os minutos. Isto para não falar dos segundos.

 

Passa depressa a vida.

 

Eis o mistério que cada um de nós transporta. Queremos aproximar-nos da vida e a vida vai-se afastando de nós.

 

Ninguém quer fugir da vida. O problema é que a vida vai fugindo de nós.

publicado por Theosfera às 10:21

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