Há sempre qualquer coisa a ligar o grande e o pequeno, o macro e o micro, o mais impactante e o aparentemente irrelevante.
Enquanto as ruas da Líbia se transformam em campos de batalha pela liberdade, numa modesta casa de Lisboa travava-se uma dramática luta pela vida, pela sobrevivência, pela dignidade.
A quantas portas se bateram. Quantas portas se terão fechado. Até que os limites foram ultrapassados.
Estiveram casados 62 anos. Alguém poderá dizer que não houve amor neste casal?
Mas nem sempre o amor consegue o milagre de suportar o outro. Ela tinha 89 anos e estava com Alzheimer. Ele contava 85 e, pelos vistos, não aguentou mais.
Matou-a e matou-se.
A sociedade só soube depois da tragédia. Ao longo do drama, ninguém apareceu. Ou ninguém quis saber.
Nas ruas da Líbia ou numa simples habitação, o problema é, basicamente, o mesmo: o outro pode chegar a ser insuportável.
Como é possível?