O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2011

Exilado num tempo que mal conheço e asilado num mundo em que dificilmente me reconheço, dou comigo, amiúde, a recordar tardes de domingo da minha adolescência.

 

Naquela altura, era a única altura em que se podia ouvir rádio. E ouvir rádio, nas tardes de domingo, era ouvir futebol.

 

Enquanto o olhar lobrigava horizontes rasgados pelo sol, os ouvidos colavam-se ao transístor.

 

Os relatos chegavam de um lado, mas os golos atropelavam-se de quase todos os lados.

 

Sendo os jogos quase todos à mesma hora (três da tarde), aqueles momentos tornavam-se uma torrente de vibração.

 

Eram domingos em que o diálogo se fazia a partir do que a imaginação figurava desde longe.

 

Eram domingos em que, parafraseando a composição de Eduardo Olímpio musicada por Paco Bandeira, «íamos ao campo e éramos felizes».

 

Também havia domingos com «piquenique e grafonola» e «o Benfica que vai pagá-las em Alvalade».

 

Eu achava graça a esta última parte, até porque raramente acontecia. Mas, pelo menos, os ouvidos ficavam um pouco extasiados.

 

Já agora, a parte mais bonita da canção era o remate: «Aos domingos há o canário que, na gaiola, canta a canção de mais um dia de liberdade».

 

Tudo isto vem a propósito de mais um jogo entre Sporting e Benfica (não digam Sporting contra Benfica), agendado para uma segunda à noite.

 

Haverá os seus motivos, mas nada que se compare àquelas partidas das tardes de domingo, em que nada acabava mal mesmo se nem tudo corresse bem.

 

O Sporting podia não ganhar, mas a amizade e a convivência venciam sempre. À volta de um pequeno rádio de pilhas.

publicado por Theosfera às 16:21

1. Não é por falta de bons textos que não temos melhores práticas.

 

Se pretendermos encontrar o discurso mais belo de sempre, muitos apontarão o Sermão da Montanha, indicando, especialmente, as Bem-Aventuranças.

 

 Ali estão, com efeito, as bases da maior revolução. Ali, a vida é vista ao contrário.

 

Para Jesus, felizes não são os ricos, os que vencem as guerras ou os que dominam as situações de modo controlador.

 

Para ele, felizes são os pobres, os construtores da paz e os puros de coração, que não poucos chamarão ingénuos.

 

De facto, o Sermão da Montanha, como reconhece Heiner Geibler, «virou do avesso tudo aquilo que era considerado válido no Estado e na sociedade já que pretendia criar uma ordem radicalmente nova na convivência entre os seres humanos».

 

Contrariando o Mestre a ordem vigente, é, no mínimo, estranho que a Igreja apareça, tantas vezes como suporte dessa mesma ordem.

 

Nesse caso, Jesus surge não apenas como subversivo para o mundo, mas também como um permanente incómodo para a própria Igreja.

 

 

2. É, pois, enorme a pertinência de um conhecido conto de Dostoievski.

 

O grande inquisidor andava a perseguir os hereges para (supostamente!) defender a doutrina de Jesus. Mas eis que o próprio Jesus lhe aparece, censurando o seu comportamento.

 

O inquisidor não foi de modas. Mandou prender Jesus, porque — imagine-se — achava que Ele estava a perturbar a Igreja!

 

Os ideais de Jesus eram bons, mas irrealizáveis. Os homens não eram capazes de construir um reino de amor com a liberdade que Deus lhes dera.

 

A liberdade deveria ser retirada aos seres humanos. A Igreja asseguraria pão para as pessoas, mas estas deveriam submeter-se à sua autoridade.

 

 

3. Decididamente, Jesus não caiu nas boas graças dos poderosos.

 

Hitler considerava a Sua mensagem um veneno pois vinha estragar «os maravilhosos instintos dos seres humanos».

 

Alguns círculos marxistas olhavam para o Sermão da Montanha como um obstáculo para as mudanças revolucionárias de cariz violento.

 

Tão revolucionário foi Jesus que até recusava os métodos habituais das revoluções. Jesus propugnava a mudança, mas rejeitava a violência. A paz era a regra. O amor tinha de ser a lei.

 

Não faltou também quem optasse pela simples troça. Bismark afirmou, várias vezes, que não é possível fazer um Estado com o Sermão da Montanha.

 

E até Martinho Lutero sustentou que o lugar do Sermão da Montanha não era a câmara municipal porque não se pode governar com ele!

 

É que, de novo segundo Bismark, sem a norma do Sermão da Montanha, é possível fazer política de forma mais aliviada, isto é, com menos escrúpulos!

 

 

4. Reconheçamos que o Sermão da Montanha incorpora um patamar de conduta de altíssima exigência.

 

Daí que subsista como um ideal, para muitos, inatingível. Mas não. O Sermão da Montanha é realizável. Mais, é inadiável. Ele é opção para todos e terá de ser prioridade para muitos.

 

A chave de interpretação poderá ser encontrada na parábola do bom samaritano (cf. Lc 10). Todos são convidados a estar próximos de quem está em dificuldade, de quem sofre a injustiça.

 

Esta proximidade samaritana não passa apenas pela ajuda imediata. Passa também (e bastante) pela mudança das estruturas.

 

 Há, com efeito, situações de injustiça, de abuso de poder, de opressão e de desumanização que contrariam frontalmente o amor ao próximo.

 

 Não basta identificar estas situações. É fundamental ajudar a transformá-las.

 

O Sermão da Montanha instaura um perfil de vida feliz e felicitante. Não somente para amanhã. Mas para hoje. Para agora. Para já.

 

Impossível é o que não existe para Deus. Nem para os que estão em Deus.

publicado por Theosfera às 11:56

Ao invés do que sucede nas ciências exactas, na história não há resultados garantidos. Há, sim, fórmulas testadas, experiências tentadas, caminhos percorridos, desfechos incertos.

 

Só no fim se sabe se o feito se torna per-feito ou se redunda em de-feito.

 

A multidão que, na Tunísia e no Egipto, depôs regimes autoritários está a sentir, na Líbia, a crueldade do autoritarismo.

 

Na Líbia, por agora, não é o ditador que sai. São as pessoas que morrem.

 

O número de vítimas, para já incerto, vai subindo.

 

De tudo quanto está a ocorrer no mundo árabe sobra uma certeza e solta-se uma inquietação.

 

Não é só a pobreza que desencadeia a revolta. Como bem refere Dani Rodrik, a Tunísia e o Egipto até tinham bons indicadores económicos.

 

Acontece que, acrescenta o professor de Harvard, «uma boa economia não significa necessariamente uma boa política».

 

O crescimento económico, já notara Samuel Huntington, reforça a consciência política e aumenta o padrão de exigência por parte das populações.

 

O povo está mais atento e torna-se mais interveniente. Ora, isto leva-nos à China.

 

A China está a passar por um surto de desenvolvimento económico ímpar. E, como é sabido, os protestos têm aumentado. Tianamnen é um símbolo e, porventura, uma viragem.

 

O poder acha que, através da economia, pode contentar o povo. Só que a experiência mostra que é sensato não contar com o progresso económico para quem quer que seja se perpetuar no poder.

 

Se esta vaga de explosão contestatária chegar à China, que acontecerá?

publicado por Theosfera às 10:37

A Suíça é um país rico e, não obstante, fixou um tecto para as reformas no sector público: 1700 euros.

 

As boas práticas não poderãoser transpostas?

publicado por Theosfera às 10:36

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