O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011

1. Há imagens da Praça Tahrir que ficarão, para sempre, retidas na nossa memória.

 

Trata-se de imagens que nos colheram de surpresa e que, por isso, dispensam legendas e nos isentam de comentários. 

 

Quem imaginaria, no início do ano, que muçulmanos aparecessem de mãos dadas com cristãos? Que o Crescente fosse visto ao lado da Cruz?

 

Afinal, nem sempre é o esperado que ocorre. O inesperado também nos pode visitar.

 

A história não é uma obra concluída nem um circuito fechado. Como bem lembrou Xavier Zubiri, ela é um sistema aberto, um sistema aberto de possibilidades.

 

Umas vezes, funciona como obturação. Outras vezes, como é o caso do Egipto, aparece como iluminação.

 

O século XXI, que começara a 11 de Setembro de 2001 sob a égide da decadência, recomeçou a 11 de Fevereiro de 2011 sob os auspícios da esperança.

 

Até agora, a revolução do Egipto não esticou para os extremos. Foi desencadeada pela palavra e decidida pela persistência.

 

Para já, está a conseguir, coisa não desprezível, dois objectivos nada fáceis: derrubar uma ditadura e afastar o radicalismo.

 

 

2. Esta proximidade entre cristãos e muçulmanos parece desmentir todo um passado recente. Faz reviver, porém, tempos antigos: os tempos do começo.

 

É bom que se saiba que, nos inícios, moderação e respeito eram o clima reinante entre os membros destas duas religiões.

 

Ao conquistar Jerusalém, Omar garantiu segurança aos cristãos bem como às suas propriedades, igrejas e crucifixos.

 

Em meados do século VII, um patriarca oriental reconhecia que os muçulmanos «não atacavam a fé cristã; antes, pelo contrário, favoreciam a nossa religião, honravam os nossos padres e concediam benefícios a igrejas e mosteiros».

 

No século IX, Teodósio anotava a subsistência da mesma atmosfera: «Os muçulmanos têm uma grande boa vontade para connosco. Deixam-nos construir as nossas igrejas e observar sem dificuldades os nossos costumes».

 

Infelizmente, tudo se alterou com as cruzadas. Sob o pretexto de recuperar os Lugares Santos, foram cometidas atrocidades sem fim.

 

Rezam as crónicas que, em Julho de 1099, os cavalos escorregavam em poças de sangue. O ar estava infectado com o cheiro de corpos em decomposição.

 

David Hume classificou as cruzadas como «o maior sinal da loucura humana que alguma vez acontecera».

 

Isto deixou marcas de parte a parte. De resto, nenhuma religião tem o exclusivo da violência nem o monopólio do discurso da paz.

 

 

3. É por isso que ainda será cedo decretar que o 11 de Setembro está extinto. A violência é sempre uma ameaça que paira.

 

Mas creio ser possível afirmar que o 11 de Fevereiro constitui o nascimento de uma nova era.

 

É notório que o mundo não estava preparado para lidar com o impacto do 11 de Setembro. Estará habilitado para encarar o que se abriu a 11 de Fevereiro?

 

Daqui a dez anos, que balanço será feito? Irá o 11 de Fevereiro superar, de vez, o 11 de Setembro?

A força da persistência terá capacidade para vencer a persistência da força?

 

Estejamos atentos. Mas palpita-me que o Egipto está a posicionar-se como um precioso laboratório do que pode ser o futuro próximo.

 

Tentemos calar os preconceitos. Não consintamos que eles cativem a realidade.

 

Deixemos, primeiro, falar os factos. Depois, então, falemos nós.

publicado por Theosfera às 21:00

Fez, no seu quarto, um tríptico na parede, com um presépio, uma cruz e uma grande imagem de Cristo ressuscitado.

 

Todas as noites, passa bastante tempo só a olhar para aquele quadro, pedindo a simplicidade do presépio, a coragem da cruz e a alegria da ressurreição.

 

Ali, sente-se bem. Só que a realidade, no dia seguinte, é tão diferente, tão dura!...

 

publicado por Theosfera às 11:48

A situação é complexa, mas os dados são claros.

 

Há razões para a preocupação, mas não há motivos para espanto.

 

Com os impostos a subir e os salários a descer, que seria de esperar?

 

Hoje, sabe-se que há pessoas a cortar nos medicamentos e outras compram-nos a prestações.

 

Isto fere. Isto dói. Até quando?

 

Temos de resolver o problema do Estado, certo. Mas se com a (putativa) resolução desse problema, acabamos por agravar os problemas das pessoas, é sinal de que não percebemos o essencial.

 

O Estado é para as pessoas ou as pessoas são para o Estado?

 

Muitos não sabem como superar o impasse. Mas os que pensam que sabem também não têm ajudado a vencê-lo.

 

Melhores dias virão, seguramente.

 

Mas a geração sem remuneração, de que fala a célebre música dos Deolinda, não é apenas a geração dos trinta anos. É a também a geração dos cinquenta, dos sessenta, dos setenta, dos oitenta e noventa anos.

 

São muitos os idosos, que tanto trabalharam, e que, agora, nem para medicamentos têm haveres. 

publicado por Theosfera às 10:40

A vontade mantém-se optimista, mas, por mais que tente, a inteligência continua pessimista.

 

Aliás, já Arthur Schopenhauer aludia ao optimismo da vontade e ao pessimismo da inteligência.

 

Estamos, todos, empenhados na construção de um mundo melhor. E deste desígnio não é lícito fugir.

 

Só que os factos, com a sua teimosia, não parecem ajudar.

 

As coisas não são respeitadas. A vida não é defendida.

 

Os assaltos multiplicam-se. Os atentados aumentam.

 

A comunicação social acordou, agora, para uma realidade que já existe há muito e que tem contado com a nossa comatosa indiferença.

 

Há idosos sozinhos nas suas casas.

 

Por lá (sobre)vivem. Durante meses. Durante anos.

 

Por lá morrem e permanecem mortos. Durante meses. Durante anos.

 

Este mundo não me agrada nada.

publicado por Theosfera às 09:44

A China é já a segunda economia mundial.

 

Eis um facto e uma ironia.

 

É que a China que se impõe na economia é uma China que mimetiza o seu principal rival, os Estados Unidos da América.

 

A China está a enviar milhares e milhares de estudantes para as universidades americanas.

 

A China que vence não é uma China que se distingue; é uma China que imita.

 

As ironias que a história tece.

publicado por Theosfera às 09:39

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