Está confirmado. Mubarak afastou-se. Não de motu proprio, mas pela persistência do povo.
É grande o contentamento no Egipto. É enorme o alívio no mundo livre.
A celebração é (mais que) justificada. A festa é (mais que) merecida.
Mas este não é o fim. Talvez seja o fim do princípio.
Para já, o poder ainda está nas mãos do exército. O centro da decisão, porém, encontra-se no povo.
As imagens são parecidas com as que nós vivemos em Portugal a 25 de Abril de 1974.
Mas subsiste uma pequena diferença. Aqui, a revolução foi feita pelas forças armadas. O povo saiu quando a revolução estava praticamente concluída. No Egipto, foi o povo que fez a revolução, que cercou o regime, que não deu margem para alternativas quando se dispôs a tudo, até a morrer.
É uma lição para o mundo. Para já, não se viram bandeiras de Israel ou dos Estados Unidos queimadas.
Chegados ao fim do princípio, os egípcios e o mundo em geral estarão atentos aos próximos passos.
Há duas áreas que serão decisivas: uma interna e outra externa.
Internamente, espera-se que a situação avance para uma democracia. Externamente, aguarda-se que a relação com Israel se mantenha estável.
O que se passar no Médio Oriente é vital para a humanidade.
Está a fazer-se história no Egipto. Este é um incentivo para todos os que acreditam na liberdade e nos direitos humanos.
Como dizia Zubiri, a história é um sistema aberto de possibilidades. Umas vezes, funciona como obturação. Outras vezes, como é o caso, aparece como iluminação.
Não foi a violência que fez cair o regime. Foi a persistência.
Mubarak pensou, talvez, que a sua intervenção de ontem, onde reafirmara a vontade de não se recandidatar, iria dispersar a multidão concentrada na (já famosa) Praça Tahir. Equivocou-se. Nem o exército o terá apoiado.
Finalmente, a força da razão impôs-se sobre a razão da força.
Hoje é um dia feliz.