O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

O espanto foi geral quando, na planura florescente dos seus catorze anos, confessou: o meu maior sonho é não ser famoso.

 

Ainda houve quem pensasse que de um engano se tratasse.

 

Mas aquela confissão trazia uma mescla de desencanto e maturidade.

 

O que vem do mundo dos famosos tresanda a banalidade. É tudo oco, fingido, artificial, fabricado.

 

Não há ali espessura, densidade, autenticidade. Sobra muita intriga, inveja e uma miríade de imagens que fazem as delicias dos consumidores mas que deixam um ar de vazio na alma.

 

O mundo dos famosos assemelha-se a um labirinto do qual não se consegue sair. Muitas vezes, o fim é a tragédia.

 

Muitos famosos exibem um sorriso que esconde um turbilhão de dores.

 

Por isso é que Torga testemunhava que a sua fome não era de fama, mas de eternidade.

 

Não ser famoso é uma terapia. É uma forma de estar na vida sem aparecer no palco.

 

Porque o palco só faz desfilar máscaras, aparências.

 

O essencial é o que fica depois de tudo passar. E nada há que passe (e se esfume) tão depressa como a fama...

publicado por Theosfera às 16:37

Numa altura em que o frio aperta mas o sol espreita, quero acreditar que a esperança não migrou para um longe indetectável.

 

Quero crer apenas que ela entrou em pousio e que, nestas tardes gélidas, está a fermentar manhãs de luz.

 

Arrepia-me não somente o descontrolo das contas públicas. Fulmina-me por completo o desnorte emocional de tantos.

 

As notícias amplificam o caso mais particular, tornando-o num problema global discutido até à medula.

 

Há sentimentos alojados no coração que surpreenderão até os próprios.

 

Quero crer, porém, que a invernia não será eterna, apesar de já ser longa.

 

Qualquer coisa de bom irá germinar. Pena é que muitos sejam devorados pela violência assassina, devoradora e cruel.

 

O melhor não se vê. O essencial é invisível.

 

Os amanhãs, que alguns querem calar, acabarão por desabrochar. 

 

Não desalojemos a esperança.

publicado por Theosfera às 16:20

O tempo tudo transfigura e a distância tudo parece regenerar.

 

Até aquilo que, na altura, nos sabia a trivialidade consegue aparece revestido de doses surpreendentes de encanto.

 

Faz hoje, 20 de Janeiro, 50 anos que John Kennedy tomou posse como presidente dos Estados Unidos.

 

O seu mandato foi breve. O seu assassínio envolveu-o numa aura que o tempo não esbateu, antes ampliou.

 

O discurso que proferiu tornou-se antológico (cf. aqui).

 

A frase mais célebre continua a ser pertinente: «Não pergunte o que o seu país pode fazer por si; pergunte, antes, o que por ele pode fazer».

 

Quem já viajou alguma coisa pelas estradas da vida, é acometido por esta sensação: até os medíocres de outrora (e Kennedy nem era medíocre, mas estava longe de ser visto como um génio) sobrelevam de longe os mais capazes de hoje. Que, em comparação com eles, exibem uma mediocridade assustadora e perigosa.

 

Poucos pensaram, há 50 anos, que aquele discurso, além de curto, iria ser histórico.

 

A qualidade das palavras era grande. Não porque tresandassem a eloquência. Mas porque sabiam a sinceridade.

 

O que vem da alma é imortal.

publicado por Theosfera às 10:52

Diz-se que a imaginação ultrapassa a realidade. Mas há casos em que é a realidade a ultrapassar (de longe!) a imaginação.

 

O que se passou nos Estados Unidos contém todos os ingredientes da desmesura da maldade que nos atinge.

 

Um pai lembrou-se de obsequiar o filho, quanto este fez 14 anos, com uma...arma!

 

Pois o filho (em compensação?) acaba de matar o pai e um tio.

 

Segundo a imprensa, encarou tudo como uma calma desarmante.

 

O incompreensível apoderou-se de nós.

publicado por Theosfera às 10:46

Hoje, S. Sebastião. Amanhã, Sta. Inês. Sábado, S. Vicente.

 

Três dias, três mártires.

 

Para ser mártir, é preciso haver amor. Mas, por estranho que pareça, é preciso também haver ódio.

 

É incrível, mas é mesmo verdade. Sem ódio, não há martírio.

 

O odium fidei é a condição para alguém ser declarado mártir.

 

Estamos, pois, diante de uma mistura explosiva e, ainda por cima, dificilmente explicável.

 

Como é que o ódio se manifesta, regra geral, contra quem mais ama?

 

A fé está cheia de mistérios. E a vida não o está menos...

publicado por Theosfera às 00:05

Hoje as pessoas esperam muito. Sobretudo dos outros. Insiste-se mais nos direitos do que nos deveres.

 

De Barack Obama o mundo espera, talvez, demasiado.

 

Em dois anos não se pode mostrar tudo. E o que mostrou nestes dois anos foi uma espécie de reprise do que já vinha de trás. Obama continuou a mostrar vontade.

 

Falta-lhe, porém, força para inverter a realidade. Há milhões de americanos na pobreza, a sobreviver com apoios caritativos. O desemprego está a subir fortemente.

 

Falar bem não chega. Descomprimir o ambiente não basta.

 

Será capaz Obama de transformar a realidade? Será capaz alguém?

publicado por Theosfera às 00:04

Há quem defenda que devemos calar as dores, afogar os males, ignorar as mágoas e silenciar as injustiças. Confesso que eu mesmo já cheguei a pensar assim.

 

Admiro quem, por estoicismo ou por ascese, é capaz de guardar tudo (incluindo as piores afrontas) no seu íntimo.

 

Não haverá uma regra universal, mas, se absolutizássemos este princípio, nenhuma doença seria curada e nenhum mal seria combatido.

 

Por outro lado, se Ellie Wisel pensasse deste modo, ter-nos-ia privado de obras como Noite, Dia, Amanhecer ou O esquecido, autênticas denúncias da chacina perpretada por Hitler.

 

Se Miep Gies, que acaba de falecer, também pensasse assim, não nos teria legado o extraordinário diário de Anne Frank, outro repositório vivo da tragédia nazi.

 

Aliás, se os primeiros cristãos também enveredassem por este caminho, não nos teriam deixado as actas dos mártires.

 

E, à cabeça de tudo, temos os Evangelhos, que não escondem os horrores por que passou o Filho de Deus.

 

Por muito nobre que seja, o silêncio, por vezes, é aliado da injustiça. E à colação acaba por vir sempre o alerta de Shibi Ebadin: «Se não podeis vencer uma injustiça, pelo menos contai-a a todos».

 

Não caiamos nunca no oitavo pecado mortal, aquele que, porventura, mais nos tenta hoje em dia: o pecado da indiferença.

publicado por Theosfera às 00:03

Não precisa de ser poderoso nem afamado.

 

Não precisa de ser palavroso nem loquaz.

 

Não precisa de concordar nem de (nos) aplaudir.

 

Não precisa de estar sempre a rir e pode até chorar.

 

Não precisa de aparecer a toda a hora, porque, mesmo que não apareça, nós sabemos que ele está.

 

Pode ser alto ou baixo. Pode ser rico ou pobre. Mesmo pobre, é sempre rico.

 

Pode pensar como nós ou pensar de modo diferente de nós.

 

O amigo é sobretudo aquele que está.

 

É o que confia em nós e em quem nós confiamos.

 

É o que está em nós, mesmo que more longe de nós.

 

É o que nos escuta.

 

É o que usa a linguagem da verdade e não da bajulação.

 

É o que não diz nas nossas costas o contrário do que diz à nossa frente.

 

É o que nos diz tudo a nós e jamais fala mal de nós.

 

O melhor presente do amigo é o presente da (sua) presença.

 

É aquele com quem contamos e que conta connosco.

 

É o que chora ao nosso lado. É o que não desaparece nas horas de dor.

 

É o que não nos recrimina. É sobretudo o que nos acompanha.

 

O amigo não precisa prometer nada nem dizer qualquer coisa.

 

Nós sentimos o amigo nas horas de maior aflição.

 

Se o deixamos de sentir é porque, afinal, o amigo não era.

 

Onde está ele, o amigo?

 

A prosperidade sugere legiões de amigos. Mas é a adversidade que os selecciona e a vida que os testa.

 

Amigo é o que permanece quando todos partem.

 

Amigo não tem férias. Amigo é sempre amigo.

 

Amigo é Deus. Amigo é Jesus.

 

Amigo é quem vive o amor de Deus e a amizade de Jesus.

 

A amizade é, quase sempre, o silêncio repartido e a dor partilhada.

 

Quantos são os amigos?

 

Não serão muitos, mas são os necessários.

 

Às vezes, amigo não tem plural.

 

Mas cada amigo não é singular, único, irrepetível?

publicado por Theosfera às 00:01

Orar é ser conservador? Passar muito tempo numa igreja é ser conservador?

 

Testemunhar o Evangelho e a doutrina é ser conservador? 

 

Visitar um doente e um preso é ser conservador?

 

Escutar as pessoas é ser conservador?

 

Não seria tempo de abandonar, de uma vez para sempre, este tipo de rotulagem?

 

Não será conservador quem (só) sabe etiquetar os outros de conservadorismo?

 

Deixemos de querelar por estes motivos, tão vácuos.

 

Substantivemos as nossas discussões.

 

Um cristão é discípulo do maior revolucionário da História, do único que a mudou!

publicado por Theosfera às 00:00

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