O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011

A campanha eleitoral caminha para a recta final e não deixa grandes saudades.

 

Só que o desconforto não é de agora.

 

Ouvimos dizer que estas são as eleições mais desinteressantes, mas o certo é que há décadas escutáramos o mesmo.

 

Para quem pugna pela moderação e anela por esclarecimento, este tipo de campanha não ajuda.

 

Os ânimos ficam exaltados e o espírito não está nada esclarecido.

 

Eu sei que o ser humano é feito de emoção e este género de acção permite soltar a dimensão emotiva.

 

Também é verdade que, no mundo do espectáculo, é difícil resistir à tentação dos efeitos cénicos.

 

Só que o saldo é claramente negativo e o modelo está gasto.

 

Os candidatos cansam-se, os militantes aparecem, mas o povo não parece ser mobilizado.

 

Seria, pois, de repensar toda esta forma de fazer campanha. Que, além de pouco útil, é muito cara.

 

Quem quisesse candidatar-se apresentava-se numa cerimónia pública e dava a conhecer o seu programa.

 

Preocupar-se-ia mais em mostrar o acerto do que propõe do que em demonstrar o (suposto) desacerto dos restantes candidatos.

 

A comunicação social, incluindo a internet, difundiriam os projectos e o povo reflectiria.

 

Para quê esta coreografia pelo país todo com rios de dinheiro desperdiçado?

 

As campanhas eleitorais nada esclarecem e pouco mobilizam.

 

Há que fazer pedagogia de modo diferente. Com menos dinheiro, mais substância e melhores resultados. 

publicado por Theosfera às 16:19

Xavier Zubiri escreveu que «o pulchrum é algo aberto e que a beleza nunca é algo fechado».

 

Tomás de Aquino, falando da música, escreveu que, «embora os ouvintes não percebam de quando em quando aquilo que é cantado, compreendem todavia por que motivo se canta: para louvar a Deus. E isso é suficiente».

 

E não é a beleza que, como inquiria Fedor Dostoievsky, há-de salvar o mundo? É que a Beleza, como já intuíam os antigos, é, juntamente com a Verdade e com a Bondade, um outro nome de Deus.

 

Foi pena que, durante séculos, tivéssemos esquecido a Beleza. Por isso até se alterou a descrição que Jesus faz de si mesmo em Jo 10,11. Aqui aparece-nos como o «bom Pastor». Mas no original não está assim. Se fosse bom estaria agathós. Mas o que lá aparece é kalós.

 

«Eu sou o belo Pastor» é o que nos surge e é assim que deveríamos ler. É claro que o bom é belo. Mas o belo também não é bom?

 

Para Sto. Agostinho, o belo é o esplendor da verdade e para Heidegger é a manifestação da verdade.

 

Zubiri ajuda-nos a desenterrar o belo do prolongado cativeiro em que esteve retido. A Beleza, tal como a bondade e a verdade, é actualidade da realidade. A realidade é actualizada na inteligência como verdade, na vontade como bondade e no sentimento como beleza.

 

Na vida, precisamos não só de uma filosofia, mas também (e bastante) de uma filocalia. O amor da sabedoria surge sempre irmanado ao amor pela beleza.

 

Segundo von Balthasar, para a sociedade actual a via para chegar a Deus  é a via do 3º transcendental,  o transcendental esquecido, a Beleza.  A Beleza é o Todo que se oferece no fragmento.

 

Bento XVI chama a atenção para uma tentação muito forte, ínsita na cultura contemporânea e até em alguns sectores da Igreja. Trata-se da tendência (ou, melhor, da tentação) para separar a Beleza da Verdade e da Bondade.

 

 Tarefa impossível, porém. As três estão unidas e fundidas em Deus. Deus é a Beleza máxima, a Bondade maior e a Verdade suprema.

 

 A Beleza sem a Verdade reduz-se a um mero deleite estético. É na Verdade que a Beleza é bela.

 

 É claro que custa apelar para a Verdade num tempo que parece ter contrato firmado com a mentira. Mas haverá Beleza sem Verdade?

 

 A dedicação à Verdade acarreta sempre anticorpos. Há quem não suporte a Verdade e faça tudo para torpedear e agredir os que, modestamente, procuram viver no seu seio.

 

 Eis, pois, uma proposta de vida que não podemos desatender: viver a Beleza da Verdade e viver a Verdade da Beleza. No fundo, só a Beleza é verdadeira. E só a Verdade é bela. Deixem-nos procurar a Verdade. E desfrutar da sua Beleza.

 

publicado por Theosfera às 00:03

Já nem a palavra é o que era.

 

Na sua obra Presenças Reais, George Steiner assinala que vivemos na «era do epílogo».

 

Epílogo quer dizer depois da palavra. Em Os Logocratas, o referido autor fala de «pós-literacias», antecipando que será «a imagem, nas suas formas variáveis e indefinidamente reprodutíveis, que dominará a consciência futura». Aliás, hoje em dia, o recurso ao logos «reduz-se praticamente à legenda das imagens».

 

Steiner vê aqui um factor que explica «a derrocada do nosso ensino secundário e o seu desprezo pela aprendizagem clássica, pelo que se aprende de cor. Doravante, uma espécie de amnésia planificada prevalece nas nossas escolas».

 

Num cenário como este, poderá dizer-se que o diálogo é a prioridade? Como fazer passar a palavra e a razão se, na labiríntica cultura pós-moderna, pouca apetência existe pela palavra e pela razão?

 

Para haver diálogo, não é necessário haver perspectivas iguais, mas é indispensável usar instrumentos comuns. Pela sua própria natureza, o instrumento do diálogo é a palavra, é a razão.

 

Podemos discordar quando dialogamos. Mas, pelo menos, entendemo-nos. A questão que a actualidade nos coloca é: que tipo de logos entra no diálogo? O logos, tal como o conhecemos, é uma criação ocidental. Será ele o meio mais adequado para promover o relacionamento com outras civilizações? Não será altura de investir num logos mais abrangente, mais universal?

 

Não nos podemos cingir ao logos racional, conceptual. Urge revalorizar um logos prévio: o logos existencial, o logos pessoal, o logos simbólico, o logos afectivo. A palavra que aproxima não é só a que provém do entendimento. A palavra que aproxima é a que envolve o gesto, o acolhimento, a simpatia, enfim, toda a vida e a vida toda.

 

Digamos que se trata de uma espécie de logos antes do logos, de uma palavra antes da palavra. É por tudo isto que, na hora que passa, a maior urgência da humanidade não é sequer o diálogo. É algo mais elementar. É o encontro, a relação, a aceitação, o respeito, a convivência.

 

O tempo presente é severamente eloquente. Quando dialogamos, emitimos palavras e trocamos razões, mas, muitas vezes, acabamos também por provocar desentendimentos e cavar fracturas.

 

Temos de apostar, então, no diálogo antes do diálogo. No diálogo afectivo antes do diálogo racional.

 

Nesta aldeia global que formamos, ainda não será tempo de nos entendermos, mas é (mais que) tempo de nos encontrarmos, de nos aceitarmos, de nos respeitarmos

 

publicado por Theosfera às 00:02

Um dia, um santo disse a um dos seus religiosos:

— «Vai ao cemitério e insulta os mortos».

O religioso obedeceu. Ao voltar, o santo perguntou-lhe:

— «Que responderam?»

«Nada».

«Pois bem, volta e faz-lhes grandes elogios».

O religioso obedeceu novamente.

«Que disseram desta vez?»

«Nada também».

Replica o santo:

— «Quanto te insultarem ou quanto te louvarem, faz como os mortos».

publicado por Theosfera às 00:00

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