O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

... são a amizade e (pasme-se!) a filosofia.

 

Zubiri entrevia estas como as duas grandes prioridades já na distante década de 1930.

 

Vale a pena reflectir.

 

Estamos diante de duas fortes carências. E, nessa medida, de duas monumentais urgências.

 

Há um enorme défice no relacionamento e no pensamento.

 

publicado por Theosfera às 22:57

1. Parece que é na África que se encontra o nosso berço. E tudo indica que é na África que estamos a reencontrar o nosso destino.

 

Haverá, no que se está a passar sobretudo na Tunísia e no Egipto, muito de incerto, de perigoso e até de temerário. Mas reconheçamos que, em tudo o que os nossos olhares avistam, há também muito de belo, de heróico, de comovente e de puro.

 

Até há poucos dias, seríamos levados a pensar que já não se faziam revoluções assim.

 

E eis que, de repente, nos sentimos revisitados pelas imagens (imperecíveis) da Checoslováquia de 1968, da Praça de Tianamnen e da queda do Muro de Berlim.

 

É claro que nenhum êxito está assegurado à partida. O Muro caiu. Mas, antes da queda do Muro, a revolta de Praga foi esmagada e muitos manifestantes de Tianamnen foram mortos.

 

 

2. Pensávamos, entretanto, nomeadamente neste ocidente adormecido, que tudo isto estaria arrumado nos anais da história e nos baús das recordações.

 

Desde a década de 90, deixámos de nos manifestar por ideais. Apenas nos mobilizamos por interesses.

 

E, mesmo aqui, é por interesses pessoais ou de grupo que saímos para a rua. Daí que as manifestações nos coloquem não tanto ao lado uns dos outros, mas uns contra os outros.

 

Habitualmente, só nos manifestamos quando as nossas coisas estão em risco. Porque é que não nos manifestamos pelos outros?

 

Olhemos para a Tunísia e para o Egipto. As imagens de violência deixam-nos, certamente, destroçados, mas há uma lição que avulta.

 

 Aquele povo levantou-se, praticamente em uníssono. É caso para dizer que, ali, se cumpre ainda a máxima do um por todos e todos por um.

 

 

3. Vamos, por isso, notando que há qualquer coisa que fomos perdendo na Europa e que estamos a reencontrar, agora, na África.

 

Na Tunísia e no Egipto, é todo um povo que se levanta, é toda uma voz que se ergue e é toda uma onda que se cria em torno de um desígnio comum: recuperar a liberdade, pôr fim à opressão.

 

Afinal, ainda há quem lute por ideais, quem não se subjugue à ordem instituída.

 

Ainda há quem, por uma causa, esteja disposto a sacrificar não apenas o descanso, não apenas o lugar, mas a própria vida.

 

O gesto de Mohamed ElBaradei é bastante raro. Quantos arriscariam uma reconfortante carreira diplomática, aureolada com um Prémio Nobel, para desafiar um poder impiedoso?

 

Mas a reacção quase unânime à atitude de Mohamed Boauzizi é simplesmente espantosa.

 

Este jovem tunisino, que ganhava o sustento para a família, era constantemente incomodado e agredido pelas autoridades. A certa altura, não aguentou e imolou-se com gasolina.

 

A sua morte desencadeou uma vaga de estremecimento e de revolta incontida. Muitas pessoas se juntaram na sua cidade. Outras vieram de muitas cidades. Até que praticamente todo o povo se congregou.

 

 

4. Ninguém pode antecipar o futuro. Às vezes, as revoluções degeneram em amargas desilusões.

 

Tudo pode até ficar pior. Mas nada continuará igual. E só por isso já terá valido a pena sair, gritar, chorar, persistir.

 

É com esta África que podemos aprender. A Europa foi perdendo o rumo da vida, a bússola do sentido, o horizonte da esperança.

 

Uma depressão endémica abateu-se sobre o ocidente. Só nos levantamos quando um direito é perdido, quando um hábito é alterado.

 

 É por isso que há qualquer coisa de épico na porfia que o povo tunisino e egípcio está a manter pela sua dignidade.

 

Já há mártires e a vida humana é demasiado preciosa para que um só ser humano seja imolado. Como sempre, a esperança está a ser regada com sangue.

 

Por aqui, continuamos atomizados, deslaçados. Sobram aspirações corporativas. Falta um desígnio nacional, um rumo colectivo, um sentido comum.

 

Ainda estaremos a tempo de nos reencontrarmos como povo, como comunidade, como família?

publicado por Theosfera às 11:51

Às vezes, é preciso acontecer o pior para despertar em nós o melhor.

 

É sobretudo nos dramas, nas contrariedades e nas tragédias que mostramos que, afinal, ainda somos humanidade, ainda temos coração, ainda somos capazes de nos condoer, de abraçar, de partilhar, de estender a mão, de gerar calor, de semear esperança.

 

Estranho (mas, apesar de tudo, belo) paradoxo este: é preciso que alguns percam tudo para percebermos que, afinal, nem tudo está perdido!

publicado por Theosfera às 00:09

Tudo o que tem princípio tem fim.

 

Até o que parece invencível acaba por ser vencido.

 

Acabam organizações, acabam clubes, acabam partidos, acabam regimes, acabam ideologias, até acabam países.

 

Portugal tinha uma monarquia que durava há séculos. Parecia consolidada. Nunca nenhum rei tinha sido assassinado. Isto descansava D. Carlos, que acabou por ser alvejado faz amanhã 103 anos.

 

Hoje, aliás, faz 120 anos que houve uma revolta no Porto, a primeira grande revolta republicana.

 

O povo ficou melhor com a república? Os dados são incontroversos. Não houve mais paz. Não houve sequer mais democracia. Nem sequer houve mais desenvolvimento.

 

A experiência ensina que é sempre mais um regime que cai do que outro que entra.

 

A monarquia estava em decadência em finais de novecentos. E a democracia não o estará hoje? 

 

Não é a inércia que nos há-de orientar. É a vontade e, acima de tudo, o sentido de justiça.

 

Seja como for, nenhum regime é eterno. E, apesar de eu mesmo me rever no significado último da democracia,  é preciso ter presente que nem a democracia perdurará por todo o sempre. Basta ler a volumosa obra de John Keane com o acutilante título Vida e morte da democracia.

 

S. Paulo chama a nossa atenção para a caducidade de tudo. Tudo acaba. Até a fé e a esperança. Depois de tudo vermos, já não precisamos da fé. Depois de tudo alcançarmos, já não carecemos da esperança.

 

O que nunca termina é o amor, a doação, a entrega.

 

Façamos da vida uma semente de amor. Se não houver amor, vale a pena viver?

publicado por Theosfera às 00:08

Em tempos de invernia do espírito, não deixe de tomar duas preciosas vitaminas: a vitamina E e a vitamina C.

 

Do que mais carecemos é de Esperança. Onde encontrá-la? Em Cristo!

publicado por Theosfera às 00:06

Miguel Esteves Cardoso tem razão. A regra de ouro de todas as religiões acaba por ser também «a lição desobedecida de todas elas: não trates os outros como não gostarias que os outros te tratassem a ti».

 

Urge inverter a tendência. É hora de alterar o sentido.

publicado por Theosfera às 00:05

Mais uma semana de trabalho nos espera.

 

A temperatura está bastante baixa, o ânimo parece deveras reduzido.

 

Há sempre, porém, uma nesga de luz a rasgar a escuridão mais espessa.

 

Há muitas adversidades à volta.

 

Olha, meu Irmão, para a riqueza que Deus semeou no teu coração.

 

Segue a tua consciência.

 

Ela é o eco epifânico do Eterno dentro de ti.

 

Uma feliz semana. Muita paz.

publicado por Theosfera às 00:00

Domingo, 30 de Janeiro de 2011

Haver uma dia da não-violência na escola é, antes de mais, um mau sintoma.

 

É um sintoma de que a violência vai alastrando no espaço escolar.

 

Mas haver um dia como este expressa também uma sensibilidade e constitui uma esperança.

 

A sensibilidade diante deste problema vai aumentando e a esperança de vencer esta chaga vai crescendo.

 

Onde há um problema, tem de haver uma disponibilidade para o encarar e uma determinação para o vencer.

 

A violência na escola é uma realidade e uma ameaça. Mas é também um acicate para despertar as melhores energias.

 

Há, hoje em dia, uma tendência para que a escola desça ao nível da rua. É tempo de desencadearmos um movimento para que a rua suba ao nível da escola.

 

A escola é o espaço da aprendizagem. É, por isso, o lugar do relacionamento, dos afectos. É o laboratório do futuro e o ventre da esperança.

 

Acredito na escola.

publicado por Theosfera às 21:22

Percebe-se que o poder fique perturbado com a dissidência e que não aprecie muito a dissonância. Mas qualquer instituição só tem a lucrar com o pluralismo e a vitalidade da discussão.

 

A unidade é necessária, mas o unanimismo pode ser mortal. O escritor brasileiro Nélson Rodrigues tem uma palavra demasiado forte que me abstenho de reproduzir.

 

Os argumentos devem ser rebatidos, quando for caso disso, com argumentos. Agora vir rebater argumentos com considerações sobre o carácter de quem profere argumentos é empobrecedor.

 

Almeida Santos é um homem respeitável, superiormente inteligente e habitualmente moderado. É um grande senador. Escusava, por isso, de vir dizer que Carrilho está zangado. E que é (só) por isso que critica a liderança de Sócrates.

 

Estar atento à crítica é um sinal de sensatez.

publicado por Theosfera às 20:54

A porta é estreita e o caminho, por vezes, afigura-se ínvio, intransitável.

 

Mas, mesmo assim, as portas poderão abrir-se e os caminhos hão-de ser percorridos.

 

Na tua consciência, meu Irmão, a voz do Eterno infunde-te ânimo para a tua jornada no tempo.

 

Tudo de bom. Muita paz.

publicado por Theosfera às 19:10

Por todo o orbe ressoou, hoje, uma mensagem sobejamente conhecida, mas perenemente renovada. É uma mensagem que, a cada passo, nos transporta para uma humanidade florida, resplandecente de beleza e tonificada pela esperança.

 

Felizes os pacíficos, foi dito. Mesmo quando, como Gandhi, são maltratados e assassinados. E faz, neste dia, 63 anos que o mahatma caiu ao som de balas.

 

Dizia o apóstolo da não-violência que amava a Cristo, mas não gostava dos cristãos. Penalizava-o sobremaneira a distância (quase infinita) entre a mensagem de Cristo e a conduta dos cristãos.

 

Quem proclama uma mensagem como a das Bem-Aventuranças transporta um tesouro, mas contrai também uma responsabilidade.

 

Trata-se de uma mensagem polarizada em torno da misericórdia e da justiça.

 

É por isso com pesar que, no mesmo dia em que escutamos esta mensagem, tomamos conhecimento de um processo aberto a um teólogo (cf. aquil).

 

Entende-se que possa haver necessidade de discutir e de, fraternalmente, advertir. Mas usar termos como processo é algo que não se compagina com a atitude amável de Jesus.

 

Mas não são apenas os que pensam diferente da autoridade que são incomodados. Pelos vistos, os que querem seguir a autoridade também são perturbados...pela autoridade (cf. aqui).

 

Estará a verdade na autoridade? Ou não deverá ser a autoridade a estar (sempre!) na verdade?

 

Por causa da verdade, fere-se a justiça e obscurece-se a misericórdia. Precisamos de ter presente que, sem justiça e misericórdia (que não contendem entre si), a defesa da verdade fica debilitada.

 

As Bem-Aventuranças têm de ser proclamadas e, acima de tudo, vividas. Têm de estar nos lábios, mas têm de figurar, antes de mais, na vida.

 

Importa regressar a Jesus. Urge nunca deixar Jesus. No monte, Ele continua a identificar-Se com os perseguidos, com os que choram, com os que têm fome e sede de justiça.

publicado por Theosfera às 18:52

É sempre bom ouvi-las.

 

É cada vez mais urgente vivê-las.

publicado por Theosfera às 13:53

Há qualquer coisa de épico na porfia que o povo tunisino e egípcio está a manter pela sua liberdade.

 

E é interessante notar a atitude do exército que, num caso e noutro, sabe interpretar o sentir popular.

 

Já há mártires e a vida humana é demasiado preciosa para que um só ser humano seja imolado.

 

Fica o testemunho e o exemplo. Resta saber como se irá reconfigurar a situação naqueles países. Há sempre o perigo de uma nova ditadura substituir uma antiga ditadura.

 

Se o povo é capaz de enfrentar um poder opressor, como é que se compreende que uma lei como o acordo ortográfico seja aprovada sem que o povo se pronuncie?

 

Há aqui a conjugação entre dois factores perturbantes: a desmesura do Estado e alguma anemia dos cidadãos.

 

É preciso reacreditar. E é urgente voltar a acordar. Sempre na paz.

publicado por Theosfera às 13:41

Sábado, 29 de Janeiro de 2011

Há muitas aspirações na sociedade. Acontece que essas aspirações parecem parcelares. São aspirações que se atropelam, se sobrepõem e se anulam. São aspirações que colocam pessoas e grupos longe uns dos outros e até uns contra os outros.

 

As apirações dos políticos parecem distantes das aspirações dos cidadãos.

 

As aspirações dos gestores parecem distantes das aspirações dos trabalhadores.

 

As aspirações de uns trabalhadores parecem distantes das aspirações de outros trabalhadores.

 

Isto é visível particularmente nas greves e nas manifestações. Nestas, é raro encontrar ecos de apoio fora do âmbito de quem promove as greves e as manifestações.

 

Andamos atomizados, deslaçados. Sobram aspirações corporativas. Falta um desígnio nacional, um rumo colectivo, um sentido comum.

 

Ainda estamos a tempo de nos reencontrarmos como povo?

publicado por Theosfera às 20:42

Zubiri deixou, no seu magistério fecundo, um apelo fundamental.

 

A missão do pensamento é, antes de mais, apreender e não julgar.

 

O mais grave é que não falta quem julgue antes de apreender ou até sem apreender.

 

A humildade faz-nos trilhar todos os caminhos e percorrer todos os passos.

 

Hoje, os percursos do pensamento e sobretudo da informação são tecidos de julgamentos e adornados de preconceitos.

 

Eis uma tendência que importa corrigir. Eis uma tentação que urge superar. 

publicado por Theosfera às 20:35

Jesus proclama felizes os pobres, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os mansos, os pacíficos e os perseguidos.

 

Olhando para a prática das igrejas cristãs, há um sério exame a fazer. Em quem se inspiram?

publicado por Theosfera às 20:33

Prossegue o clamor de todo um povo pela sua libertação.

 

No Egipto, os mártires já são muitos. 

 

Só hoje, parece que foram mortas noventa pessoas.

 

A esperança está a ser regada com sangue.

publicado por Theosfera às 20:20

Sexta-feira, 28 de Janeiro de 2011

Há uma diferença, nada despicienda, entre a Tunísia e o Egipto.

 

O efeito de cascata está a alastrar, mas é preciso prestar atenção a um dado importante.

 

Na Tunísia, o exército colocou-se ao lado do povo.

 

No Egipto, as forças policiais aparentam estar ao lado do poder.

 

Será que vão manter sempre essa posição?

 

Já tombaram vários mortos.

 

Parece que estamos a reviver o último terço de 1989 quando os países de leste viram cair regimes que se afiguravam inexpugnáveis.

 

Ainda é cedo para antecipar o desfecho.

 

Uma coisa é certa. O povo está disposto a tudo. Quando se enfrenta a morte, a determinação é grande. Aguardemos.

 

Que a justiça se faça. E que a paz regresse.

publicado por Theosfera às 21:51

Têm os portugueses uma pulsão irresistível pela diáspora. Vemo-nos bem lá fora. Sentimo-nos em casa em todo o lado. E o nosso desempenho é reconhecido e premiado.

 

Vieira tinha razão: «Para nascer Portugal, para morrer o mundo».

 

Há cientistas de renome como António Damásio. Políticos no topo como Durão Barroso e António Guterres. Economistas como António Borges e Horta Osório.

 

Mas é, sem dúvida, no futebol onde o talento português mais se faz sentir.

 

São muitos os treinadores que singraram. O melhor do mundo é José Mourinho.

 

São bastantes os jogadores que triunfaram. Cristiano Ronaldo já foi eleito o melhor.

 

Até nos países mais improváveis, encontramos futebolistas lusos.

 

Brilham em todas as posições: avançados de eleição como Cristiano Ronaldo, Nani, Simão, Quaresma, Hugo Almeida, etc.

 

Centro-campistas também não faltam: Raul Meireles, Manuel Fernandes, Duda e Tiago.

 

E defesas também se impõem por essa Europa fora: Bozingwa, Paulo Ferreira, Bruno Alves, Ricardo Carvalho.

 

Já no que toca a guarda-redes, o saldo não parece ser tão positivo.

 

Vítor Baía foi a maior contratação de sempre para um jogador na sua posição. Mas nunca foi indiscutível no Barcelona.

 

Ricardo de titular da selecção passou a jogador não inscrito (nem sequer suplente) de uma equipa da segunda divisão espanhola.

 

Eduardo passa por grandes dificuldades no Génova. Daniel Fernandes é suplente no Panatinaikos.

 

No passado, Vítor Damas destacou-se na Espanha, mas num clube de reduzida projecção: o Santander.

 

Fala-se, agora, na possível transferência de Rui Patrício para o Manchester.

 

Para um jovem, é difícil resistir. Mas seria bom que reflectisse.

 

A posição de guarda-redes é muito específica. Há quem brilhe em todo o lado como Preud'Homme ou Schmeichel, mas também há quem, estando de tal modo identificado com determinados ambientes, não singre quando muda. É o caso de Fabien Barthéz, que, titular da selecção francesa campeã mundial, não triunfou no Manchester.

 

Se olharmos para o passado, os que terão sido os maiores guarda-redes de sempre de Portugal nunca jogaram em clubes estrangeiros: Azevedo, Costa Pereira e Manuel Galrinho Bento.

 

 

É tudo muito misterioso. São dados para meditar. 

publicado por Theosfera às 21:16

Há qualquer coisa que fomos perdendo na Europa e que estamos a reencontrar na África.

 

Fomos perdendo, aqui, o rumo da vida, o horizonte da esperança, a bússola do sentido.

 

Uma depressão endémica abateu-se sobre o ocidente.

 

Andamos agastados uns com os outros e manifestamo-nos uns contra os outros.

 

Só nos levantamos quando um direito é perdido, quando um hábito é alterado.

 

Tudo isto sabe mais a grito de desespero do que a eco de determinação.

 

De há um tempo para cá, todos os levantamentos têm resultado conhecido: é o que os poderes ditam.

 

Assim foi com as propinas. Assim foi com o porte pago. Assim foi com as portagens. Assim é com o iva. Assim é com os despedimentos.

 

Gritamos, mas sabemos, à partida, que ninguém nos ouve. O jogo está decidido antecipadamente.

 

É por isso que a África reaparece como o reencontro com aquilo que fomos perdendo.

 

Eis todo um povo que se levanta, que caminha, que não desiste.

 

Na Tunísia, já fez cair o presidente. No Egipto, é o presidente que treme.

 

Já houve mortes. Ainda haverá mais mártires.

 

Mas o povo não desiste. E continua a caminhar. Sem cálculo. Com energia e muita esperança.

 

 

publicado por Theosfera às 16:20

Um dia, alguém perguntou a Óscar Wilde: «Sabes qual é a diferença entre um santo e um pecador?».
 
O escritor irlandês respondeu: «Sei. É que o santo tem sempre um passado e o pecador tem sempre um futuro».
 
Como é bom conviver com pessoas com a sabedoria e a simplicidade de S. Tomás! Um santo enquanto sábio, um sábio enquanto santo!
 
A maior santidade é uma manifestação de sabedoria. E a maior sabedoria é sempre a santidade.
 
Hoje é dia de S. Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. Não sei que mais admire nele, se a santidade, se a sabedoria.
 
Dialéctica infundada, porém. Tomás foi sábio porque santo e foi santo porque sábio. Ele percebeu belamente que a verdadeira sabedoria é a santidade e que a autêntica santidade é sempre sabedoria.
 
A sua humildade levou-o a procurar constantemente a verdade. Fê-lo até ao fim da vida. E fê-lo não só sentado à secretária. Fê-lo sobretudo de joelhos.
 
A Teologia não é um exercício diletante. É um acto de fé que não exclui a razão, antes a optimiza.
 
A fé envolve a vida e não deixa a razão de fora. Foi Tomás quem porfiou na consolidação da aliança entre a razão e a fé: «A razão postula a fé e a fé postula a sua compreensão racional».
 
Homens como Tomás não passam de moda. São imortais. Por isso, a Igreja, no Vaticano II, faz dele o único teólogo cujo pensamento recomenda expressamente na formação dos sacerdotes.
 
Era um homem silencioso. Vivia muito a partir de dentro, a partir do fundo. Parecia um anjo. Não deixou de ser humano por isso. É um acto de sabedoria aprender com quem nos pode ajudar. Inclusive com os anjos.
 
Nem todos podemos ser sábios como Tomás. Nem todos poderemos ser místicos como Teresa de Lisieux, que viveu às portas do século XX. Mas todos somos chamados a ser santos como os dois. Ambos mergulharam no mesmo (e infindo) oceano: o mistério santo de Deus!
 
Tempos diferentes e personalidades diversas partilham a mesma preocupação: encontrar o seu lugar na Igreja, na humanidade.
 
No século XIX, Teresa de Lisieux foi perita na ciência do amor. No século XIII, Tomás de Aquino fora mestre no amor da ciência.
 
Ambas as vias conduzem a Deus: o amor é a maior ciência; a maior ciência é o amor.
publicado por Theosfera às 10:21

Não foi ontem. Foi hoje que a neve resolveu visitar Lamego, derramando-se sobre os seus arredores.

 

Na cidade, não há praticamente vestígios. Mas o panorama que da cidade se avista está, imaculadamente, branco.

publicado por Theosfera às 10:10

Na sua intervenção televisiva de ontem à noite, António Barreto chamou a atenção para o que se está a passar nos cortes dos vencimentos dos trabalhadores.

 

Igualizar o que é diferente é não só pouco estimulante como profundamente injusto.

 

Os cortes não deviam ser a eito ou cegos, como ele disse.

 

Era fundamental que se segregasse o trigo do joio.

 

Serviços competentes serem tratados como serviços que não funcionam é desolador.

 

Compensar o funcionário empreendedor como o funcionário incumpridor é injustificável.

 

Quando não se distingue o mérito, está a promover-se a mediocridade. Assim não vamos lá.

 

A meritocracia está a ser subjugada pela medianocracia.

 

Esta manhã está a ser inundada com notícias acerca de salários volumosos de gestores públicos.

 

O presidente do Banco de Portugal, por exemplo, ganha muito mais que o seu homólogo dos Estados Unidos.

 

Ontem, foi alvitrado que ninguém pudesse ganhar mais que o presidente da república.

 

Parece-me razoável. Como é que alguém que não está no topo pode ganhar mais do quem no topo se encontra?

 

Não se trata de inveja ou de miserabilismo. Trata-se de justiça.

 

E, num momento de crise, os sacrifícios não podem ser apenas para os mesmos: os sacrificados de sempre! 

publicado por Theosfera às 10:00

Hoje em dia, abundam técnicos e especialistas. Mas não restam muitos sábios. Em tempo de poupança, ditada pela crise, é pecaminoso desperdiçá-los.

 

Esta noite pudemos ouvir, por poucos minutos é certo, um dos poucos sábios que nos resta: António Barreto.

 

À competência e argúcia acrescenta lucidez e moderação.

 

Toma posições sem ser sectário.

 

Apreende a realidade e transmite o seu olhar sobre ela sem disfarces.

 

Sublinhou o óbvio esta noite: a campanha eleitoral foi pobre, mas não vale a pena estar sempre a insistir no mesmo.

 

Os próximos três ou quatro meses tornar-se-ão esclarecedores: ou há entendimento entre presidente da república e primeiro-ministro ou temos mais crise.

 

Era bom que os principais partidos se entendessem em nome do país e que não se digladiassem em prejuízo do país.

 

À testa dos nossos problemas colocou a justiça. Que, assinalou, funciona pior nos grandes centros do que nas pequenas localidades.

 

A educação também precisa de ser reformulada. Ao governo cabem duas tarefas fundamentais: definir um programa curricular comum e manter uma actividade inspectiva. O resto cabe às comunidades e às suas forças vivas. É preciso apostar - de vez! - na sociedade civil.

 

Pressente-se muito desencanto com o presente e desenha-se alguma apreensão quanto ao futuro.

 

Já há quem (Henrique Raposo e Francisco José Viegas, por exemplo) tenha lançado o seu nome como possível candidato às presidenciais de 2016.

 

Enquanto sociólogo, António Barreto é um profundo conhecedor da nossa identidade e das suas idiossincrasias mais entranhadas.

 

Pressinto, porém, que, fiel a si mesmo, optará por permanecer como uma reserva. Reserva cívica e reserva moral de um país que desperdiça o que há de melhor.

 

Na vida, há sempre uma reserva que nunca se usa, que nunca se gasta. Recorremos a ela em horas de aperto e reencaminhamo-la para o seu lugar, para a reserva.

 

Seja como for, o pensamento como que rejuvenesce ao ouvir sábios como António Barreto e outros. Que não são muitos.

 

 

publicado por Theosfera às 00:00

Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2011

Não há praticamente ninguém que não tenha ficado surpreendido com o discurso de Cavaco Silva no último Domingo.

 

Todos se sentem à vontade para o criticar. Mas será que alguém tem legitimidade para o censurar?

 

Não reproduziu Cavaco o que é prática corrente na nossa sociedade?

 

Não está a nossa vida (in)cívica afectada pelo azedume e pelo rancor?

 

Já o Mestre dos mestres nos avisara que é fácil olhar para o argueiro que está na vista dos outros, descurando a trave que se encontra na nossa.

 

Nem sempre gostamos de nos ver ao espelho. Porque ali esteve o nosso retrato, como o estivera, aliás, no decurso da campanha.

 

É certo que se trata do supremo magistrado da nação.

 

Mas também é verdade que, mesmo em cargos excepcionais, temos de nos habituar a ter homens comuns.

 

O tempo dos homens excepcionais parece ter passado.

 

É hora de voltar a página. Olhemos em frente. O trabalho é ingente. Todos são indispensáveis.

 

O futuro é obra de todos. 

publicado por Theosfera às 20:28

É no mundo que o homem vive. É no homem que o mundo fala.

 

Xavier Zubiri chamou a atenção para esta ressonância ecóica do mundo no homem.

 

É claro que o mundo não fala do mesmo modo a todos os homens. É por isso que o mesmo Zubiri fala do universo como pluriverso.

 

A realidade acaba por ser a miríade de percepções que dela temos. O mundo são as visitações que nos faz a cada instante.

 

Em cada homem subsiste a humanidade inteira.

 

A humanidade não pode descansar enquanto um só homem sofrer, enquanto um só homem passar fome, enquanto um só homem for explorado.

 

Atentar contra um homem é, pois, atentar contra a humanidade.

 

Respeitar um só homem é (contribuir para) dignificar a humanidade toda.

publicado por Theosfera às 14:15

Um jovem de dezasseis anos mata o pai em Portugal.

 

Um adolescente de treze anos mata a mulher do pai nos Estados Unidos.

 

É arrepiante. É assustador. E não pode deixar de ser interpelante.

 

Como é que a idade de todos os sonhos pode desencadear o turbilhão dos piores pesadelos?

 

Como é que a manhã da existência pode dar lugar ao crepúsculo da vida?

 

Não tenho respostas. Sobram-me perguntas inquietantes.

 

Que está a ocorrer nos nossos lares, para alojarem tantas toneladas de ódio?

 

A vida de quem foi morto não terá nada que ver com a morte de quem matou?

 

Ninguém tem o direito de julgar. Todos temos o dever de reflectir.

 

Por este (des)caminho, a humanidade não vai longe.

 

O essencial para o futuro não se decide nas praças nem nas bolsas. Decide-se no coração de cada ser humano.

 

E há amostras que não são nada animadoras...

publicado por Theosfera às 11:40

Os Estados Unidos são um país e um laboratório de experiências.

 

Os seus rituais impressionam o mundo. Entre o espanto e a estupefacção, a humanidade converte-se numa espectadora atenta.

 

Obama foi a um Congresso que passou a ser hostil. A maioria é republicana e não democrata.

 

As visões são diferentes e os campos parecem demarcados.

 

Mas os deputados estavam mesclados em sinal de solidariedade para com uma congressista ferida num recente (e injustificável) tiroteio.

 

Michelle Obama convidou os cidadãos comuns para estarem presentes.

 

E, depois, o discurso.

 

Sabe-se que Obama é um bom tribuno. Muito melhor tribuno que actuante (ou actante, como dizem alguns semiólogos).

 

Mostrou-se determinado em vencer as dificuldades.

 

Tentou infundir ânimo a uma nação preocupada.

 

Procurou mostrar que a China não porá em causa o estatuto dos Estados Unidos.

 

Estamos diante de um paradoxo.

 

No fundo, Obama acabou por reconhecer à China o papel de potência mais que emergente.

 

A China não sai da cabeça dos americanos.

publicado por Theosfera às 11:30

«Haverá alturas em que nada podemos fazer para impedir a injustiça, mas nunca poderá haver uma altura em que desistimos de protestar».

Assim escreveu (magistral e magnificamente) Ellie Wiesel.

publicado por Theosfera às 11:18

Ao ler isto, lembrei-me de Mark Twain, quando desabafou que a notícia da sua morte estava manifestamente exagerada.

 

É claro que, um dia, ela acabou por ocorrer.

 

Vivo em Lamego e que, eu saiba, não está a nevar.

 

É provável que a neve acabe por cair.

 

É possível que, em algum ponto do concelho, já esteja a derramar-se sobre a terra.

 

Mas, por aqui, apenas o cinzento das nuvens. À espera do branco da neve?

publicado por Theosfera às 11:13

Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2011

Nunca foi fácil a vida para quem sonhou, para quem nunca desistiu dos seus sonhos.

 

O primeiro sonhador (José do Egipto) foi vendido.

 

O maior sonhador (Jesus Cristo) foi morto.

 

O mais conhecido sonhador dos últimos tempos (Luther King) acabou assassinado.

 

Não falta, por isso, quem desista ou quem ceda à corrente dominante.

 

Muito interessante se torna, neste contexto, um livro como o de Augusto Cury e que tem por título Nunca desista dos seus sonhos.

 

São, de facto, os sonhos «que alimentam a vida» e «regam a existência com sentido».

 

Pode ser que nunca os sonhos se realizem. Mas o fundamental é que nunca deixem de ser semeados, de ser sonhados.

 

A eternidade (mais que o futuro) é dos que sonham. Mesmo que não colham os frutos, o importante é a semente que deixam.

 

O poeta teve razão quando defendeu que «é o sonho que comanda a vida».

 

Precisamos de sonhadores. Precisamos que não cortem os sonhos.

 

Cortar um sonho é, pura e simplesmente, assassinar uma alma.

 

Vale a pena arriscar por causa dos sonhos.

 

Augusto Cury adverte que «os jovens têm muitos desejos e poucos sonhos. Os desejos não resistem às dificuldades. Os sonhos são projectos de vida, sobrevivem ao caos».

 

Mas a culpa não é dos jovens. Somos nós, adultos, que «criámos uma estufa intelectual que lhes destruiu a capacidade de sonhar. Eles estão a adoecer colectivamente: são agressivos, mas introvertidos; querem muito, mas satisfazem-se pouco».

 

O risco que o sonho transporta vale a pena ser corrido. Os sonhos são vitamínicos, regeneradores, tonificantes. «Os sonhos fazem os tímidos terem rompantes de ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidades».

 

Nada se perde com o sonho, a não ser, talvez, o sossego. Sonhar é desassossegar.

 

São eles, os sonhos, que «oxigenam a inteligência e irrigam a vida de prazer e sentido».

 

Não desistamos de sonhar.

publicado por Theosfera às 11:03

Não sei, sinceramente, qual o objectivo de entrevistas como a que Carlos Silvino terá concedido e que está a ser, profusamente, reproduzida e comentada.

 

Diz que foi obrigado a mentir antes. Há quem alvitre que possa estar a mentir agora.

 

Há muita coisa na penumbra de todo este caso.

 

Há muita gente a sofrer com tudo isto.

 

Creio que o silêncio público seria a atitude mais sensata.

 

O ambiente já está suficientemente poluído com palavras que parecem punhais.

 

Ferem. Magoam.

 

Tempos ominosos, os nossos.

publicado por Theosfera às 10:58

A cor, a raça, a condição social, as opções religiosas e o nível cultural fazem parte do património imprescritível da humanidade.

Mas o que alicerça o respeito e a dignidade é o facto de cada um (homem ou mulher) ser uma pessoa, uma pessoa humana.

A maior igualdade, aquela que mais nos irmana, é que somos diferentes. Mas nenhuma diferença apaga a nossa condição humana.

No projecto criador de Deus e na mensagem fraternizante de Jesus, Portugal não foi dado só aos portugueses, a Espanha não foi dada só aos espanhóis e a França não foi dada só aos franceses. Na mente divina, a terra, toda a terra, foi dada aos homens, a todos os homens.

Quando nos consideramos filhos de Deus, consideramo-nos, nesse mesmo instante, irmãos de todos os homens.

Aquele que passa por mim, aquele que convive comigo é meu irmão. Pode não ter nenhuma afinidade comigo. Pode ter opiniões opostas às minhas. Mas há uma coisa que partilha comigo: a condição humana.

O sonho de Martin Luther King («I have a dream» é o que ele repete no seu discurso mais famoso) é um mundo onde todos se sintam irmãos.

O mundo é uma casa («oikos») onde todos devem ter um lugar.

Crescer para a vida é, antes de mais e acima de tudo, crescer no acolhimento do outro.

Não é fácil desmontar preconceitos. Einstein achava que era mais fácil desintegrar um átomo.

Como dizia Luigi Giussani, «educar é integrar na realidade total».

A realidade total não é só a minha, nem a da minha raça. A verdade, como se diz desde Aristóteles, é a totalidade.

O lugar do outro não é em baixo, nem atrás. Ninguém é inferior ou superior. O lugar do outro é ao meu lado, dentro de mim.

O melhor livro é o livro de cada ser humano.

Alto ou baixo, ocidental ou oriental, branco ou negro, cada homem transporta uma riqueza única.

Com cada ser humano, há muito para aprender.

É por isso que o acolhimento e a tolerância são valores mínimos indispensáveis.

Só quando acolhermos o outro como ele é nos conheceremos verdadeiramente como somos.

Sonhemos com um mundo em que ninguém seja excluído por causa da sua cor, raça ou credo.

Construamos um mundo onde a cor, a raça e o credo sejam vistos como uma riqueza para todos.

Na escola, aprendemos a conjugar verbos. Na escola da vida e na vida de cada escola, somos convidados a conjugar todas as formas de ser e estar.

Ninguém deve ser preferido. Ninguém pode ser excluído.

Todos somos necessários para a construção da obra mais bela: um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

publicado por Theosfera às 00:00

Terça-feira, 25 de Janeiro de 2011

Em Portugal, um filho mata o pai à catanada. Uma tragédia que acabou mal.

 

Na Argentina, uma senhora tenta suicidar-se e atira-se de um 23º andar. Mas cai no tejadilho de um carro. Sobreviveu. Há dramas que têm um final feliz, embora a infelicidade possa continuar alojada nos corações.

 

Tempos ominosos, os nossos.

publicado por Theosfera às 23:32

Eusébio faz, hoje, 69 anos.

 

A televisão pública está a prestar-lhe uma homenagem.

 

É impossível não admirar este homem. Pelo que fez em campo. Pelo que mostra na vida.

 

É difícil ser grande como Eusébio e ser humilde como Eusébio. Até tratava os jogadores mais velhos por «senhor»! Um gesto digno de um...senhor!

 

Confesso que, depois de Pelé, Eusébio é, para mim, o maior jogador de todos os tempos.

publicado por Theosfera às 23:28

Nasceu a 11 de Setembro de 1935.

 

Foi padre e vigário-geral na sua diocese até ser nomeado bispo.

 

Igual a si mesmo, trouxe a cátedra para a rua.

 

Inspirou-se na voz eterna que ecoava na sua consciência.

 

Houve quem não gostasse e foi afastado.

 

Disseram-lhe para «cantar em coro». Mas também é verdade que nem os melhores coros dispensam um grande «solista».

 

Hoje, continua a sua missão nas estradas do tempo como presença amiga e ícone maior de uma Igreja samaritana.

 

Mons. Jacques Gaillot é um homem sofrido, mas não parece amargurado.

 

Mantém um sorriso acolhedor, aureolado por um arco de esperança.

 

«Uma Igreja que não serve não serve para nada», assim reza o título de um dos seus livros mais célebres.

 

O modo de ser de Jacques Gaillot pode não subir aos centros de descisão, mas continua a descer ao coração das pessoas.

 

Não é aí onde está - sempre! - o Deus de Jesus?

publicado por Theosfera às 23:19

A vida não está fácil para quem trabalha. E ameaça tornar-se (ainda) mais difícil para quem é obrigado a deixar de trabalhar.

 

Uma proposta do Governo preceitua uma alteração significativa no regime de indemnizações por despedimento. Em vez de 30 dias por cada ano de trabalho, 20 dias apenas.

 

Invoca-se o exemplo da Europa e aponta-se concretamente o caso da Espanha.

 

Só que os salários, no país vizinho, são maiores e, em alguns sectores, o custo de vida é menor.

 

É verdade que a situação das empresas não é fácil. Mas convenhamos que ter uma espada de Dâmocles em cima de quem se esforça é sumamente doloroso.

 

O calvário dos trabalhadores portugueses parece não ter fim.

 

A justiça pode esperar?

publicado por Theosfera às 11:55

Estão a morrer os profetas. Há quem diga, com algum exagero talvez, que já só existe um à face da terra (cf. aqui).

 

Mas é um facto que as palavras tendem a fazer-se eco dos interesses e do pragmatismo, não sobrando espaço para a profecia, para o anúncio do mundo novo e das manhãs prenhes de esperança.

 

Os profetas estão a desaparecer. Uns são arrebatados pela morte. Outros são assaltados pelo afastamento e abandono.

 

Ainda sobram Desmond Tutu, Jacques Gaillot, entre outros.

 

Os poderes não os ouvem. Mas o seu testemunho não se apaga. Nem a morte os eliminará.

publicado por Theosfera às 10:45

O país está descontente e os corações mostram-se deprimidos.

 

Chovem as palavras de ordem e as ameaças descontroladas.

 

Mas, mesmo aí, seria possível pensar diferente e fazer melhor.

 

Habitualmente, só nos manifestamos quando as nossas coisas estão em risco.

 

Porque é que não nos manifestamos pelos outros?

 

Olhemos para a Tunísia.

 

As imagens de violência deixam-nos, certamente, destroçados, mas há uma lição que avulta.

 

Aquele povo levantou-se, praticamente em uníssono.

 

As imagens daquele jovem que se imolou despertou o clique e mobilizou a esperança.

 

É caso para dizer que, ali, se cumpriu a máxima do todos por um.

 

A revolução de jasmim não deixa de ser uma lição. De política, sim. Mas sobretudo de altruísmo.

publicado por Theosfera às 10:38

Tempos ominosos, estes.

 

Enquanto por cá se fazem as últimas contas da campanha (não faltando quem apresente dados para todos os gostos), lá longe, em Moscovo, a morte apareceu com inusitado estrépito.

 

Um atentado no aeroporto terá feito 35 mortos e mais de 100 feridos.

 

O sonho de um mundo melhor vai cedendo, assim, ao pesadelo de uma tormenta interminável.

 

Não asfixiemos a esperança.

publicado por Theosfera às 10:35

Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011

Sabe qual é?

 

Ele há cada estudo!

 

Veja aqui.

publicado por Theosfera às 23:06

Foi um homem de Deus que nunca virou costas aos seus semelhantes.

 

Samuel Ruiz, Bispo de Chiapas, morreu hoje.

 

Mas o seu exemplo vive para sempre. Veja aqui.

publicado por Theosfera às 20:47

1. Os resultados estão lidos. As leituras apresentam-se feitas. E as ilações parecem tiradas. Não faltará dizer mais nada acerca das eleições?

 

Creio que valerá a pena alinhar uma breve reflexão acerca de um tópico que, uma vez mais, pairou em diversas instâncias. Trata-se daquilo a que (impropriamente) se chama voto católico.

 

Esta é, desde logo, uma expressão equívoca. Sugere uma frente unitária, homogénea quando é sabido que encontramos católicos em todos os quadrantes incluindo abstencionistas, militantes do voto em branco e do voto nulo.

 

Temos de partir do princípio de que tais opções são ditadas pela consciência. Algum estigma poderá ser lançado?

 

 

2. Ouvimos apelos à isenção dos responsáveis eclesiásticos. Em que consistirá tal isenção? Acima de tudo, na não intervenção pública em favor de um partido ou candidato.

 

Para lá disso, ninguém negará a um padre ou um bispo os mesmos direitos e deveres de um cidadão.

 

Como cidadão, fará as suas escolhas. Apenas se espera que não as publicite.

 

Penso que, mais que um preceito, estamos em presença de uma pura questão de bom senso.

 

As sociedades atingiram, felizmente, um patamar de autonomia e maturidade que dispensam pressões tutelares.

 

O problema ocorre quando, invocando uma isenção formal, se fazem apelos ao denominado voto católico.

 

Como já foi dito, é difícil (para não dizer impossível) tipificar cabalmente um voto católico. Tão complexo é o acto de votar e tão vasta é a condição de católico!

 

 

 3. Não falta, porém, quem tente influenciar, monitorizar. Se, para lá das linhas, olharmos para a entrelinhas de alguns textos, dá para perceber que, subrepticiamente, a campanha  é feita.

 

Neste caso, mais valia que as posições fossem tomadas às claras e não de modo enviesado.

 

Não se falando directamente em partidos nem em candidatos, apresentam-se uma série de considerandos cujo teor e objectivo qualquer pessoa entende.

 

Desta vez, não faltou até quem se abalançasse na defesa do voto em branco ou da abstenção. O pretexto é que não haveria nenhum candidato que defendesse os princípios católicos!

 

É claro que o ser católico nunca se suspende. Nem tampouco na mesa de voto.

 

Mas o discernimento pertence a cada um. Alguém poderá erigir-se em dono das opiniões ou em proprietário das consciências?

 

Acresce que tendo católico a ver com universal, não é curial que se parcialize essa identidade.

 

Habitualmente, existe uma sensibilidade para com os temas da moral. É certo que há doutrina clara quanto a ela. Mas porque é que não se verifica igual atenção à doutrina social?

 

Não falta quem lembre a doutrina da Igreja no que toca ao aborto ou ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas quem alerta para a doutrina da mesma Igreja no que respeita à justiça e à opção preferencial pelos pobres? Porque é que uma é tão lembrada e a outra tão esquecida?

 

 

4. É importante que os católicos conheçam o pensamento da Igreja sobre cada tema.

 

Mas é igualmente fundamental que se respeite a consciência de cada um no seu discernimento e na sua decisão.

 

Aliás, é doutrina conhecida que ninguém pode reclamar para si o exclusivo da mensagem de Cristo.

 

Podemos não estar de acordo com determinada visão. Podemos até achar que ela não está em consonância com o Evangelho.

 

Mas temos de aceitar que, por muito que nos custe, outros poderão pensar de modo diferente.

 

A liberdade não é unívoca e há que respeitar as decisões de cada um. Não é a liberdade a grande oferta de Jesus Cristo?

 

E, depois, há que ter presente que as opções não são isentas de dramas.

 

Uma decisão tem mais de oblíquo do que de linear. Não pode haver complexos de superioridade nem presunções de tutela.

 

A consciência de cada um é (mesmo) um património sagrado.

publicado por Theosfera às 16:11

«Educar é introduzir na realidade total».  

 

Assim escreveu Jungmann e assim recorda Luigi Giussani num livro cuja versão portuguesa tem como título Educar é um risco.

 

Mas como introduzir na realidade se se renuncia, cada vez mais, a uma hipótese explicativa dessa mesma realidade? Se o apelo à tradição é cada vez mais esbatido?

 

E como introduzir na realidade total se a fragmentação é a linha dominante dos programas e dos conteúdos sem haver, muitas vezes, um fio condutor entre eles?

 

A importância da unidade no projecto educativo ressalta como fundamental, determinante, decisiva.

 

A escola padece, hoje em dia, de bastos focos de heterogeneidade e contrariedade. Isto cria nos estudantes uma atmosfera de cepticismo e desmotivação muito perigosa. «As pessoas lamentam-se, com frequência, que os jovens não constroem: mas o que construir e sobre que base?»

 

Vamos assumir: estamos a falhar na educação.

 

Vamos decidir: urge apostar num novo rumo para a educação.

 

Vamos deixar de ter medo de falar dos valores, de marcar um rumo, de propor normas éticas.

 

Vamos deixar de ter medo de educar os sentimentos.

 

Vamos deixar de ter medo de corrigir, de chamar a atenção.

publicado por Theosfera às 11:38

 

É uma tendência que vem de há muito e teima em persistir: nós sabemos sempre mais o que não queremos do que aquilo que queremos. 

 

É o mal para o qual já Manuel Antunes nos alertava: somos mais dominados pelo negativo do que pelo positivo. 

 

Este é o nosso mal. Será também a nossa identidade? 

 

Para Walter Kasper, o mal não é tanto carência de bem. É sobretudo transtorno do ser. 

 

Somos assim. Seremos capazes de ser diferentes?

publicado por Theosfera às 11:36

Às vezes, dou comigo a pensar no seguinte. A principal diferença entre a teologia portuguesa e a teologia espanhola é que a teologia espanhola existe.

 

É, naturalmente, com mágoa que colho este registo. Nem sequer se trata de uma tomada de posição. Trata-se tão-somente de uma simples aferição.

 

Uma obra como a que acaba de aparecer na Espanha seria impossível de surgir no nosso país.

 

Olegario González de Cardedal publicou um livro que condensa o percurso da teologia epanhola nos últimos cinquenta anos.

 

Entre nós, a Teologia, muitas vezes, oscila entre a repetição e a paráfrase.

 

Há condicionantes de vária ordem que, no conjunto, concorrem para o empobrecimento da vida eclesial e da presença cristã na sociedade.

 

Não há estímulos à investigação nem apoios para a publicação.

 

A Teologia, entre nós, limita-se, praticamente, à docência e aos manuais.

 

É claro que há excepções (muito estimáveis, aliás) que acabam por confirmar a regra.

 

A vitalidade da fé também se afere pela revitalizção da Teologia.

 

É necessária uma leitura da nossa realidade à luz da fé e da fé a partir da nossa realidade.

 

Precisamos, por isso, de uma teologia que não se fique pela robustez do conceito, mas que seja, acima de tudo, existencialmente interpelante.

 

A Espanha está tão perto. Mas a sua pujança parece, por vezes, demasiado longe.

publicado por Theosfera às 11:07

O Evangelho apresenta-nos Jesus preocupado com as pessoas.

 

Tem para elas palavras de esperança e tem junto delas atitudes de alento.

 

Não é em vão que a mesma palavra (sozo) significa curar e salvar.

 

A actividade taumatúrgica de Jesus é uma realidade e funciona, acima de tudo, como um sinal. Ele é o grande libertador e o maior curador da enfermidade humana.

 

Jesus oferece uma poderosa terapia diante do egoísmo que desfigura a existência e macula a convivência.

 

O Seu amor, como sagazmente notara Agostinho da Silva, é desegoízador.

 

Só por duas vezes, de acordo com os Evangelhos, fala da instituição que haveria de prosseguir a Sua obra.

 

A Igreja é importante, mas não um absoluto nem se constitui como uma meta.

 

O essencial é o que aparece designado como Evangelho do Reino.

 

Reino, como é óbvio, nada tem que ver com uma magnitude política. Trata-se de uma grandeza de ordem diversa. É a presença de Deus no meio das pessoas.

 

Daí o apelo à mudança e o convite a segui-Lo.

 

A Igreja, como assinala Paulo, existe para assegurar a presença de Cristo no tempo.

 

Não pode, por isso, desagregar-Se de Cristo.

 

Cristo não quis separar-Se da Igreja. A Igreja não pode separar-se de Cristo.

 

Só que há quem veja distância: não de Cristo em relação à Igreja, mas da Igreja em relação a Cristo.

 

É neste sentido que não é muito curial apontar à sociedade a responsabilidade pela crise da Igreja.

 

A crise da Igreja (vale a pena ler o texto de José António Saraiva na Tabu) vem de dentro para fora e de cima para baixo.

 

O caminho há-de ser, pois, acolher o que nos chega de fora para dentro e de baixo para cima.

 

Não foi por acaso que Jesus enviou os discípulos para fora, advertindo que o Reino é como uma semente lançada à terra.

 

É, portanto, por baixo que se deve começar.

 

É claro que a linguagem é sempre um instrumento inapropriado. É que, relativamente a Cristo, não há fora, nem baixo. Ele está dentro de tudo e de todos. E todos estão dentro d'Ele.

 

Perceber isto é fundamental.

publicado por Theosfera às 10:47

Um ar resignado percorre o esgar das pessoas, nesta manhã fria, ao regressar ao trabalho.

 

Quase ninguém fala das eleições.

 

Não se fala dos vencedores e todos parecem ter um ar de vencidos.

 

As dificuldades são muitas.

 

O divórcio do povo em relação à política (sinalizado na elevada abstenção) parece ser a consequência do divórcio, que a montante se verifica, da política em relação ao povo.

 

Mas este é um caminho perigoso e nada sadio.

 

É preciso encontrar um novo paradigma de fazer política e de exercer a cidadania.

 

E, antes de mais, é urgente injectar ânimo na (depauperada) alma das pessoas.

publicado por Theosfera às 10:38

Domingo, 23 de Janeiro de 2011

As certezas desta noite não apagam uma incerteza que paira.

 

Se os que se abstiveram tivessem todos votado, os resultados seriam os mesmos? 

 

Tirando isso, sobra uma atmosfera diferente de tempos idos.

 

Já não há expectativas na noite eleitoral.

 

Mal fecham as urnas, abre-se logo a janela dos resultados.

 

O frio é muito e o entusiasmo é nulo.

 

Já não há marchas nem caravanas.

 

Poucos celebram e quase ninguém festeja.

 

O povo decide. O povo está cansado. E muito torpedeado pelo desencanto.

 

Que o supremo magistrado, exornado por esta reeleição, tenha um discurso mobilizador que infunda um pouco de esperança.

 

Hoje, pareceu um pouco acossado e voltado para o passado. É claro que ser atacado custa e dói bastante.

 

Mas é o futuro que está em causa. E ao chefe de estado compete apontar rumos e pilotar energias. Que, apesar de tudo, ainda existem no nosso país.

publicado por Theosfera às 23:31

Portugal tem um presidente eleito pela maioria da minoria que votou.

 

Este é o primeiro e grande dado deste dia. A abstenção foi maior que a participação.

 

É importante que se estude esta situação e que se reflicta sobre este fenómeno.

 

Numa democracia, todas as atitudes são legítimas. Não há que estigmatizá-las, mas há que meditar sobre elas.

 

O frio e os problemas com os cartões de eleitor não explicam tudo.

 

A politica convence cada menos. O debate é pobre. A suspeita sobre o outro sobreleva a aposta nas propostas de cada um.

 

Há que olhar em frente. Há que procurar fazer diferente.

 

Só pelo diferente, atrairemos o melhor.

 

Acreditemos que o melhor (apesar de tudo) não é impossível.

publicado por Theosfera às 22:26

Sábado, 22 de Janeiro de 2011

 Com todo o respeito, não me parece que a cultura actual possa ser qualificada de secularista. E, muito menos, que se possa dizer que ela «ataca e vai tentando reduzir o espaço humano para a fé, tornando-se quase uma religião alternativa».

 

 

O problema não vem tanto de fora, mas de dentro.

 

Não há dúvida de que há «cristãos que hoje, em tantos países do mundo, são perseguidos, por vezes até à morte».

 

Mas também há membros de outras religiões e pessoas sem religião que são perseguidas e mortas.

 

Como nos lembra Xavier Zubiri, a religião não nos fala apenas da divindade. Ela fala-nos também do homem a partir do seu relacionamento com a divindade.

 

 A cultura ocidental terá muitas lacunas, mas nela persiste um apelo muito forte à vivência espiritual. É preciso estar atento aos sinais. E é fundamental acolher as pessoas que os vão emitindo.

publicado por Theosfera às 15:59

Será que é impossível rediscutir o Acordo Ortográfico?

 

Eu sei que tudo já está decidido.

 

Mas o que mais existe é discutir coisas que estão decididas e reabrir questões que se consideravam fechadas.

 

Costuma dizer-se que as coisas são definitivas enquanto duram. E é sabido que, nos tempos que correm, duram cada vez menos.

 

Um tema desta magnitude não mereceria um amplo debate na sociedade antes de subir aos patamares da decisão?

 

Será que o povo, o soberano numa democracia, não merece mais que desempenhar um papel submisso?

 

Já agora, a Espanha é uma unidade política numa continuidade territorial e a língua que nela se fala está longe de ser uniforme.

 

Se não há problema a um salmantino falar ou escrever de modo diferente de um galego, de um basco ou de um catalão, porque é que um português terá de ser obrigado a escrever como um brasileiro?

 

Mistérios que a política tece. Mistérios que nem a razão esclarece...

publicado por Theosfera às 12:42

Estar fora de si não é propriamente o maior elogio que fazer se possa.

 

Mas foi o que, segundo o Evangelho, os parentes disseram a respeito de Jesus.

 

Só que, independentemente da intenção, há uma verdade profunda nesta expressão.

 

Existir, etimologicamente, é estar fora, fora de si.

 

O mal das pessoas é ainda viverem muito presas a si.

 

Jesus incorpora o paradigma de uma existência descentrada. Ou, melhor, recentrada: em Deus e no Homem, na humanidade.

 

Eis um tópico para este dia de reflexão.

 

Na nossa decisão, não pensemos apenas (nem principalmente) em nós ou nos nossos interesses. Pensemos em todos.

 

A verdade não é atomística. É, genuinamente, católica, isto é, universal. Ou seja, também está fora de nós.

 

Existir é, no fundo, viver com os os outros, para os outros.

publicado por Theosfera às 11:55

Há palavras que servem para retomar o fôlego da conversa ou para entreter o interlocutor quando a ideia se eclipsa ou enquanto a ideia não chega. O caso mais célebre é o portanto.

 

Há, entretanto, um vocábulo que, acima de tudo, sinaliza os limites do pensamento e, de certa forma, a falência da comunicação. O caso mais conhecido é mistério.

 

Enquanto o portanto é um alimentador da conversa, uma espécie de compasso de espera, mistério é um ponto final, obtendo um efeito suspensivo.

 

Mistério é o que nos vem à cabeça quando nada mais conseguimos dizer.

 

Dotada de uma densidade única, esta é uma palavra que atiramos, especialmente, para a esfera do divino. Mas não só. Há realidades humanas que tendemos a ungir com o selo do mistério.

 

A China é um mistério para o mundo, designadamente para o ocidente.

 

Parece que a China nos conhece melhor a nós do que nós conhecemos a China.

 

Dotada de uma tradição espiritual forte, está dominada, há décadas, por um regime materialista.

 

Reprimida, a sua população dá sinais de pujança.

 

A economia compete com a norte-americana.

 

O regime é o mesmo, mas vai mudando. As pessoas ainda estão pobres, mas o Estado parece rico.

 

O Estado, aliás, apresenta-se como comunista, mas dá cartas no capitalismo.

 

Os direitos humanos é que permanecem uma questão inamovível.

 

Tiannamen mantém-se na memória. O prémio nobel da paz continua detido. O Tibete prossegue submetido.

 

É certo que esta semana, houve um ligeiro (promissor?) sinal. O presidente chinês assumiu, nos Estados Unidos, que «muito precisa de ser feito no que respeita aos direitos humanos».

 

Mas voltamos ao mistério chinês. Que Henri Kissinger resumiu, há décadas, do seguinte modo: os americanos habituaram-se a resolver problemas; os chineses preferem conviver com os problemas.

 

Reconhecer que há um problema nos direitos humanos é positivo. Mas bastará?

publicado por Theosfera às 11:38

Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011

publicado por Theosfera às 10:51

«Deus é silêncio e as coisas são o eco infinito do seu eterno calar».

Assim escreveu (mística e magnificamente) Dionísio da Cartuxa, via Xavier Zubiri.

publicado por Theosfera às 00:00

Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011

O espanto foi geral quando, na planura florescente dos seus catorze anos, confessou: o meu maior sonho é não ser famoso.

 

Ainda houve quem pensasse que de um engano se tratasse.

 

Mas aquela confissão trazia uma mescla de desencanto e maturidade.

 

O que vem do mundo dos famosos tresanda a banalidade. É tudo oco, fingido, artificial, fabricado.

 

Não há ali espessura, densidade, autenticidade. Sobra muita intriga, inveja e uma miríade de imagens que fazem as delicias dos consumidores mas que deixam um ar de vazio na alma.

 

O mundo dos famosos assemelha-se a um labirinto do qual não se consegue sair. Muitas vezes, o fim é a tragédia.

 

Muitos famosos exibem um sorriso que esconde um turbilhão de dores.

 

Por isso é que Torga testemunhava que a sua fome não era de fama, mas de eternidade.

 

Não ser famoso é uma terapia. É uma forma de estar na vida sem aparecer no palco.

 

Porque o palco só faz desfilar máscaras, aparências.

 

O essencial é o que fica depois de tudo passar. E nada há que passe (e se esfume) tão depressa como a fama...

publicado por Theosfera às 16:37

Numa altura em que o frio aperta mas o sol espreita, quero acreditar que a esperança não migrou para um longe indetectável.

 

Quero crer apenas que ela entrou em pousio e que, nestas tardes gélidas, está a fermentar manhãs de luz.

 

Arrepia-me não somente o descontrolo das contas públicas. Fulmina-me por completo o desnorte emocional de tantos.

 

As notícias amplificam o caso mais particular, tornando-o num problema global discutido até à medula.

 

Há sentimentos alojados no coração que surpreenderão até os próprios.

 

Quero crer, porém, que a invernia não será eterna, apesar de já ser longa.

 

Qualquer coisa de bom irá germinar. Pena é que muitos sejam devorados pela violência assassina, devoradora e cruel.

 

O melhor não se vê. O essencial é invisível.

 

Os amanhãs, que alguns querem calar, acabarão por desabrochar. 

 

Não desalojemos a esperança.

publicado por Theosfera às 16:20

O tempo tudo transfigura e a distância tudo parece regenerar.

 

Até aquilo que, na altura, nos sabia a trivialidade consegue aparece revestido de doses surpreendentes de encanto.

 

Faz hoje, 20 de Janeiro, 50 anos que John Kennedy tomou posse como presidente dos Estados Unidos.

 

O seu mandato foi breve. O seu assassínio envolveu-o numa aura que o tempo não esbateu, antes ampliou.

 

O discurso que proferiu tornou-se antológico (cf. aqui).

 

A frase mais célebre continua a ser pertinente: «Não pergunte o que o seu país pode fazer por si; pergunte, antes, o que por ele pode fazer».

 

Quem já viajou alguma coisa pelas estradas da vida, é acometido por esta sensação: até os medíocres de outrora (e Kennedy nem era medíocre, mas estava longe de ser visto como um génio) sobrelevam de longe os mais capazes de hoje. Que, em comparação com eles, exibem uma mediocridade assustadora e perigosa.

 

Poucos pensaram, há 50 anos, que aquele discurso, além de curto, iria ser histórico.

 

A qualidade das palavras era grande. Não porque tresandassem a eloquência. Mas porque sabiam a sinceridade.

 

O que vem da alma é imortal.

publicado por Theosfera às 10:52

Diz-se que a imaginação ultrapassa a realidade. Mas há casos em que é a realidade a ultrapassar (de longe!) a imaginação.

 

O que se passou nos Estados Unidos contém todos os ingredientes da desmesura da maldade que nos atinge.

 

Um pai lembrou-se de obsequiar o filho, quanto este fez 14 anos, com uma...arma!

 

Pois o filho (em compensação?) acaba de matar o pai e um tio.

 

Segundo a imprensa, encarou tudo como uma calma desarmante.

 

O incompreensível apoderou-se de nós.

publicado por Theosfera às 10:46

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