Acabou de nascer e já era idoso.
Como sempre, o rosto não enganava. Mas, naquele caso, não era doença, a progéria que tanto aflige os pais e prenuncia um fim precoce.
Parecia que aquela vida começara de modo diferente: do depois para o antes, do fim para o princípio.
A tormenta inicial dos pais foi cedendo lugar ao mais puro espanto.
À medida que o menino crescia, o rosto rejuvenescia.
E, para pasmo de todos, o processo não se alterou. Cada dia que passava, tornava-se mais novo.
Com o passar dos anos, a juventude aparecia e a infância espreitava.
Crescer era, assim, um caminho para ser criança.
A maturidade atingia-se com a chegada da infância.
Os anos corriam e o encanto alastrava.
A beleza do rosto era acompanhada pela ternura dos gestos, pelo brilho do olhar, pela candura da alma.
Toda a gente admirava e comentava. Que pena não sermos todos assim! Porque é que o crescimento há-de consistir no afastamento da infância?
Porque é que perdemos a capacidade de nos espantar com a vida, com as pessoas?
Tantas vezes se confunde maturidade com mero calculismo e forte desconfiança...
Porque é que esquecemos a criança que, um dia, morou em nós?
Então todos decidiram nunca envelhecer por dentro, mesmo quando os anos avançavam por fora.
E, a pouco e pouco, os risos eram de criança.
O céu podia estar cinzento. Mas as estrelas não paravam de brilhar. Os olhos das pessoas eram constelações de esperança.