Em Zubiri, há uma frase que sempre me intrigou um pouco: «A filosofia não pode ser conservadora sem deixar de ser filosofia».
Desde logo, porque pensava que as categorias de conservador/progressista seriam espúrias na filosofia.
Depois, porque, se optarmos por aplicar este género de leitura, é sempre possível haver uma arrumação salomónica. Como tudo, a filosofia terá uma dimensão conservadora e uma dimensão progressista.
Finalmente, porque quem conheceu Zubiri seria tentado a considerá-lo facilmente como um conservador.
Com o tempo, porém, fui-me apercebendo da pertinência da frase e do alcance que ela encerra.
A filosofia, para Karl Jaspers, nasce do espanto. Para Zubiri, começa com a admiração.
Tudo isto gera uma inquietação e uma vontade de procura incessante.
Ser conservador na filosofia é, pois, impossível. Ela não pretende guardar, conservar, manter. Ela visa percorrer, questionar, buscar.
Em boa verdade, não há filosofia. Só há filosofar. Kant era taxativo a este respeito: «Não se aprende a filosofia. Só se aprende a filosofar».
Acresce que, voltada para o real, a filosofia nunca pode resignar-se a uma atitude conservadora. O real também não é conservador.
A realidade é movimento, é mudança, é vida.
Na vida, o conservadorismo é injusto porque estagna.
Objectar-se-á que o progressismo também não tem obtido grandes resultados, designadamente na política. O problema é que a visão genuinamente progressista nunca exerceu o poder.
Quando se acede ao poder, todos se tornam conservadores. Inclusivamente os que se consideram progressistas.
Um dos primeiros discípulos de Zubiri foi Ignacio Ellacuría, alguém que, a partir da filosofia da realidade do seu mestre, incorporou um modo de vida desinstalado, voltado para os mais pobres.
No fundo, é a existência que nunca pode ser conservadora.