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Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

A pressão domina, hoje, todos os sectores da vida. Nem a escola escapa. Pensa-se excessivamente nos resultados e pouco nas atitudes.

 

Há muita agitação no meio escolar. Curiosamente, já Simone Weil, que morreu em 1943, erigia a atenção como uma faculdade a que se devia dar...atenção. «A formação da faculdade da atenção é o verdadeiro fim e quase o único interesse dos estudos».

 

Acontece que é aqui onde se encontra, porventura, uma das maiores debilidades. O estudante actual revela uma apreciável agilidade, desempenha uma vasta panóplia de competências com desenvoltura, mas tem dificuldade em crescer na atenção.

 

O desenvolvimento espiritual, para Simone Weil, pode constituir uma ajuda preciosa pois «a oração é feita de atenção».

 

É a atenção que ajuda o estudante «a contemplar com atenção, durante muito tempo, cada exercício escolar falhado». A tentação «é escondê-lo imediatamente».

 

A humildade, «tesouro infinitamente mais precioso do que todo o progresso escolar, pode ser adquirida desta forma»: em lidar, longa e maduramente, com a falha, com o erro.

 

A atenção não consiste em concentrar o pensamento. Consiste, sim, «em suspender o pensamento, em deixá-lo disponível, vazio e permeável ao objecto, mantendo em nós mesmos, próximos do pensamento, os diversos conhecimentos adquiridos que somos forçados a utilizar».

 

O pensamento deve estar «vazio, à espera, sem nada procurar, mas pronto a receber, na sua verdade nua, o objecto que o vai penetrar».

 

No fundo, «os bens mais preciosos não devem ser procurados, mas esperados».

publicado por Theosfera às 20:37

As finanças são o sintoma. A economia é o problema. Mas o verdadeiro desastre está na educação.

 

João Botelho pronuncia-se sobre este último ponto. E não hesita em apontar o fim da linguagem dialéctica no ensino. «O bem e o mal desapareceram. A moral desapareceu».

 

Tudo se ressente desta enfermidade inicial. A futilidade domina com presunções de excelência. «Neste momento, à frente do mundo, temos meros produtos televisivos. É a televisão que faz o denominador comum da nossa sociedade».

 

A futilidade gera, inevitavelmente, a acomodação, a ausência de horizontes. «As pessoas deixaram de lutar pelo futuro. Parece que só existe presente».

 

É por isso que as crises podem ser boas «se obrigarem as pessoas a pensar, a mudar, a ter atitudes e a lutar».

 

No entanto, João Botelho afirma-se «mais pela dissidência do que pela resistência».

publicado por Theosfera às 20:15

1. Confesso que também eu fiquei surpreendido com as declarações do Papa acerca do uso do preservativo.

 

Não se trata, como ressalva o porta-voz do Vaticano, de uma revolução. Mas é inquestionável que estamos perante uma mudança.

 

Tal mudança não ocorre no terreno dos princípios. No seu mais recente livro, uma prolongada entrevista com o jornalista Peter Seewald, Bento XVI mantém que «não considera a utilização de preservativos uma solução verdadeira e moral».

 

Neste sentido, reassume que «a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa».

 

Onde está, então, a mudança? No campo das situações concretas.

 

Recorde-se que, em Março de 2009, na primeira vez em que usou a palavra preservativo, o Santo Padre sustentou que «não se resolve o problema da SIDA com a distribuição de preservativos. Pelo contrário, o seu uso agrava o problema».

 

Actualmente, reconhece que «o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana».

 

Ou seja, onde antes o preservativo não era sequer admitido como último recurso, agora é equacionado como um primeiro passo. 

 

Mesmo assim, lembra «a chamada teoria ABC, que defende Abstinence – Be faithful – Condom (“Abstinência - Fidelidade - Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam».

 

Dá um exemplo: «Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por prostitutos, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade».

 

 

2. É importante notar que estas duas tomadas de posição aparecem não através de um acto formal do magistério, mas mediante a modalidade de entrevista. Isto não retira qualquer impacto ao respectivo conteúdo. Tanto mais que é a primeira vez que um Papa não recusa o uso de um anticonceptivo não natural ainda que visto como terapia e com as reservas apontadas.

 

As reacções que se fizeram ouvir certificam que muitos católicos já não aferem os seus comportamentos pelo magistério da Igreja. A utilização do preservativo é muito mais vasta do que aquela que, agora, se entrevê como residual.

 

Outro dado a reter é que o próprio magistério não é indiferente à realidade nem aos dramas que se vivem no mundo.

 

Na missão da Igreja, não cabem apenas princípios. Cabem também (e bastante) atitudes.

 

Ora, a atitude prioritária de quem se presume discípulo de Jesus Cristo é a misericórdia, a compaixão, a tolerância.

 

A mensagem deve ser continuamente anunciada. Os princípios hão-de ser sempre urgidos. Mas a compreensão nunca poderá ser esquecida nem sequer negligenciada.

 

Jesus foi sempre claro na doutrina. Mas não deixou de ser compassivo para com os que pensam e vivem de maneira diferente.

 

Tiago, aliás, percebeu isto muito bem quando disse que o juízo será sem misericórdia para quem não usa de misericórdia (cf. Tg 2, 13).

 

A Igreja, enquanto corpo de Cristo, é, ao mesmo tempo, a casa da verdade e a morada da misericórdia.

 

 

3. Acresce que a presença de Deus não pode ser deduzida somente da palavra revelada, pela linguagem. Ela ocorre também no segredo da consciência.

 

Tenhamos presente que, como avisa o próprio Jesus, Deus vê no segredo (cf. Mt 6, 1-6). E não é seguramente em vão que o Vaticano II chama à consciência o santuário secreto onde o Homem se encontra com Deus.

 

Como é sabido, a linguagem pública não é a mesma que a linguagem privada, íntima. «A palavra de Deus, como sublinha Simone Weil, é também a palavra secreta».

 

Uma pessoa não há-de ser estigmatizada por decisões que toma em consciência e, muitas vezes, no meio de condicionantes que chegam a ser dramáticas.

 

Mesmo quando não há sintonia, a alternativa nunca pode ser a exclusão. Ser católico (e, portanto, universal) é ser perito na arte na conjugação.

 

 

4. Simone Weil confidencia que o uso das palavras anathema sit foi o motivo que a «impediu de franquear as portas da Igreja». É igualmente esse a razão para que muitos a abandonem ou se desencantem com ela.

 

O legado de Jesus Cristo implica uma «solução harmoniosa entre indivíduos e comunidade». E esta harmonia passa, inevitavelmente, por um «justo equilíbrio de contrários».

 

A ética da responsabilidade, tão enfatizada por Bernhard Häring, não é um exclusivo de alguns. Deus distribuiu-a por todos.

 

Encaremos, pois, esta intervenção papal com serenidade de ânimo e como uma demonstração de sensibilidade por tanto sofrimento derramado pelo mundo.

 

 

publicado por Theosfera às 11:50

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