O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

O Profeta Gentileza morreu em 1996 no Brasil. E a gentileza não estará a falecer em cada dia da nossa vida?

 

Volto a evocar esta figura marcante (para muitos, excêntrica) do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.

O nome Profeta Gentileza foi ganho porque vivia a pregar o amor, a paz e jamais dizia a palavra obrigado, pois obrigado vinha de obrigação e preferia dizer agradecido. Do mesmo modo, gostava de dizer por gentileza em vez de por favor.

José da Trino (nome de origem) era um empresário de transportes quando, no início da década de 60, um circo se incendiou em Niterói vitimando 400 pessoas dois dias antes do Natal.

 

Gentileza, naquele dia, disse ter ouvido uma voz interior que o mandava largar o capitalismo e todo o apego ao material.

 

O futuro profeta entra num dos seus camiões e parte para Niterói. Durante anos, fez das cinzas e das marcas do incêndio no chão uma plantação de flores.

 

Às pessoas levava mantimentos para distribuir, dizendo: «Quem quiser não precisa de pagar nada; é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido».

Durante anos, Gentileza passa a pregar nas embarcações entre Rio de Janeiro e Niterói e deixa uma marca para sempre na cidade.

 

Gentileza pinta mensagens de paz, amor e gentileza nas pilastras do Viaduto do Caju, o lugar mais cinzento da cidade.

 

A avenida do cemitério até à Rodoviária fica com os seus dizeres marcantes pintados de preto, verde, amarelo num fundo branco.

 

As mensagens são pintadas no alto para serem lidas pelas pessoas mais humildes que passam.

 

Muitos estranham a forma singular da sua escrita e não a entendem até hoje, mas ele escrevia muitas palavras de forma diferente.

 

Exemplo: amor com apenas um R era amor material. Já Amorrr, com três R's, era um R do Pai, um R do Filho e um R do Espírito Santo.

 

Dizia: «Deus Pai é Gentileza que gera o Filho por Gentileza. Gentileza gera gentileza».

 

Por isso, um dos seus lemas rezava assim: «Gentileza é o remédio de todos os males, amor e liberdade».

 

Gentileza pintou as dezenas de pilastras da avenida e acabou por promover uma das maiores intervenções urbanas de arte na cidade do Rio de Janeiro.

Um certo dia, as autoridades mandaram cobrir tudo com tinta cinzenta.

 

Só aí então as pessoas ficaram surpreendidas com a reacção da sociedade, pois cada um pensava que só ele gostava de ler as mensagens de Gentileza.

 

Gentileza morreu em 1996 e o seu testemunho de bondade e mansidão nos mais pequenos gestos continua a perdurar na memória colectiva.

 

Não basta, porém, recordar o sr. Gentileza. Não deixemos morrer a gentileza na nossa vida.

 

Afinal, que se ganha com a rudeza?

publicado por Theosfera às 11:15

Um filme e um documentário estão a concentrar as atenções na cultura.

 

O filme do desassossego é da autoria de João Botelho, elaborado a partir do livro do desassossego de Bernardo Soares, o semi-heterónimo de Fernando Pessoa.

 

É um empreendimento arrojado e constitui um serviço prestimoso. Será, sem dúvida, uma forma de, pelo filme, muitos poderem aceder à leitura desta preciosidade da nossa literatura.

 

O documentário é José e Pilar, que recria a vida e as impressões de Saramago e Pilar del Río.

 

Há escritores que, mesmo em vida, nunca quiseram entrar no palco. Basta pensar na vida praticamente reclusa de Herberto Hélder, António Ramos Rosa ou até Miguel Torga. Sempre recusaram qualquer exposição mediática.

 

Há outros que, mesmo depois da morte, dificilmente saem de cena. O mais curioso é que, por natureza, Saramago parecia reticente ao fluxo mediático.

 

O que o documentário aparenta mostrar é que nunca é tarde para o encontro com o mais fundo da pessoa. Saramago não começou a escrever muito cedo e foi já tarde que encontrou a pessoa com quem partilhou o resto da vida.

 

Apesar da secura e da acidez que patenteava, Saramago formava com Pilar del Río um casal feliz, sereno, em permanente encantamento mútuo. O desgaste parece que não os contagiou.

 

De resto, Saramago é uma contradição viva e, por isso, estimulante. Esteve sempre longe do que estava próximo e acabou por estar próximo do que, à partida, estaria mais longe.

 

De facto, as polémicas maiores que alimentou foi com as entidades que nos são mais familiares: a pátria e a religião. De Portugal saiu em litígio. À religião nunca chegou a voltar. Ou, talvez, dela nunca tenha saído.

 

Como afirma o autor do documentário, Saramago foi um permanente acicate para o pensamento. Pôs-nos a pensar sobre muita coisa. Inclusive sobre Deus.

 

A seu modo, movia-se no terreno da religião. De uma forma adversativa, é certo. Mas que seria da obra de Saramago sem a motivação religiosa? O Evangelho segundo Jesus Cristo, In nomine Dei ou Caim são alguns títulos que corporizam o universo religioso (muito especial) de Saramago.

 

Acabou por se aproximar de quem estaria mais distante e esse foi o encontro determinante da sua vida.

 

Pilar del Río não era portuguesa e o temperamento era muito diferente.

 

Diz quem o conhece que Saramago se tornou uma outra pessoa. Pilar parecia fazer parte dele.  Daí o título deste documentário.

 

Saramago achava-se longe de Deus. Mas Deus nunca Se acha longe de ninguém. Nem daqueles que O negam. Porque, no fundo e como disse um dia Miguel Esteves Cardoso, são esses os que mais precisam d'Ele.

publicado por Theosfera às 10:53

Se pensarmos bem, a proposta de Cristo está nos antípodas das receitas de auto-ajuda que por aí vão proliferando.

 

Jesus não promete uma via fácil nem uma vida cómoda. Ao invés e como percebeu magistralmente Agostinho de Tagaste, o Senhor «não nos promete segurança e tranquilidade; o que Ele nos anuncia são aflições, tribulações e provas».

 

 Estranho marketing este que visa atrair seguidores através daquilo que mais tende a repelir os potenciais adeptos.

 

 Agostinho recomenda, por isso, «que não nos lamentemos nem murmuremos até porque os sofrimentos que hoje suportamos foram já suportados pelos nossos pais».

 

 Há muitos (isto foi já escrito no século V) «que se queixam do seu tempo, como se tivessem sido melhores os tempos dos antepassados. Porventura não murmuravam igualmente se pudessem voltar a viver os tempos dos seus antepassados? Julgas melhor o tempo passado, simplesmente porque não é o teu».

 

 Determinação, pois, já que é preciso participar na mudança. Mas, ao mesmo tempo, serenidade e mansidão. Os obstáculos não são de agora. A força, essa, é a de sempre. É a força de Jesus.

publicado por Theosfera às 10:17

O contraste pauta a nossa vida e domina, completamente, estes dias.

 

É suposto ser a Nato uma organização que promove a segurança. Porém, nunca os portugueses se sentiram tão inseguros (e até tão ameaçados) como nestes dias.

 

O aparato policial é impressionante, quase tremebundo. Fontes da polícia assumiram, aliás, uma alta probabilidade de haver um atentado. Não há-de haver, se Deus quiser, mas não deixa de pairar no ar uma sensação desconfortável.

 

Depois, temos as manifestações pela paz, em que o tom não é muito pacífico. Há uma certa agressividade no ar.

 

Confesso que também de mim a Nato não colhe especial simpatia, embora respeite a sua existência e, porventura, a sua necessidade.

 

Preferia, como é óbvio, que estes chefes de estado se juntassem para combater a fome e a desigualdade.

 

Só que as manifestações pela paz destilam um espírito pouco pacificante.

 

Admiro, por exemplo, a inteligência fulgurante de Francisco Louçã. Inteligente ele é. Mas pacificante podia ser bem mais. 

publicado por Theosfera às 10:00

Não é texto de escritor. É palavra, ia escrever profecia, de ministro.

 

Anteontem, ao ouvir Teixeira dos Santos, lembrei-me de Vergílio Ferreira.

 

Para sempre é o título de uma das obras do escritor. Para sempre foi o teor da resposta ministerial, com sabor a oráculo.

 

A redução dos salários não é só por um ano como José Sócrates sugeriu a 29 de Setembro, sendo, já aí, corrigido pelo seu colaborador. Na altura, pairou a percepção de que seria por alguns anos. Agora, é para sempre.

 

Mas para sempre é o quê? Cem anos, mil anos, a eternidade?

 

Será que o ministro tem dotes divinatórios e pensa que Portugal nunca mais recuperará? E, no seu íntimo, pretenderá ele condicionar a vida pública para todo o sempre?

 

A expressão teve uma clara pretensão performativa, mas todos nós sabemos que as coisas são definitivas enquanto duram.

 

O que Teixeira dos Santos visou foi, certamente, cortar cerce qualquer ilusão e fazer freio a todo o sonho de uma vida mais desafogada para muitos cidadãos.

 

Os tempos não correm fagueiros para a esperança. Mas, volto a Vergílio Ferreira, «quando a situação é mais dura, a esperança tem de ser mais forte».

 

O senhor ministro tem interferência no presente. Mas não é dono do futuro.

 

Para sempre é algo que lhe escapa. E há-de ter um rosto bem mais ridente que as suas (tenebrosas) previsões.

publicado por Theosfera às 05:53

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