Respeito, mas, com o máximo respeito, não posso concordar.
Tem, nos últimos dias, revivescido o discurso, por parte de altas figuras eclesiásticas, da sociedade sem Deus.
Desde logo, não se pode confundir Deus com a Igreja. O problema de muitos, a montante de qualquer razoabilidade da sua posição, não é com Deus; é com a Igreja.
Ainda recentemente, Mário Soares assumiu ter passado do ateísmo para o agnosticismo. E o motivo por não ter aderido à fé foi, na sua sua óptica, a proximidade da Igreja com o Estado Novo.
Porventura, este juízo nem é justo. Houve muita gente na Igreja que se demarcou e pagou um preço elevado por isso. O próprio Cardeal Cerejeira, amigo de Salazar, muitas vezes dissentiu dele. Discretamente, sem dúvida, mas dissentiu.
Releve-se, porém, a base. O juízo pode não ser justo, mas é um sinal.
As pessoas mantêm uma profunda ligação a Deus. O recente livro de John Micklethwait e Adrian Wooldrige aí está para o demonstrar. Aqui se documenta, por exemplo, que o domínio da China não é só no plano económico e comercial. Começa a ser também no plano religioso.
Só que há um indicador a que não se pode desatender. O crescimento do Cristianismo na China não ocorre apenas pelas igrejas. Verifica-se também à margem das igrejas. Há um número cada vez maior de cristãos a reunir-se em casas particulares.
Agora, vir dizer que vivemos numa sociedade sem Deus é mesmo sinal de que não estamos atentos nem a Deus nem á sociedade.
A procura até aumentou. E nem o ateísmo está completamente à margem. Zubiri anotava que o ateísmo acaba por ser uma relação com Deus pela via da negação. Negação, mas relação.
O que acontece é que a relação com Deus está a fazer-se, crescentemente, longe das igrejas. Sobretudo na Europa.
Isto não será um sinal a ter em conta?