Não acredito numa sabedoria vaidosa, exibicionista, presunçosa.
O saber não está do lado da posse. Está, sim, do lado da procura.
Zubiri já nos prevenira. O importante não é possuir a verdade, mas deixar-se possuir pela verdade.
A sabedoria é, portanto, irmã gémea da humildade.
Só o verdadeiramente humilde é autenticamente sábio.
Impressiona ver como, hoje em dia, se recorre tão pouco ao não sei.
O pensamento tende a ser cada vez mais instantâneo. Pretende-se dizer primeiro e sobrepor-se aos outros.
Ora, o não sei é um documento de saber e um certificado de procura.
Um dos maiores sábios da humanidade exarou uma sentença que ficou célebre: «Quanto mais sei, mais sei que nada sei».
Descontando o exagero (pelo menos, sabe-se que não se sabe), late aqui uma profunda sapiência.
O caminho da sabedoria parte da percepção de que ainda há muito para descobrir, para encontrar.
Por isso é que verdade em grego se diz aletheia, aquilo que se vai desvelando, aquilo que vai tirando o véu e se deixa ver.
Sócrates ajudava a tomar consciência do não saber e, maieuticamente, apoiava o germinar do saber no íntimo das pessoas.
É para este saber que devemos tender. Ele vai muito para lá do que figura nas pautas de uma escola e que, muitas vezes, decorre de uma noite mal dormida.
Há uma tendência para dar ao saber uma dimensão apenas instrumental como sendo um meio que nos permite triunfar na vida.
Daí a ansiedade e a mentalidade doentiamente competitiva que se gera desde cedo.
Há que redescobrir o sabor do saber.
Há que nunca desistir de aprender a sabedoria.
Nunca se sabe tanto como quando temos consciência de que sabemos pouco. Esse é o sinal que nos impele a continuar, a nunca desistir, a jamais deixar de procurar.
Não acredito numa sabedoria ruidosa, palavrosa.
Acredito cada vez mais numa sabedoria persistente, delicada, bondosa.
Quando vejo uma pessoa humilde, a minha atenção desperta. Está ali uma pessoa sábia. Mesmo que o não pareça.
Não é a sabedoria que nos ensina que o que parece raramente é?