Mais um sábio a defender que isto já lá não vai com uma reforma. É necessária uma revolução.
Para Fernando Savater, o sábio em causa, tal revolução tem de começar pela educação.
Não há novidade nesta tomada de posição. O problema é que, sendo tantas as vozes a propugnar uma revolução com base na educação, tão poucos parecem ser os actos no sentido de a levar a efeito.
Savater propõe uma verdadeira Educação Cívica, que «introduza a capacidade de agir em democracia».
Estranhamente, não quer a religião na escola. Umberto Eco, que também é laico, entende que a religião, enquanto fenómeno humano, deve ter espaço nos estabelecimentos de ensino.
Voltando a Savater, registe-se a importância da autoridade. Segundo ele, «uma aula é hierárquica». E, apesar de a escola dever preparar para a democracia, ela «não é democrática».
Recusando qualquer alarmismo, assume que «a escola sempre viveu em crise». Ela «anda sempre atrás da sociedade, dado que os professores foram educados no passado e têm de educar para o futuro».
Mas não é bom que seja assim? O movimento do tempo não se faz do passado para o futuro? Não é no passado que o futuro germina? Não é a memória a alma da cultura?
É preciso, de uma vez para sempre, recolocar a escola no seu autêntico estatuto. «As aulas não são uma reunião de amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento».
Esta dimensão, a do conhecimento, é decisiva. Uma sociedade ignorante tenderá a escolher representantes ignorantes. Ora, isso mina completamente a democracia.
«Se os políticos que ocupam os cargos são incompetentes, somos nós que os elegemos, e fomos nós que, apesar de acreditarmos que podemos ser melhores do que eles, não nos oferecemos para o lugar deles».
E Savater dá um exemplo. Há uma figura no país vizinho conhecida pela sua ignorância e futilidade. Uma sondagem, entretanto, diz que muitos espanhóis votariam nela para primeira-ministra.
Convidado a comentar este dado, Savater perguntou: «Vocês acreditariam que os mesmos espanhóis votariam nesta pessoa para treinadora da selecção nacional?». Resposta pronta: «Claro que não! O lugar de treinador da selecção nacional é um posto demasiado sério!»
Para muitos, o lugar de treinador é mais importante que o lugar de primeiro-ministro. Está tudo dito.
Venha a revolução na educação. Ontem já era tarde.