O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 02 de Novembro de 2010

É Novembro e, apesar do sol, o ar é um pouco sombrio, carregado.

 

Este é o tempo em que pensamos mais no tempo, no fim dos tempos e nos tempos do fim.

 

Este é o tempo em que o tempo se auto-suspende e nos fixamos para lá do tempo.

 

Este é o tempo em que o tempo se senta. Só a eternidade voa. E se aloja em nós.

 

Este é, pois, um tempo de viagem: do tempo para a eternidade e da eternidade para o tempo.

 

De desencontro em desencontro, rumo ao encontro total e, assim o esperamos, feliz.

publicado por Theosfera às 13:47

1. As viagens mais marcantes não são aquelas que nos levam aos mais diferentes lugares. Serão, antes, aquelas que, por dentro, nos conduzem às ideias, aos ideais, às convicções.

 

Antony Flew foi um activo viajante (e um insaciável peregrino) entre Deus e a negação de Deus, entre a negação de Deus e Deus.

 

Curiosamente, não foi a Igreja que o segurou na hora de sair. Não foi também a Igreja que o atraiu no momento de voltar.

 

O regresso de Antony Flew a Deus move-se, segundo o próprio, no mero campo da razão.

 

O seu caso nem sequer pode ser alinhado na tendência que Grace Davie qualifica como «crença sem pertença».

 

Antony Flew atesta que não foi guiado pela fé. A mesma razão que o levara, em jovem, a negar Deus é que o impeliu, praticamente no fim da vida, a reafirmar Deus.

 

 

2. Antony Flew terá sido, porventura, o mais célebre filósofo ateu dos últimos tempos.

 

Nele se inspiram, com efeito, algumas das figuras que, ultimamente, têm corporizado o chamado novo ateísmo.

 

Foi, portanto, com espanto que, pouco antes da sua morte (ocorrida a 8 de Abril deste ano), Antony Flew fez sair um livro com o sugestivo título Deus (não) existe.

 

Aqui explana toda a sua trajectória e aprofunda os motivos da mudança. «Tudo num plano puramente natural, sem qualquer recurso a fenómenos sobrenaturais».

 

Por outras palavras, estamos perante «uma peregrinação da razão e não da fé».

 

 

3. Para ele, não é necessário ser crente para encontrar Deus. Basta seguir o conselho de Sócrates: «Temos de seguir a razão para onde quer que ela nos leve».

 

Flew não abandonou o ateísmo por causa de algum argumento novo. Procurou, simplesmente, estar atento à natureza.

 

Foram as leis da natureza que transportaram Flew para a Inteligência infinita. Foram elas que o tornaram sensível àquilo que os cientistas denominam a Mente de Deus.

 

A ciência coloca-nos três dimensões que, segundo Flew, apontam para Deus.

 

A primeira é o facto de a natureza obedecer a leis. A segunda é a dimensão da vida, de seres inteligentemente organizados, que surgiu da matéria. E a terceira é a própria existência da natureza.

 

 Foi neste quadro que achou que, «na vida, os processos reprodutivos têm origem numa fonte divina».

 

É que, inspirando-se numa frase do filme Música no coração, Flew tem muito claro que «nada vem do nada, nunca tal aconteceu».

 

 

4. O testemunho de Antony Flew remete para outros casos, com desfecho diferente.

 

Que terá motivado, por exemplo, Bertrand Russell a permanecer no ateísmo?

 

Nada melhor do que consultar a filha. Esta palpita que, embora o percurso de Russell se orientasse pelos meandros da razão, o que ele via nos crentes deixava-o completamente inibido.

 

No entanto, ela crê «que toda a sua vida foi uma procura de Deus. Algures, no fundo da mente do meu pai, no âmago do seu coração, nas profundezas da sua alma, havia um espaço vazio que fora um dia preenchido por Deus, e ele nunca encontrou uma outra coisa para pôr nesse lugar».

 

Katharine assume gostar de ter convencido o pai «de que tinha encontrado aquilo que procurava, aquela coisa inefável que ele, durante toda a vida, desejara ardentemente. Mas era inútil».

 

O problema é que Russell «tinha conhecido demasiados cristãos fanáticos, daqueles que tiram a alegria e perseguem os seus opositores. Ele nunca seria capaz de ver a verdade que essa gente escondia».

 

A Igreja, que não interferiu em Antony Flew, terá sido um obstáculo para Bertrand Russell. Subsistiu, entretanto, o vazio.

 

Russell disse um dia: «Nada pode penetrar a solidão de um coração humano, excepto a profunda intensidade daquele género de amor que os mestres religiosos pregaram».

 

No fundo, não será o ateu alguém com uma intensa saudade de Deus?

publicado por Theosfera às 13:42

A morte está aqui. Mas a ressurreição mora já ali.

 

Entre a morte e a vida há uma diferença tão grande mas, ao mesmo tempo, uma distância tão pequena!

 

A morte não é fim, mas começo; não é termo, mas trânsito; não é catástrofe, mas passagem: para a plenitude, para o amor, para a vida.

publicado por Theosfera às 10:41

Das eleições dp Brasil sobra, para lá da vitória de Dilma Rousseff, a acesa polémica acerca da intervenção da Igreja na campanha.

 

Os candidatos, vendo na fé um filão e apesar de não serem praticantes, não se escusaram a demandar santuários e a falar com dignitários.

 

Por sua vez, várias figuras da Igreja, vendo nas eleições uma oportunidade, não se eximiram a tomar posição. Alguns (padres e bispos) foram mesmo ao ponto de dizer em quem jamais se deveria votar.

 

Como é sabido, a Igreja professa, oficialmente, isenção em matéria político-partidária. Mas, depois, sabe-se que, no plano informal, essa isenção nem sempre é mantida.

 

Refira-se que tal desiderato não é fácil. Até o silêncio é passível de leitura política.

 

Há duas coisas que importa conjugar: a transparência com a sensatez.

 

Numa sociedade adulta, ninguém deve estar inibido nos seus direitos de cidadania. E mais vale assumir o que se pensa às claras do que insinuar às escondidas.

 

Penso que isto, à partida, não constitui qualquer pressão. As pessoas são maduras e saberão decidir em consciência. Ninguém é dono da consciência dos outros.

 

Acontece que a sensatez obriga a que haja algum cuidado. Assim como não queremos que um jogo de futebol se transforme num comício, também não é expectável que se faça campanha numa Missa.

 

Isto não implica que não se exponha a mensagem de Cristo em todos os domínios, nomeadamente na justiça social e na opção preferencial pelos pobres.

 

Este é o terreno da Igreja: o de apontar valores e princípios. Mas daí a dizer, desde o púlpito, vamos votar neste ou não vamos votar naquele vai uma grande distância.

 

Marina Silva, que é política, eximiu-se a dar qualquer sentido de voto. Disse, e muito bem, que não era dona do voto de ninguém. Nem sequer do daqueles que tinham votado nela na primeira volta. Foi um gesto muito nobre.

publicado por Theosfera às 10:26

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