O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Neste dia, há 75 anos, morreu uma pessoa que Pessoa se chamava, mas que muitas pessoas parecia transportar dentro de si.

 

Escreveu sobre nós, mas permanece quase incógnito no nosso meio à medida que vai sendo descoberto lá fora e aplaudido lá longe.

 

Personalidade plurifacetada, deixou uma obra onde imprime uma profundidade densa.

 

Volvidos estes anos, o seu vaticínio continua prenhe de acuidade: «Falta cumprir-se Portugal».

 

Este é um desígnio cada vez mais dificultado, mas não será missão impossível.

 

Se Deus continua a querer e se nós, homens, continuamos a sonhar, porque é que a obra não haverá de nascer?

 

A obra é a justiça social, o desenvolvimento, a partilha, a esperança.

 

É isto que faz um povo. É isto que faz uma terra, uma terra que Deus quer uma e não uma terra atomizada em poucos ricos e muitos pobres!

publicado por Theosfera às 14:08

Por natureza (e sucessivos ensaios de definição), a escola é o espaço da abrangência.

 

Não se pede à escola que seja exaustiva. Mas exige-se-lhe que procure ser universal.

 

Daí até o facto de a escola superior ter o nome de universidade.

 

Não podendo tocar em todos os saberes, ela procura oferecer, pelo menos, o essencial de todos os conhecimentos.

 

É por tudo isto que a escola se torna um repositório da ciência e um laboratório de valores.

 

Na escola se aprende o conhecimento e a sabedoria.

 

Vicissitudes múltiplas e imprevistos vários, porém, estão a converter a escola no lugar da especialidade.

 

Formam-se peritos em várias áreas, mas está a esbater-se, cada vez mais, a percepção do universal.

 

Encontramos óptimos técnicos, mas deixamos de encontrar muitos sábios, embora estes ainda apareçam.

 

A cultura de Zubiri era tal que foi denominado especialista do universal.

 

A preocupação pela especialidade pode transformar a escola no espaço do esquecimento. E, como lembra Ellie Wiesel, esquecer acaba por ser rejeitar.

 

Uma das últimas obras de Tony Judt, precocemente falecido este ano, fala-nos do século XX esquecido. E por lá desfilam nomes que, em tempos, nos soavam a familiares.

 

Mas, hoje em dia, quem sabe quem foram Primo Levi, Arthur Koestler, Manes Sperber ou até Hannah Arendt?

 

Já nem Descartes, pelos vistos, é conhecido. Ainda ontem, um popular concurso televisivo patenteava esta lacuna. Kant era descrito como um especialista em economia.

 

O problema é que este esquecimento alastra. A vida está povoada de esquecimentos e cravada de esquecidos...

publicado por Theosfera às 12:01

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

Uma noite fria, com a neve a cair, é aquecida pela paz e por muito encanto.

 

Um feliz descanso.

publicado por Theosfera às 23:01

Esta noite, houve um recital. Nem Mourinho conseguiu impedir que o Barcelona passeasse a sua classe selando-a com cinco golos.

 

Uma vez mais, a cantera superou a cartera.

 

Acima de tudo, foi o confronto entre duas opções. O Barcelona forma. O Real Madrid compra.

 

Este ano, a aposta da equipa da capital foi o treinador. E, seguramente, não é esta derrota que vai abalar a confiança de Mourinho. Mas até os melhores cedem. Porventura, terá sido a presença do técnico português que terá dado um acréscimo de motivação ao Barcelona que, segundo as crónicas, terá feito um jogo sublime.

 

É de enaltecer a política da equipa catalã. Os jogadores, na sua maioria, são formados em casa. O treinador é da casa. Há uma identificação total com o clube. Há uma interacção entre todos e não uma mera soma de individualidades.

 

Há clubes que também formam bons jogadores. Só que a escolha é vender. O Barcelona forma para vencer.

 

Vender os melhores jogadores assegura receitas. Vencer com os melhores jogadores permite arrecadar receitas muito maiores.

 

O Barcelona parece imbatível. Mas Mourinho, acossado, é ainda mais perigoso.

 

Hoje não quis jogar como o Inter. Não quis limitar-se a impedir o Barça de jogar. Pretendeu ter a iniciativa. Mas o Barcelona chegou primeiro à bola. E, nesse capítulo, a sua superioridade ficou bem vincada.

 

Mas a história não acabou. 

publicado por Theosfera às 22:48

Mantenho o que sempre afirmei. Olho para o futebol como um repositório do carácter e dos sentimentos.

 

Um estádio chega a assimilar-se, deveras, a uma faculdade de antropologia, de sociologia e de psicologia.

 

Deste fim-de-semana sobram algumas atitudes reveladoras e alguns gestos preocupantes.

 

Escalpelizadas as incidências desportivas, é o momento de reflectir acerca de alguns comportamentos.

 

No sábado, há um jogador que é alvejado com uma avalancha de maçãs. 

 

Havia mágoas que transitavam desde há muito, é certo. Mas a cortesia é sempre a resposta que marca a diferença.

 

No mesmo jogo (um clássico, como se ouviu), um atleta do Sporting atirou a bola para fora ao ver que um adversário estava no chão. Foi um gesto bonito, mas que não teve devolução.

 

Poucos minutos mais tarde, houve oportunidade. Um jogador do Sporting estava caído. O F.C.Porto continuou a jogar. E marcou golo. É claro que nada obrigava a uma paragem. O árbitro é que manda. Mas ir mais além que a obrigação é algo que faz a diferença. Tanto mais que havia um precedente recente.

 

Ontem, Jorge Jesus abandonou, intempestivamente, a entrevista no final do jogo. Não foi edificante o gesto. Mas daí a estigmatizá-lo vai uma grande distância.

 

O treinador não gostou de uma pergunta que, aliás, nem era sobre o jogo. O jornalista, de um modo que me pareceu desabrido e até arrogante, replicou que quem fazia as perguntas era ele.

 

Isto deixa-me desgostoso. A falta de humildade é preocupante.

 

Até um professor, que não revela obviamente as perguntas, não foge ao âmbito da matéria. Ora, supõe-se que a matéria das entrevistas rápidas são os jogos que terminaram.

 

Poder-se-á ir mais longe? Sim, se houver acordo.

 

Um jornalista pede um serviço. Um treinador acede a prestá-lo. Para quê estas atitudes?

 

Os tempos não correm fagueiros para a urbanidade, para a convivência.

publicado por Theosfera às 19:31

A neve cai. Cai com força. A natureza cobre-se de branco.

 

De branco se cubram os corações.

 

A natureza mostra-se alva.

 

Que os corações se tornem mais puros ao contemplarem a alvura da natureza.

 

O frio também oferece os seus encantos, além do perigo.

publicado por Theosfera às 14:07

1. A verdade está na adequação.

 

Eis uma verdade antiga sobre a verdade. Não será, contudo, apenas uma parcela da verdade?

 

Não será tempo de perceber que a verdade se encontra, também e acima de tudo, na transformação?

 

É sabido que a verdade sempre nos surgiu ungida com o selo do imutável, do perene, do definitivo.

 

Sucede que, não raramente, se confundia verdade com simples percepção. E não obstante, faziam-se juízos, proferiam-se sentenças e matavam-se condenados.

 

Quantas não têm sido as vítimas de verdades que, no fundo, não passavam de erros?

 

O problema maior nem sequer estava no erro. Estava na presunção de o referido erro ser uma verdade de tal importância que seria legítimo eliminar quem a não afirmasse.

 

Acontece que a verdade não autoriza a condenar. Como pode estar na verdade quem condena?

 

Como pode estar na verdade quem não percebe que a dignidade da pessoa está acima das posições que possa tomar?

 

Entre uma afirmação, por muito segura que nos pareça, e um ser humano, poderá haver a mais leve hesitação?

 

 

2. O perigo da verdade como adequação reside neste ponto.

 

É que, ao contrário do que preceituava Aristóteles, a verdade pode deixar de ser encontrada na realidade para ficar ao puro arbítrio da autoridade.

 

Será que a verdade deverá depender da autoridade? Não deverá ser, antes, a autoridade a depender da verdade?

 

Xavier Zubiri mostrou que a primeira grande tarefa da sabedoria é discernir. E esta é uma missão que radica na consciência. Não é um ditame imposto por uma qualquer autoridade.

 

Ainda assim, aceita-se que, no plano lógico, a verdade como adequação tenha a sua pertinência. Se uma parede é branca, não posso dizer que é preta.

 

Não obstante, há que ressalvar que, mesmo neste plano, é preciso ter cuidado com possíveis distorções.

 

A mesma realidade desponta, por vezes, emoldurada em diferentes leituras sem que seja lícito pôr em causa a seriedade de quem as faz.

 

O mesmo sintoma pode desaguar em diagnósticos diversos. As mesmas pessoas numa multidão podem dar lugar a números distantes. O mesmo texto pode oferecer interpretações totalmente díspares.

 

É caso para deduzir, parafraseando Napoleão, que olhar para a mesma realidade não quer dizer que, nela, se veja a mesma coisa.

 

 

3. Estas cautelas impõem que, no âmbito existencial, a verdade não possa ser vista como mera adequação. Na vida, a verdade está sobretudo na transformação.

 

Também aqui a ajuda de Zubiri é preciosa. O desígnio de cada um não há-se ser possuir a verdade, mas deixar-se possuir pela verdade.

 

Não pensemos que a verdade é monocolor ou que se presenteia apenas a alguns iluminados.

 

É preciso ter presente que a verdade tem muitas aparições. Mais que possuí-la (pretensão, aliás, inviável) ou impô-la (ambição totalmente descabida), do que se trata é de procurá-la.

 

Para quem procura, cada encontro não é termo, mas etapa e alento para nova busca.

 

Facilmente notaremos que não é a verdade que tem de se adequar a nós. Nós é que temos de nos adequar à verdade. É ela que nos molda, que nos configura.

 

Daí que a verdade esteja do lado da abertura, da mudança. Ela nunca pode ser aprisionada.

 

A história atesta que a verdade não está na conformidade nem, muito menos, na resignação.

 

 

 Próximo da verdade não está, pois, quem se conforma, quem se resigna. Próximo da verdade está quem se transforma.

 

 

4. Sobra, entretanto, uma pergunta. Em que consiste a transformação proporcionada pela verdade?

 

As surpresas são incontáveis, mas uma certeza é indesmentível. A verdade aparece-nos sob todas as formas, mas nunca fora da bondade.

 

Sem bondade, até a verdade é menos verdadeira. Sem bondade, aliás, nem a beleza seria bela.

 

Só quando nos transformarmos pela bondade, encontraremos o acesso à verdade.

 

Daí que, segundo Agostinho da Silva, o cume do conhecimento não esteja na verdade. «O supremo entender é mesmo a bondade»!   

publicado por Theosfera às 11:59

O mundo parece cada vez mais uma aldeia. E, como é habitual nas aldeias, o que mais prospera é a intriga.

 

Outrora, um rumor tinha uma circulação limitada. Circunscrevia-se ao perímetro da aldeia.

 

Hoje, mantém-se no âmbito da aldeia. Só que esta aldeia é global.

 

Na maior parte dos casos, a intriga atém-se à vida das pessoas.

 

Acaba, entretanto, de assomar à ribalta uma panóplia de segredos diplomáticos que pode configurar uma crise planetária.

 

Invoca-se a transparência para nada se calar. Mas não configurará melhor a transparência respeitar a natureza das coisas?

 

O que é público deve ser tratado em público. O que é discreto deve ser tratado com discrição. Já o que é secreto deve ser tratado com sigilo.

 

Só que isso pressupõe um quadro de valores que estão cada vez mais em débito.

 

Nos tempos que correm, o que tende a prevalecer é o interesse.

 

E, aqui, junta-se o interesse de quem coligiu a informação à volúpia da imprensa e dos leitores.

 

A confiança regride. Mas o negócio prospera.

 

Em quem confiar, hoje? 

publicado por Theosfera às 10:16

O capítulo sexto de S. João é uma lição de pastoral e de vivência cristã que jamais deveríamos pôr de lado. Começa em clima de festa (fome saciada) e termina em ambiente de drama.

 

A reacção dos interlocutores de Jesus vai evoluindo (ou regredindo, pensando bem): inicialmente, existe aclamação; depois, assiste-se à discussão; de seguida, surge a contestação; finalmente, aparece a rejeição.

 

 O mais curioso é que, diante da oposição, o mais natural é que Jesus recuasse para não perder adeptos. Mas não. Aos próprios discípulos mais chegados faz uma pergunta que soa a provocação: também vós quereis ir embora?

 

 Ou seja, Jesus, que vinha para todos, não Se importa de ficar só. O que Ele não troca é o número pelas convicções.

 

 Será que, vinte séculos depois, aprendemos a lição? A cabeça é que comanda o resto do corpo. Não é o resto do corpo que comanda a cabeça.

 

 Em muitas circunstâncias, a reacção dos judeus teria levado Jesus a recuar, quiçá a mudar de opinião.

 

 Mas Jesus veio oferecer-nos a verdade. Ele é a verdade. Acabou na Cruz, é certo. Mas voltou, revigorado, do sepulcro.

 

Nunca o esqueçamos.

publicado por Theosfera às 10:07

Parece que os sacrifícios não chegam.

 

Ontem, mais uma recomendação de Bruxelas que, descodificada, vai dar, mais ou menos, a isto: é preciso que os cidadãos se vão preparando para ganhar cada vez menos e para pagar cada vez mais.

 

Habitualmente, o aumento dos salários prometia cobrir o aumento expectável do custo de vida.

 

Sucede que os salários não só não vão aumentar como vão diminuir. Não obstante, os preços dos bens essenciais vão subir.

 

Até as empresas de telemóveis, sempre tão pressurosas a anunciar campanhas, já nos avisaram acerca da subida das chamadas.

 

Mas a luz (apesar dos lucros volumosos da edp) também vai ser mais cara. A água idem. As portagens igualmente.

 

E, ainda por cima, dizem que não basta.

publicado por Theosfera às 10:05

Domingo, 28 de Novembro de 2010

Quando, modestamente, alguém faz o que deve, é que começa a ser mais criticado, mais hostilizado.

 

Alternativa? Fazer o que não se deve? É claro que não terá o menor problema. Será até fartamente vitoriado.

 

 Mas a consciência impede. Antes vituperado por causa do dever do que vitoriado por causa da violação do dever.

 

 Somos servos inúteis. Só fazemos o que devíamos fazer. E quando não fazemos o que devemos?

publicado por Theosfera às 18:39

Como será estar contente?

Lançar os olhos em volta,

moderado e complacente,

e tratar com toda a gente

sem tristeza nem revolta?

Sentir-se um homem feliz,

satisfeito com o que sente,

com o que pensa e com o que diz?

Como será estar contente?

publicado por Theosfera às 18:37

Karl Jaspers alertava que o começo da filosofia vem com o espanto.

 

Já os antigos o notavam. Platão e Aristóteles chamavam a atenção para a importância da admiração.

 

Hoje, faz falta o espanto, a admiração, a contemplação, o olhar para o horizonte ilimitado.

 

É a partir de uma certa estranheza que nos entranhamos na procura.

 

E o que é estranho vai-se entranhando em nós, vai-se tornando familiar.

 

O Advento e o Natal são uma oportunidade para crescermos na capacidade de admirar.

 

As coisas não são só para dominar, para controlar.

 

Acima de tudo, o mundo (embora não o pareça) é uma obra muito bela, com segredos ainda por desvendar.

publicado por Theosfera às 18:33

As grandes fricções na Igreja têm, quase sempre, como epicentro o poder.

 

Ora, isto é totalmente espúrio e indevido.

 

Jesus corporiza a prioridade do serviço e a recusa do poder.

 

A pertença a Jesus vem pelo baptismo. Há em cada discípulo, na sua acção quotidiana, uma autonomia cristónoma, que dispensa tutelas.

 

O próprio Concílio Vaticano II consagra, como carisma dos fiéis leigos, a acção no mundo.

 

A relação é estruturante. A interacção é edificante. A tutela pode ser uma condicionante.

 

Cristo está presente em cada um. Apoiar é importante. Tutelar é menorizar, é não confiar.

 

O Espírito, afinal, sopra onde quer. E não está dominado por ninguém.

publicado por Theosfera às 18:26

No Advento já é Natal.

 

No Natal continua a ser Advento.

 

É Advento no Natal porque o Natal celebra a grande chegada do Senhor Jesus à nossa história, ao nosso mundo, à nossa vida.

 

E é Natal no Advento porque nele o Senhor nasce e renasce.

 

A Eucaristia é o grande Advento e o perene Natal.

 

Creio, Senhor, que vieste ao mundo

e que no mundo permaneces.

 

Tu estás em toda a parte,

estás no Homem,

estás na Vida,

estás na História,

estás no Pequeno,

estás no Pobre.

 

Hoje como ontem,

permaneces quase imperceptível.

 

Há quem continue a procurar-Te no fausto,

na ostentação,

na majestade.

 

Tu desconcertas-nos completamente

e surpreendes-nos a cada instante.

 

És inesperado

e estás sempre à nossa espera.

 

Os momentos podem ser duros.

 

O abandono pode chegar

e a rejeição pode asfixiar-nos.

 

Tu, porém, não faltas.

 

Estás sempre presente.

Estás simplesmente.

 

Creio, Senhor,

que é na simplicidade que nos visitas

e na humildade que nos encontras.

 

Converte-nos à Tua bondade,

inunda-nos com o Teu amor,

afaga-nos na Tua paz.

 

Obrigado, Senhor, pelo Teu constante Advento.

 

Parabéns, Senhor, pelo Teu eterno Natal!

publicado por Theosfera às 00:02

«O Advento é o tempo da quietude. Mas muitos vivem-no como tempo agitado e barulhento. As pessoas correm pelas lojas, para fazer as compras de Natal. É preciso buscar a quietude para Deus entrar em nós. Sem quietude não daremos conta da vinda de Deus. não ouviremos o Seu bater à porta do nosso coração».

Assim escreveu (sublime e magnificamente) Anselm Grün.

publicado por Theosfera às 00:01

Vigiar é a atitude de alguém quem espera e prepara a chegada de Alguém.
 
Não decorre de um qualquer instinto inspectivo, controlador.
 
Não andamos na vida a vigiar os outros, mas antes de mais a vigiarmo-nos a nós mesmos.
 
Advento é vinda. Mas como virá Aquele que nós esquecemos, Aquele que nós teimamos em ignorar?
 
Quando consentiremos que a luz brilhe?

O advento convida-nos à vigilância, ao cuidado, à atenção, à esperança.

 

Não esqueçamos o advento de cada evento. O Senhor veio (encarnação), o Senhor virá (parusia) e o Senhor vem (no presente).

 

Acolhamo-Lo sempre.

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 27 de Novembro de 2010

Em Zubiri, há uma frase que sempre me intrigou um pouco: «A filosofia não pode ser conservadora sem deixar de ser filosofia».

 

Desde logo, porque pensava que as categorias de conservador/progressista seriam espúrias na filosofia.

 

Depois, porque, se optarmos por aplicar este género de leitura, é sempre possível haver uma arrumação salomónica. Como tudo, a filosofia terá uma dimensão conservadora e uma dimensão progressista.

 

Finalmente, porque quem conheceu Zubiri seria tentado a considerá-lo facilmente como um conservador.

 

Com o tempo, porém, fui-me apercebendo da pertinência da frase e do alcance que ela encerra.

 

A filosofia, para Karl Jaspers, nasce do espanto. Para Zubiri, começa com a admiração.

 

Tudo isto gera uma inquietação e uma vontade de procura incessante.

 

Ser conservador na filosofia é, pois, impossível. Ela não pretende guardar, conservar, manter. Ela visa percorrer, questionar, buscar.

 

Em boa verdade, não há filosofia. Só há filosofar. Kant era taxativo a este respeito: «Não se aprende a filosofia. Só se aprende a filosofar».

 

Acresce que, voltada para o real, a filosofia nunca pode resignar-se a uma atitude conservadora. O real também não é conservador.

 

A realidade é movimento, é mudança, é vida.

 

Na vida, o conservadorismo é injusto porque estagna.

 

Objectar-se-á que o progressismo também não tem obtido grandes resultados, designadamente na política. O problema é que a visão genuinamente progressista nunca exerceu o poder.

 

Quando se acede ao poder, todos se tornam conservadores. Inclusivamente os que se consideram progressistas.

 

Um dos primeiros discípulos de Zubiri foi Ignacio Ellacuría, alguém que, a partir da filosofia da realidade do seu mestre, incorporou um modo de vida desinstalado, voltado para os mais pobres.

 

No fundo, é a existência que nunca pode ser conservadora. 

publicado por Theosfera às 20:59

Há frio. Mas também há sol.

 

As nuvens parecem ter descido do firmamento para o interior das pessoas.

 

Quando é que o mundo se transformará numa filadélfia?

 

Quando seremos uma gigantesca cidade de amigos, de irmãos?

 

 

publicado por Theosfera às 11:35

A moderação, atitude que considero mais adequada na difícil gestão dos relacionamentos humanos, é também aquela que mais anticorpos acaba por gerar.

 

O moderado desagrada a quem quer caminhar depressa e não agrada a quem pretende ir devagar.

 

 Mesmo assim, vale a pena porfiar. Primeiro, porque as convicções são um património.Quem é moderado, deve sê-lo independentemente da eficácia, do resultado. E, depois, porque a moderação envolve sempre mais gente. Mesmo aquela que, à partida, se mostra imoderada.

 

 O futuro é (mesmo) da serenidade, da mansidão e, como não podia deixar de ser, da verdade.

publicado por Theosfera às 11:27

Naquele momento, Sarkozy contra-atacou e acusou os jornalistas de serem pedófilos. Não tinha provas. Mas era a sua convicção.

 

É claro que tudo aquilo pretendia ser uma lição. É que os mesmos jornalistas questionavam-no sobre qualquer questão sensível, em que o presidente francês era acusado.

 

O que ele queria dizer, no fundo, é que estava inocente e que, quando se quer denegrir alguém, basta levantar uma suspeita.

 

De facto, é preciso ter muito cuidado e também confiança nas autoridades. A honra das pessoas é um direito fundamental. Até provas em contrário, não é concebível pô-lo em causa.

 

Meredith Maran acusou o pai de incesto. Adolescente, estava contaminada com os relatos de abuso sexual. Mais tarde, viria a reconhecer que tudo era falso.

 

Há que regenerar a nossa vida. Já há muitos problemas no mundo. O que não podemos é ficcionar um criminoso em cada esquina.

 

Para problemática, já basta a realidade. Não nos atormentemos com a ficção.

publicado por Theosfera às 11:20

Paulo Portas e Belmiro de Azevedo criticaram muito Cavaco Silva. José Miguel Júdice continua a criticá-lo e de forma contundente.

 

Não obstante, todos se declaram apoiantes da sua reeleição.

 

Aparentemente, é estranho. E se alguém está preocupado não é Cavaco Silva. É que se até muitos dos seus críticos o apoiam...

 

Era bom, porém, que a atenção não se concentrasse apenas na gestão dos apoios e na coreografia da campanha.

 

Era importante que se ouvissem todos os candidatos. Os que entraram pela porta da política e os que vieram, directamente, da cidadania.

 

Precisamos de ideias, de propostas, de respeito.

 

Propaganda, já chega. 

publicado por Theosfera às 11:14

Já que, entre nós, o trabalho não dá sorte, eis que alguns se viram para a sorte que, pelo menos, não dá trabalho.

 

O primeiro prémio do euromilhões voltou a sorrir em Portugal. Mais de 45 milhões de euros bateram à porta de um apostador.

 

O problema é que a sorte é ainda mais selectiva que o trabalho. Compensa ainda menos pessoas. E é totalmente aleatória.

 

Muitos a tentam. Mas ela só se deixa tentar por alguns. Muito poucos.

publicado por Theosfera às 11:05

Sexta-feira, 26 de Novembro de 2010

«Não quero perder de vista a infância porque é o único reduto onde a felicidade é possível».

Assim escreveu (avisada e magnificamente) Pedro Bessa Múrias.

publicado por Theosfera às 22:52

Comentar, nesta altura, programas de televisão parece uma excentricidade. Faz lembrar a pergunta de Hölderlin: «Para que servem os poetas neste tempos de aflição?»

 

Eu diria que os poetas servem sempre e servem muito. Saciar o espírito é sempre benfazejo.

 

Já quanto a determinados programas, era importante que o discernimento fosse maior.

 

Correram esta tarde duas notícias nos jornais.

 

Uma acerca da casa dos segredos, que nunca vi mas que, dado o volume informativo, sei, mais ou menos, em que consistirá.

 

Parece que um participante foi expulso porque terá agredido a namorada.

 

Como é possível que a televisão dê cobertura a coisas deste jaez? Entre o indecoroso e o aviltante, há quem lobrigue alguma utilidade, alguma consistência?

 

Penso que não. Mas também não é qualidade que muitos querem.

 

Estamos perante um problema cívico. Se estes programas não fossem vistos, não existiriam.

 

As pessoas são livres. Mas dá que pensar.

 

Soube-se também que o Contra-Informação vai cessar. Aqui, confesso que sinto alguma nostalgia.

 

Havia ali muita irreverência, mas também bastante subtileza.

 

Desconheço as razões do termo. Mas cruzando as duas informações, é impossível não perguntar: como é possível que uma inane casa dos segredos sobreviva ao humor inteligente do Contra-Informação?

 

A futilidade e o vazio parecem ser trunfos. Mas isto vem de há uns tempos para cá.

 

Afinal, Quim Barreiros e Tony Carreira sempre vendem mais que Bach, Hyden e Mozart.

 

Só que daqui a duzentos anos, ninguém fará ideia de quem eles foram. Já os sons dos clássicos ouvir-se-ão para sempre. São imortais. O que é bom pode não ser apreciado nem consumido. Mas perdura. 

publicado por Theosfera às 20:52

Nesta altura, fala-se muito das instituições que também estão a ficar sem meios.

 

A crise não atinge apenas os destinatários. Envolve também os que pretendem ajudá-los.

 

Mas eu penso que, sem qualquer desdouro para o meritório trabalho das instituições, é igualmente importante apostar na personalização da partilha.

 

É necessário que a ajuda tenha rosto. Que se bata à porta. Que se ofereça tempo. Que se conviva.

 

Até porque pressinto que, na hora que passa, os mais necessitados acabam por ser os mais retraídos, aqueles que nem a mão conseguem estender.

publicado por Theosfera às 10:45

É um óptimo treinador.

 

Quem o diz é José Mourinho. Acerca de quem? Acerca de José Mourinho!

 

Sempre fomos aprendendo que «elogio em boca própria é vitupério».

 

A humildade na grandeza é o ornamento mais precioso da existência.

 

A única coisa que Mourinho assume não saber é perder. E isso nota-se, de facto.

 

Mas será que também sabe ganhar? A exuberância é excessiva e a permanente provocação aos adversários também não é muito edificante.

 

Mas como os resultados são o critério supremo, Mourinho prima. Porque aí ele surge como (quase) imbatível.

 

Uma coisa, porém, é reconhecida por todos. Mourinho é frontal. Tem carácter. Detesta a hipocrisia e, quando vê alguém do seu grupo em baixo, é o primeiro a dar-lhe a mão.

 

Não abandona os seus.

 

Isso já vale muito.

publicado por Theosfera às 10:39

O que impressiona não é tanto o erro. Quem não erra, afinal? O que impressiona é o erro sem admissão de erro. É a vaidade, a jactância e a ostentação com base no erro.

 

Há quem não fale nem escreva correctamente e, mesmo assim, apareça a falar e a escrever como se do maior oráculo se tratasse.

 

Só o humilde é verdadeiro sábio. Só ele consegue superar os seus erros. Só ele não se vangloria.

 

Ninguém precisa de se apresentar como licenciado ou mestre. Mas quem se apresenta como tal e evoca o tempo dos seus igréjios avós gera uma sensação de profundo desconforto.

 

É por isso que a pedagogia nunca prescreve. Ela tem de se transformar numa permanente andragogia. Os mais adultos também precisam de aprender.

 

Mas, para isso, é preciso humildade. Sem a douta ignorância, que já vem de Sócrates, dificilmente chegamos a qualquer saber. Nem ao saber do (nosso) não saber.

publicado por Theosfera às 10:31

A escola não devia ser apenas para os mais pequenos. Os mais crescidos também não deveriam sair da escola. E, já agora, não só para reaprender conhecimentos. Mas também para reaprender comportamentos.

 

Há gente crescida que não só não sabe escrever nem falar (apesar do ar impante que exibe), como não sabe estar. Mas o prime time televisivo dá-lhe todo o destaque.

 

O problema coloca-se, entretanto, aqui. A quem recorrer para oferecer tal ensinamento?

 

Que falta fazem os homens bons de antanho! Ainda os há seguramente, mas precisamos de uma lupa muito potente, porque a sociedade remeteu-os para as arcas de um olvido que os torna quase invísiveis.

 

 

Sem uma mudança na educação de alto a baixo, o progresso continuará a ter a moldura de uma comatosa decadência.

publicado por Theosfera às 10:30

O segredo da missão está no sacrário e na rua. É fundamental estar perto de Deus e é urgente estar próximo do Povo.

 

Um cristão não pode ser imparcial. Ele tem de tomar partido. Não por partidos, mas pelo Evangelho, pelas pessoas. Há momentos em que calar é um pecado, um crime.

 

Um cristão, em rigor, não é da direita, não é da esquerda, não é do centro; é do fundo. É da profundidade de Deus que ele tem de brotar. É na profundidade do Homem que ele tem de estar.

publicado por Theosfera às 10:29

Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010

A linguagem pode ser um pouco excessiva, mas Rui Rio tem razão.

 

A excepção aberta para o sector empresarial do Estado está profundamente ferida de imoralidade.

 

Se os salários são reduzidos, não se entende que haja excepções ainda por cima para pessoas que já auferem vencimentos elevados.

 

O argumento das regras dos mercados não colhe. Se há quadros que podem sair para os privados, deixem o mercado funcionar. Não faltará quem ocupe os lugares.

 

Já é tempo de superarmos este sebastianismo em que alguns se consideram insubstituíveis fazendo, assim, valer os seus créditos e as suas posições.

 

Se tais quadros são importantes, os outros trabalhadores não o são menos.

 

O que mais espanta é que, no essencial, os dois principais partidos parecem estar de acordo.

 

É preocupante ver esta dependência da política em relação aos ditames do capital.

 

Entretanto, o povo vai sofrendo.

publicado por Theosfera às 20:02

Ontem, como hoje, o país estava dividido. Mas, ao menos, mostrava-se mobilizado.

 

Não se vivia melhor que hoje. As condições de sobrevivência até eram mais complicadas.

 

Mas sentia-se que o melhor podia chegar. Hoje, parece que estamos à espera do pior.

 

Naquele tempo e apesar das dificuldades, o país acreditava que podia melhorar. Hoje, já interiorizamos que tudo vai piorar.

 

Em 1975, o Verão já tinha sido quente. O Outono continuava cheio de calor com a temperatura política a superar, de longe, a temperatura ambiente.

 

Há 35 anos ninguém se mostrava conformado. E nem os vencidos desistiam. 

publicado por Theosfera às 11:05

Muitas pessoas regressaram, hoje, ao trabalho com o mesmo espírito que, ontem, as levou a fazer greve: sem saber porquê.

 

Aliás, o espírito não difere muito de ontem para hoje.

 

Hoje, o país não está parado, mas continua desmobilizado, desmotivado.

 

A incerteza domina.

 

Não se sabe muito bem o efeito prático da greve. Não se sabe muito bem o efeito prático do trabalho. Não se sabe até quando dura. A espada do desemprego abate-se sobre todos.

 

Depressa a greve sairá do prime time televisivo. Depressa os figurantes de uma pífia casa de segredos voltarão a ter mais destaque que os líderes sindicais. E até, nesta manhã de balanço, a derrota do Benfica parecia pesar mais.

 

A pobreza não é só material. É também espiritual. Falta dinheiro. Mas falta sobretudo rasgo, horizontes, alento, arrojo, audácia.

 

Já não seremos um povo brando. Mas continuamos a ser uma nação submissa. E massacrada pela realidade.

 

Amanhã será melhor. Mas o futuro só espera por aqueles que o sonham e constroem.

 

 

publicado por Theosfera às 10:52

Há notícias que, no meio da parafernália das manchetes, correm o risco de passar despercebidas. Mas são elas que dizem muito do pouco das nossas melhores expectativas.

 

Ontem, uma senhora, já na casa dos 80, varria a cozinha da sua casa.

 

A certa altura, verificou que estava a varrer também os restos da sua filha. Tinha morrido queimada à lareira.

 

O coração da mãe não aguentou. Foi ao encontro da filha. A morte levou-a.

 

Foi num lugar remoto. Onde os factos só são notícia se forem trágicos...

publicado por Theosfera às 10:47

O que as pessoas põem em causa quando nos abordam, na sua ardente simplicidade, não é a mensagem. É, quase sempre, a nossa conduta.

 

Dizia Walter Kasper que a grande novidade de Cristo estribava precisamente aqui: não tanto no conteúdo (a mensagem do Reino, apesar das acentuações próprias, não era nova), como na conduta.

 

 A conduta de Jesus configura, de facto, algo de radicalmente novo, único. A Sua conduta assentava na convergência plena entre a palavra dos lábios e a palavra da vida, entre o que dizia e o que fazia.

 

 Por causa dessa conduta, foi censurado, condenado e morto. Os Seus discípulos chegaram a ser acusados de loucura (segundo Paulo) e demência (segundo Justino).

 

 Mas é precisamente nessa loucura e nessa demência que está o poder da salvação.

 

 Estamos dispostos a esta douta loucura e a esta sábia demência?

 

 Os verdadeiros discípulos de Cristo nunca chamaram louco a ninguém. Mas chegaram a ser acusados de loucura. Porque será?

 

 Onde estará a loucura real: nos acusados ou nos acusadores?

 Bendita loucura esta, onde se compendia a autêntica inteligência!

 É a inteligência dos simples, dos pobres, dos humildes, dos mansos e dos pequenos.

publicado por Theosfera às 10:43

Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010

A Coreia do Norte ataca uma ilha sul-coreana.

 

Trezentas pessoas morrem numa ponte no Cambodja. O pânico é letal.

 

No Rio de Janeiro, a violência provoca dez mortos.

 

Em vários países do mundo, há cristãos que estão a ser assassinados só pelo facto de serem...cristãos. Ainda há dias, uma senhora foi ilibada, in extremis , da condenação à morte.

 

Até neste país, que já foi de costumes brandos, um indivíduo terá arremetido e atropelado alguns funcionários de um supermercado.

 

A humanidade agoniza. Ninguém o ignora. Mas todos parecemos resignados. 

publicado por Theosfera às 20:51

O destino da greve está a decidir-se, a esta hora, nos ecrãs da televisão.

 

O cidadão já interiorizou que a realidade está, cada vez mais, circunscrita à comunicação.

 

É por isso que o êxito ou o fracasso da greve geral é dirimido nos telejornais.

 

O curioso não está nos argumentos, aliás previsíveis. O curioso é notar como a mesma realidade se presta a leituras tão díspares.

 

Uns dizem que a adesão esteve nos 80%. Outros afirmam que ela não passou dos 30%.

 

Napoleão já havia sentenciado: «Todos olham para onde eu olho e ninguém vê o que eu vejo».

 

Haja um pouco mais de decoro e um pouco menos de propaganda.

 

A situação do país é demasiado grave para se prestar a estes efeitos cénicos.

 

O povo está a sofrer. E são já muitos os que nem força têm para gritar.

publicado por Theosfera às 20:29

Se há prioridade que, imediatamente, gera consenso é a educação.

 

É na educação que se conquista o futuro. E é na educação que se pode comprometer o futuro.

 

Pela amostra, ninguém anda satisfeito neste mundo da educação. Todos têm vontade de colaborar, mas os obstáculos são incontáveis.

 

As propostas (quase sempre, impostas) que vêm da tutela assemelham-se a um corpo sem alma.

 

O professor é visto como um executor de um programa. Longe do que defende, por exemplo, George Steiner, que compara a relação professor/aluno à relação pai-mãe/filho.

 

A predominância das tecnologias ofusca praticamente a apetência pelas humanidades, pelo conhecimento em si, pelos valores matriciais e fundadores.

 

Os alunos são encarados como produtores de resultados. A competição é enorme.

 

O que é mais estranho é que muitos parecem ter soluções, mas ninguém aparece a enxergar uma saída.

 

O que queremos, afinal, para a educação? A resposta a esta pergunta é decisiva porque ela enturma com uma outra: o que pretendemos, no fundo, para o país?

 

Um dos tópicos passará por uma revolução nas mentalidades. Quando se fala de educação, fala-se de um processo limitado aos mais novos. Daí até a palavra pedagogia. A raiz paidós quer dizer criança.

 

Só que a carência educativa envolve toda a gente. Os mais adultos continuam a precisar de educação. A andragogia (a raiz anêr, andrós significa homem) tem de ser um imperativo.

 

Há gente que passou por todos os graus de ensino e continua a revelar lacunas impressionantes: nos conhecimentos e nas atitudes.

 

Também aqui, portanto, há um momentoso défice de produtividade.

 

Acresce, entretanto, um dado completamente inadmissível. O mercado de trabalho não assimila as pessoas que forma, que educa. Um em cada dez licenciados emigra. Ou seja, tem de ir lá para fora aplicar o que aprendeu cá dentro.

 

Há muitos elos que estão a tombar. E há imensos laços que estão a desfazer-se. Somos uma sociedade cada vez mais deslaçada.

 

Precisamos de todos. Precisamos de técnicos, sem dúvida. Mas necessitamos sobretudo de sábios, de pessoas com uma visão global da existência que infundam horizontes de valores e alicerces de comportamentos.

 

A sabedoria vai muita para lá da ciência. Há estudos que documentam que uma das chaves do sucesso asiático está precisamente na aposta na educação como sabedoria.

 

Entre nós, o acréscimo de escolarização não tem garantido uma maior qualidade da educação.

 

Também os mais crescidos precisam de educação. Ela é sempre um fieri, jamais um factum.

 

O Quem quer ser milionário é um bom indicador de como o padrão de cultura geral anda nivelado muito por baixo.

 

Não são apenas os mais pequenos que precisam de aprender. Os mais adultos também necessitam de ser ensinados.

 

A pedagogia é para desaguar numa permanente andragogia.

publicado por Theosfera às 11:37

Não é só pelo facto de os transportes terem aderido à greve. O certo é que o país, hoje, acordou quase parado.

 

Não é só, porém, neste dia que o país está parado. Ele está parado hoje porque, desde há muito, se encontra paralisado e até parasitado. Paralisado nas suas energias e parasitado por um torpor inabilitante.

 

É por isso que o que se passa hoje é uma realidade e funciona como um sinal. O país há muito que não anda. Ou, então, só anda para trás.

 

É doloroso as pessoas esforçarem-se, darem o seu melhor e, depois, alguém vir dizer (aqui ou em Bruxelas) que estamos a recuar.

 

Tudo está concentrado nas finanças. A economia surge quase destroçada. Mas sem crescimento da economia, como equilibrar as finanças?

 

A greve geral deste dia, com a qual em consciência me solidarizo, desponta na prática como um grito de desespero.

 

As pessoas sabem de antemão que ninguém sai a ganhar. Não ganha a comunidade porque há serviços que não funcionam.

 

Há consultas que não são feitas. Há trabalhos que não são realizados.

 

Não ganham os grevistas porque lhes é descontado um dia de salário, o que, na actual conjuntura, é relevante. Daí que seja de enaltecer o seu espírito de sacrifício e militância.

 

O êxito desta greve estava já condicionado à partida. Ele não é mensurável pela taxa de adesão, por muito elevada que seja. O êxito só seria assegurado se houvesse uma alteração efectiva das políticas. Mas é isso que, para mal de todos, não irá acontecer.

 

Ainda ontem, foi dado mais um sinal perturbador. Afinal, a redução de salários na função pública não será para todos. Há quem fique de fora. Dizem-nos que são as regras do mercado.

 

É triste quando a justiça fica sempre à porta da política sem que esta lhe franqueie a entrada. Se os sacrifícios são para todos, porquê excepções para quem, de resto, aufere vencimentos altíssimos? Orwell continua a ter razão. Todos os homens são iguais, mas uns são mais iguais que outros.

 

Isto leva-nos para uma outra questão sensível. A governação não entusiasma, mas a alternativa também não convence. As diferenças entre os dois principais partidos parecem similares às que existirão entre Dupont e Dupond.

 

O ar vagamente teenager da actual classe política não instila especial confiança na população. Na hora que passa, do que mais precisamos é de maturidade, de profundidade, de criatividade.

 

Há muita redundância e quase nenhuma diferença. Tudo surge estilizado, pré-formatado, standard.

 

Amanhã, tudo voltará ao normal. Talvez uma greve à escala europeia e por mais que um dia tivesse mais efeito.

 

Mas o que mais impressiona (e fere) é a greve da esperança. Grave é essa greve.

 

A vida dos cidadãos parece amarrada por teias incontáveis de interesses em que alguns justificam o muito que acumulam e muitos são atirados para a periferia, sem quase nada.

 

Precisamos de um novo discurso. De uma outra ética.

 

Comecemos pelo básico. Que em nenhum lar falte o pão. E que em nenhum coração feneça a esperança. Não deixemos que ela faça greve.

 

Grave é mesmo a greve da esperança.

 

 

publicado por Theosfera às 11:13

Há muita gente apostada em ser moderna. Parece que é mais importante do que ser verdadeiro, autêntico, fiel.

 

Ser moderno é importante e legítimo, mas é quase uma redundância. Moderno é o modo de hoje. Todos estamos envolvidos pelo momento.

 

 A questão de fundo não é essa. Há quem pretenda cultuar o ser moderno à custa de tudo (até das convicções) só por causa da popularidade.

 

 Já dizia Óscar Wilde que só os superficiais são populares. Não sei se será tanto assim, mas há muita pertinência neste diagnóstico.

 

 Temos de ir mais longe. Miguel Torga confessava que a sua fome não era de fama, mas de eternidade.

 

 E, com a sua comprovada irreverência, Pablo Picasso, sentenciou: «Cansei-me de ser moderno. Quero ser eterno».

 

 É para Deus que os nossos passos se encaminham. Até os daqueles que dizem não acreditar. Mas que, quiçá, se comportam de modo mais crente do que muitos que dizem crer.

 

 Isto de acreditar não é tanto de palavras. É de vida!

publicado por Theosfera às 10:45

Terça-feira, 23 de Novembro de 2010

O êxito de Mourinho transforma-o numa espécie de oráculo. Tudo o que diz é recebido com um acréscimo de reverência e com extremos de atenção.

 

Os canais televisivos promovem, com uma distância de dias ou até semanas, entrevistas com o treinador luso que, por vezes, não fogem ao trivial.

 

Hoje, estão a ser reproduzidas declarações a uma revista francesa em que «agradeceu a Deus por não ser uma pessoa modesta, uma qualidade que não ajuda em nada».

 

Pelo menos, saúde-se a sinceridade. Recordo, aliás, o saudoso Salgado Zenha que, entre eflúvios de ironia, convidava: «Sejamos modestos. A modéstia é a melhor forma de vaidade».

 

De facto, a modéstia não está em alta nos tempos que correm. Mas não é pelo facto de as pessoas não serem modestas que obtêm, por isso mesmo, melhores resultados.

 

Entendemos Mourinho. Ele aponta para o máximo. E, na maior parte dos casos, alcança-o. Quantos não apontam na mesma direcção e se quedam por resultados...modestos!

 

Há, de facto, quem não seja modesto nas atitudes e acabe por ser modesto nos resultados.

 

John Kennedy, já em criança, não era modesto. Interrogado sobre o seu futuro, dizia querer ser presidente dos Estados Unidos.

 

A experiência ensina que as melhores pessoas, as que têm melhor coração, são as mais modestas. São as que se descentram de si e se recentram nos outros.

 

A humildade é a maior grandeza. Segundo Levinas, é até mais alta que a própria grandeza: «Mais alta que a grandeza é a humildade».

 

Nestes tempos dominados pelo eu, pelo mim e pelo migo, as pessoas tendem, por natureza, a viver muito voltadas para si. Colocam-se no centro de tudo.

 

É difícil encontrar relacionamentos sólidos de solidariedade porque as pessoas só são valorizadas enquanto produtoras de resultados. Quanto estes não aparecem, as pessoas são descartadas.

 

A modéstia não significa falta de capacidade. Significa, sim, uma orientação das capacidades para objectivos comuns, altruistas, solidários.

 

Admiro as pessoas modestas. Cada vez mais. Aquelas que não se põem em bicos de pés, mas que deixam rasto.

 

Não é preciso falar de nós. A vida é que mostrará o que nós fazemos. Que a maior ambição seja o bem, a prática do bem.

publicado por Theosfera às 16:33

A vida tornou-se uma corrida. Contra o tempo e contra a própria vida. Quando apenas se corre sem parar, dificilmente se aguenta.

 

Tudo é feito com pressa. E a própria pressa é mais intensa. A pressa é uma autêntica pressão.

 

Na pressa, não se pensa. Na pressa, pressiona-se. Na pressa, aumenta a pressão.

 

Hoje, há pressão para fazer greve. Há pressão para não fazer greve. E não se pensa muito no que se ganha ou perde com a greve.

 

Direito inalienável, ela foi-se tornando num instrumento de luta e numa afirmação de recurso.

 

Mas o povo sofrido já nem na greve acredita. Muitos vão aderir para dar o sinal.

 

Mas sabem que, volvida a greve, tudo voltará ao normal.

 

Esta greve parece transformada num grito de desespero e numa competição entre sindicatos, patrões e governo.

 

As coisas mudaram muito. As pessoas sentem que a mudança já não passará muito por ali.

 

Javier Arangurem sinalizou a pressa como uma das grandes doenças do nosso tempo, a par do ruído e do êxito.

 

A greve vai chegar depressa. Vai acabar depressa. E o que não passará é a pressão dos compromissos, do dinheiro que não chega.

 

Sob pressão, é ainda mais difícil. E o mais grave é que a pressão se abate sobre os mais desfavorecidos.

 

No meio da crise, há muita gente que já nem aparece.

 

É preciso despertar as energias do espírito.

publicado por Theosfera às 12:02

Quando se trata de mapear o sofrimento, não encontramos apenas os grandes conflitos. Deparamos com tanta gente de bem, que, humildemente, sofre tanto.

 

Deus não vos abandona, Irmãos! Muitos questionam: «Mas porque é que os bons são os que sofrem mais?»

 

Pela minha parte, limito-me a responder: «O melhor de todos (Cristo) sofreu mais que ninguém».

 

 O sofrimento é mesmo a questão decisiva, a questão crítica.

 

Não tem justificação convincente. Mas tem futuro assegurado.

 

Deus não abandona mesmo (ou sobretudo) aqueles que parecem mais rejeitados.

 

Coragem, irmãos!

publicado por Theosfera às 10:27

A bondade permanece um valor. Certo. Mas, ser bom, hoje, é o mesmo que ser bom há uns anos ou há séculos?

 

Quando, aqui, se fala de bondade, fala-se de dádiva, de partilha, de compaixão, de perdão, de estima, de respeito.

 

 O problema é que, para muitos, a bondade, actualmente, resume-se à competição, à ambição.

 

 Apesar de tudo, continuo a acreditar na bondade segundo o modelo de Cristo e de tantas pessoas, algumas até de pouca idade.

 

«Saboreai e vede como o Senhor o bom»! Assim o proclamamos com os nossos lábios. Assim o possamos repetir, com a nossa vida, em cada momento da nossa existência.

 

 A bondade é que conta. Se Deus é bom e se nós somos a Sua imagem, como se explica que se dê tanta guarida à maldade?

 

Mas ainda há gente de hoje com os valores de sempre. Graças a Deus! 

publicado por Theosfera às 10:23

Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

A pressão domina, hoje, todos os sectores da vida. Nem a escola escapa. Pensa-se excessivamente nos resultados e pouco nas atitudes.

 

Há muita agitação no meio escolar. Curiosamente, já Simone Weil, que morreu em 1943, erigia a atenção como uma faculdade a que se devia dar...atenção. «A formação da faculdade da atenção é o verdadeiro fim e quase o único interesse dos estudos».

 

Acontece que é aqui onde se encontra, porventura, uma das maiores debilidades. O estudante actual revela uma apreciável agilidade, desempenha uma vasta panóplia de competências com desenvoltura, mas tem dificuldade em crescer na atenção.

 

O desenvolvimento espiritual, para Simone Weil, pode constituir uma ajuda preciosa pois «a oração é feita de atenção».

 

É a atenção que ajuda o estudante «a contemplar com atenção, durante muito tempo, cada exercício escolar falhado». A tentação «é escondê-lo imediatamente».

 

A humildade, «tesouro infinitamente mais precioso do que todo o progresso escolar, pode ser adquirida desta forma»: em lidar, longa e maduramente, com a falha, com o erro.

 

A atenção não consiste em concentrar o pensamento. Consiste, sim, «em suspender o pensamento, em deixá-lo disponível, vazio e permeável ao objecto, mantendo em nós mesmos, próximos do pensamento, os diversos conhecimentos adquiridos que somos forçados a utilizar».

 

O pensamento deve estar «vazio, à espera, sem nada procurar, mas pronto a receber, na sua verdade nua, o objecto que o vai penetrar».

 

No fundo, «os bens mais preciosos não devem ser procurados, mas esperados».

publicado por Theosfera às 20:37

As finanças são o sintoma. A economia é o problema. Mas o verdadeiro desastre está na educação.

 

João Botelho pronuncia-se sobre este último ponto. E não hesita em apontar o fim da linguagem dialéctica no ensino. «O bem e o mal desapareceram. A moral desapareceu».

 

Tudo se ressente desta enfermidade inicial. A futilidade domina com presunções de excelência. «Neste momento, à frente do mundo, temos meros produtos televisivos. É a televisão que faz o denominador comum da nossa sociedade».

 

A futilidade gera, inevitavelmente, a acomodação, a ausência de horizontes. «As pessoas deixaram de lutar pelo futuro. Parece que só existe presente».

 

É por isso que as crises podem ser boas «se obrigarem as pessoas a pensar, a mudar, a ter atitudes e a lutar».

 

No entanto, João Botelho afirma-se «mais pela dissidência do que pela resistência».

publicado por Theosfera às 20:15

1. Confesso que também eu fiquei surpreendido com as declarações do Papa acerca do uso do preservativo.

 

Não se trata, como ressalva o porta-voz do Vaticano, de uma revolução. Mas é inquestionável que estamos perante uma mudança.

 

Tal mudança não ocorre no terreno dos princípios. No seu mais recente livro, uma prolongada entrevista com o jornalista Peter Seewald, Bento XVI mantém que «não considera a utilização de preservativos uma solução verdadeira e moral».

 

Neste sentido, reassume que «a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa».

 

Onde está, então, a mudança? No campo das situações concretas.

 

Recorde-se que, em Março de 2009, na primeira vez em que usou a palavra preservativo, o Santo Padre sustentou que «não se resolve o problema da SIDA com a distribuição de preservativos. Pelo contrário, o seu uso agrava o problema».

 

Actualmente, reconhece que «o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana».

 

Ou seja, onde antes o preservativo não era sequer admitido como último recurso, agora é equacionado como um primeiro passo. 

 

Mesmo assim, lembra «a chamada teoria ABC, que defende Abstinence – Be faithful – Condom (“Abstinência - Fidelidade - Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam».

 

Dá um exemplo: «Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por prostitutos, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade».

 

 

2. É importante notar que estas duas tomadas de posição aparecem não através de um acto formal do magistério, mas mediante a modalidade de entrevista. Isto não retira qualquer impacto ao respectivo conteúdo. Tanto mais que é a primeira vez que um Papa não recusa o uso de um anticonceptivo não natural ainda que visto como terapia e com as reservas apontadas.

 

As reacções que se fizeram ouvir certificam que muitos católicos já não aferem os seus comportamentos pelo magistério da Igreja. A utilização do preservativo é muito mais vasta do que aquela que, agora, se entrevê como residual.

 

Outro dado a reter é que o próprio magistério não é indiferente à realidade nem aos dramas que se vivem no mundo.

 

Na missão da Igreja, não cabem apenas princípios. Cabem também (e bastante) atitudes.

 

Ora, a atitude prioritária de quem se presume discípulo de Jesus Cristo é a misericórdia, a compaixão, a tolerância.

 

A mensagem deve ser continuamente anunciada. Os princípios hão-de ser sempre urgidos. Mas a compreensão nunca poderá ser esquecida nem sequer negligenciada.

 

Jesus foi sempre claro na doutrina. Mas não deixou de ser compassivo para com os que pensam e vivem de maneira diferente.

 

Tiago, aliás, percebeu isto muito bem quando disse que o juízo será sem misericórdia para quem não usa de misericórdia (cf. Tg 2, 13).

 

A Igreja, enquanto corpo de Cristo, é, ao mesmo tempo, a casa da verdade e a morada da misericórdia.

 

 

3. Acresce que a presença de Deus não pode ser deduzida somente da palavra revelada, pela linguagem. Ela ocorre também no segredo da consciência.

 

Tenhamos presente que, como avisa o próprio Jesus, Deus vê no segredo (cf. Mt 6, 1-6). E não é seguramente em vão que o Vaticano II chama à consciência o santuário secreto onde o Homem se encontra com Deus.

 

Como é sabido, a linguagem pública não é a mesma que a linguagem privada, íntima. «A palavra de Deus, como sublinha Simone Weil, é também a palavra secreta».

 

Uma pessoa não há-de ser estigmatizada por decisões que toma em consciência e, muitas vezes, no meio de condicionantes que chegam a ser dramáticas.

 

Mesmo quando não há sintonia, a alternativa nunca pode ser a exclusão. Ser católico (e, portanto, universal) é ser perito na arte na conjugação.

 

 

4. Simone Weil confidencia que o uso das palavras anathema sit foi o motivo que a «impediu de franquear as portas da Igreja». É igualmente esse a razão para que muitos a abandonem ou se desencantem com ela.

 

O legado de Jesus Cristo implica uma «solução harmoniosa entre indivíduos e comunidade». E esta harmonia passa, inevitavelmente, por um «justo equilíbrio de contrários».

 

A ética da responsabilidade, tão enfatizada por Bernhard Häring, não é um exclusivo de alguns. Deus distribuiu-a por todos.

 

Encaremos, pois, esta intervenção papal com serenidade de ânimo e como uma demonstração de sensibilidade por tanto sofrimento derramado pelo mundo.

 

 

publicado por Theosfera às 11:50

Domingo, 21 de Novembro de 2010

Insistir demasiado na denúncia do relativismo pode conduzir ao efeito contrário do pretendido.

 

É claro que as posições não são todas equivalentes, mas cabe ao discernimento fazer a respectiva triagem.

 

Este é um processo de busca incessante, nunca concluído.

 

Recordo que Xavier Zubiri falava de um duplo absoluto: Deus como absolutamente absoluto e o Homem como relativamente absoluto.

 

Neste mundo, tudo é relativo no sentido de que tudo está relacionado com tudo.

 

Quando se insiste no absoluto de uma posição, acaba por se menorizar quem defende a posição diferente. Ora, o ser humano pertence a uma grandeza inquestionável.

 

Condicionar uma pessoa pela posição que toma é inverter as coisas. As posições podem ser discutidas. A pessoa tem de ser preservada.

 

Quantas vítimas não existem em nome de posições absolutas?

 

Só que, muitas vezes, o absoluto também se mostra relativo, também mostra uma geometria variável, também muda de posição. O que era absoluto deixa de o ser.

 

Só mesmo Deus e a alma humana é que são intocáveis.

 

E, depois, parece-me cada vez mais que o relativismo não é o principal problema. É a intolerância, a rejeição, a falta de acolhimento do diferente, a ausência de misericórdia e de compaixão, a injustiça.

publicado por Theosfera às 19:04

Neste dia em que contemplamos Jesus Cristo despojado na Cruz, consumando a oferta da Sua vida pela humanidade, desponta uma oportunidade de purificarmos o nosso olhar, a nossa sensibilidade e também a nossa linguagem.

 

Com todo o respeito (com o máximo respeito), creio que não realiza devidamente a semelhança com Jesus Cristo continuar a designar membros da Igreja como príncipes.

 

Primeiro, porque se trata de uma terminologia totalmente estranha ao Evangelho. E, depois, porque induz o contrário do que se pretende: serviço, despojamento, humildade.

 

Estas coisas não são despiciendas. Os gestos e os sinais entram na lógica da proximidade ou do afastamento.

 

Há que trazer Cristo para o centro de tudo.

publicado por Theosfera às 18:59

Não é preciso ter uma grande inteligência para ter um grande coração.

 

Mas quem tem um grande coração acaba por revelar, nesse preciso momento, uma enorme inteligência.

 

Não era Blaise Pascal que alertava ter o coração razões que a própria razão desconhece?

 

Não deixemos de prestar atenção às rationes cordis (razões do coração).

publicado por Theosfera às 18:52

«A fé é a antipedagogia: não tem manuais, nem receitas; é a experiência tornada inteligência, é a prática tornada sabedoria; é a persistência tornada fortaleza.

A fé é a paz da permanente inquietação.

A fé é o constante movimento de conversão.

A fé é a certeza de que há, ainda aqui, no meio deste mundo, uma realidade qualitativamente diferente, ilimitadamente nova.

A fé é, afinal, o reino da única utopia que não se esvai em fumo».

Assim escreveu (atinada e magnificamente) Maria de Lourdes Pintasilgo.

publicado por Theosfera às 13:52

Tu és rei, Senhor, e o Teu trono é a Cruz.

 

Tu és rei, Senhor, e Teu reino é o coração de cada Homem.

 

Tu és rei, Senhor, e estás presente no mais pequeno.

 

Tu és rei, Senhor, e estás à nossa espera no pobre.

 

Tu és rei, Senhor, e queres mais o amor que o poder.

 

Tu és rei, Senhor, e moras em tantos corações.

 

Tu és rei, Senhor, e primas pela mansidão e pela humildade.

 

Tu és rei, Senhor, e não tens exército nem armas.

 

Tu és rei, Senhor, e não agrides nem oprimes.

 

Tu és rei, Senhor, e não ostentas vaidade nem orgulho.

 

Tu és rei, Senhor, e a tua política é a humildade, a esperança e a paz.

 

Tu és rei, Senhor, e continuas a ser ignorado e esquecido.

 

Tu és rei, Senhor, e continuas a ser silenciado.

 

Tu és rei, Senhor, e vejo-Te na rua, em tanto sorriso e em tanta lágrima.

 

Tu és rei, Senhor, e vais ao encontro de todo o ser humano.

 

Tu és rei, Senhor, e és Tu que vens ter connosco.

 

Hoje, Senhor, vou procurar-Te especialmente nos simples, nos humildes, nos que parecem estar longe.

 

Hoje, Senhor, vou procurar estar atento às Tuas incontáveis surpresas.

 

Obrigado, Senhor, por seres tão diferente.

 

Obrigado, Senhor, por seres Tu!

publicado por Theosfera às 12:57

Habitualmente vemos o poder de Cristo à luz do poder humano.

 

Era bom que aprendêssemos, de uma vez para sempre (éphapax, como repete a Carta aos Hebreus), a ver o poder humano à luz do poder de Cristo.

 

A palavra bíblica que se traduz por poder é dynamis ou exousia. Quer dizer energia, força. Nada de autoritarismo ou arbitrariedade.

 

Para Cristo, poder não é possuir, é dar. Não é concentrar, é distribuir. Não é afunilar, é estender. Ou seja, é amar.

 

Por isso, hoje como ontem, há quem não entenda o reinado de Cristo. É para este mundo. Mas não é deste mundo.

 

Continua a haver (mesmo, quiçá, entre os Seus discípulos) quem alardeie surpresa. O trono deste Rei é a Cruz. O Seu território é o coração humano. A Sua Lei é o amor. O Seu porte é a humildade.

2000 anos não chegaram para O conhecer. Quando nos resolveremos a segui-Lo?

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 20 de Novembro de 2010

Há cem anos que estamos sem ele, embora com ele continuemos através da sua obra imperecível e impactante.

 

Léon Tolstoi faleceu a 20 de Novembro de 1910 quando tinha encetado uma viagem para viver uma vida simples.

 

Foi um aluno em quem ninguém acreditou. Ele devolveu a descrença. Todos os sistemas lhe mereceram desconfiança.

 

Não deixa de ser curioso notar como os medíocres de outrora inspiram mais confiança do que muitas (presumidas) excelências da actualidade.

 

Tolstoi escreveu obras que se tornaram referências imortais.

 

Há frases de Tolstoi que não passam de moda. Convidam à reflexão.

 

«Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros».

 

Por isso, «o segredo da felicidade não é fazer sempre aquilo que queremos, mas querer sempre aquilo que fazemos».

 

Corrosivo, foi avisando: «Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos: são a maioria».

 

E, acutilante, recomenda: «Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência».

 

Só somos livres na verdade.

 

Quando se vive o contrário do que se proclama, quando a actividade pública respira uma contradição contínua entre o que se promete e o que se pratica, que dignidade se pode ter?

 

Era bom voltarmos aos mestres. Tolstoi sentiu-se sempre um inadaptado enquanto viveu. Hoje parece mais actual do que nunca.

publicado por Theosfera às 21:00

Fazem jus as memórias do Prof. Adriano Moreira à sua conhecida inteligência e à sua (igualmente) reconhecida sensibilidade.

 

De quanto ele reporta, nesse magnífico repositório de vivências, há um episódio delicioso que não resisto a reproduzir.

 

 Quando era Ministro nos tempos do Estado Novo, foi visitar Moçambique. Na cidade da Beira, pôs-se à disposição do público para dialogar.

 

 Eis que o Bispo da Beira, o grande D. Sebastião Soares de Resende, levanta uma questão: «A que velocidade vai ser executada a revogação do Estatuto do Indígena?»

 

 Tal revogação, diga-se, tinha sido aprovada há já algum tempo. E, já nessa altura, havia a tendência para promulgar leis que, depois, não eram aplicadas ou só eram aplicadas muito mais tarde.

 

 Resposta pronta (e sobretudo acutilante) do Ministro: «Senhor D. Sebastião, a sua lei já tem uns dois mil anos e agradecia que me dissesse a que velocidade vai para ver se o acompanho».

 

 De facto, Jesus deixou-nos uma lei, uma lei nova, uma lei suprema, uma lei maravilhosa. Foi no discurso da Última Ceia que, à guisa de herança, no-la legou: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 34).

 

 A lentidão com que nós, cristãos, cumprimos (ou a rapidez com que incumprimos e violamos) essa lei é exasperante.

 

 Ressalve-se que D. Sebastião até nem era dos mais culpados já que foi sempre um ardente defensor dos mais pobres.

 

 Mas subsiste a pertinência da ministerial réplica. Como exigir dos outros o que nós, pelos vistos, não estamos dispostos a fazer?

publicado por Theosfera às 11:39

A actual conjuntura requer um cúmulo de várias atitudes que, pela amostra, não se vislumbram.

 

A primeira é a lucidez. A classe dirigente não é capaz de inverter a situação que o país vive.

 

E quando a alternativa se coloca (como é vulgar nas pugnas eleitorais) entre os dois principais partidos, o desconforto é grande e o entusiasmo é mínimo.

 

Daí a necessidade de uma segunda atitude: a humildade.

 

Não terá chegado a hora de se pedir a alguém que assuma, nesta hora crítica, o rumo do país, assegurando o apoio parlamentar indispensável?

 

Uma grande coligação não devia ser apenas (nem principalmente) para juntar membros de partidos, mas para envolver, o mais possível, a sociedade civil.

 

Tanto se fala na importância da cidadania, mas, na hora da verdade, os caminhos são-lhe tapados.

 

Daí que uma posição sensata como a de Luís Amado tenha sido, imediatamente, abafada. A vida não corre de feição para os moderados.

 

O PSD não está interessado porque não quer a companhia do PS.

 

O PS não se mostra receptivo porque não quer perder a liderança.

 

Enquanto a lógica for a dos interesses pessoais e partidários, o país continuará a marcar passo.

publicado por Theosfera às 11:30

É pertinente a reflexão que Vasco Pulido Valente (de quem, muitas vezes, discrepo) nos traz hoje.

 

Como é que Portugal consegue (pelo menos, segundo a versão oficial) organizar tão bem eventos e não consegue organizar-se a si próprio?

 

Pressinto, entretanto, que o nosso problema não é logístico. É sobretudo ético, moral. É a corrupção. É o oportunismo. É a convivência sem problemas com as meias verdades e com as atitudes dúbias.

 

Será possível mudar o nosso código genético?

publicado por Theosfera às 11:26

Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

O Profeta Gentileza morreu em 1996 no Brasil. E a gentileza não estará a falecer em cada dia da nossa vida?

 

Volto a evocar esta figura marcante (para muitos, excêntrica) do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.

O nome Profeta Gentileza foi ganho porque vivia a pregar o amor, a paz e jamais dizia a palavra obrigado, pois obrigado vinha de obrigação e preferia dizer agradecido. Do mesmo modo, gostava de dizer por gentileza em vez de por favor.

José da Trino (nome de origem) era um empresário de transportes quando, no início da década de 60, um circo se incendiou em Niterói vitimando 400 pessoas dois dias antes do Natal.

 

Gentileza, naquele dia, disse ter ouvido uma voz interior que o mandava largar o capitalismo e todo o apego ao material.

 

O futuro profeta entra num dos seus camiões e parte para Niterói. Durante anos, fez das cinzas e das marcas do incêndio no chão uma plantação de flores.

 

Às pessoas levava mantimentos para distribuir, dizendo: «Quem quiser não precisa de pagar nada; é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido».

Durante anos, Gentileza passa a pregar nas embarcações entre Rio de Janeiro e Niterói e deixa uma marca para sempre na cidade.

 

Gentileza pinta mensagens de paz, amor e gentileza nas pilastras do Viaduto do Caju, o lugar mais cinzento da cidade.

 

A avenida do cemitério até à Rodoviária fica com os seus dizeres marcantes pintados de preto, verde, amarelo num fundo branco.

 

As mensagens são pintadas no alto para serem lidas pelas pessoas mais humildes que passam.

 

Muitos estranham a forma singular da sua escrita e não a entendem até hoje, mas ele escrevia muitas palavras de forma diferente.

 

Exemplo: amor com apenas um R era amor material. Já Amorrr, com três R's, era um R do Pai, um R do Filho e um R do Espírito Santo.

 

Dizia: «Deus Pai é Gentileza que gera o Filho por Gentileza. Gentileza gera gentileza».

 

Por isso, um dos seus lemas rezava assim: «Gentileza é o remédio de todos os males, amor e liberdade».

 

Gentileza pintou as dezenas de pilastras da avenida e acabou por promover uma das maiores intervenções urbanas de arte na cidade do Rio de Janeiro.

Um certo dia, as autoridades mandaram cobrir tudo com tinta cinzenta.

 

Só aí então as pessoas ficaram surpreendidas com a reacção da sociedade, pois cada um pensava que só ele gostava de ler as mensagens de Gentileza.

 

Gentileza morreu em 1996 e o seu testemunho de bondade e mansidão nos mais pequenos gestos continua a perdurar na memória colectiva.

 

Não basta, porém, recordar o sr. Gentileza. Não deixemos morrer a gentileza na nossa vida.

 

Afinal, que se ganha com a rudeza?

publicado por Theosfera às 11:15

Um filme e um documentário estão a concentrar as atenções na cultura.

 

O filme do desassossego é da autoria de João Botelho, elaborado a partir do livro do desassossego de Bernardo Soares, o semi-heterónimo de Fernando Pessoa.

 

É um empreendimento arrojado e constitui um serviço prestimoso. Será, sem dúvida, uma forma de, pelo filme, muitos poderem aceder à leitura desta preciosidade da nossa literatura.

 

O documentário é José e Pilar, que recria a vida e as impressões de Saramago e Pilar del Río.

 

Há escritores que, mesmo em vida, nunca quiseram entrar no palco. Basta pensar na vida praticamente reclusa de Herberto Hélder, António Ramos Rosa ou até Miguel Torga. Sempre recusaram qualquer exposição mediática.

 

Há outros que, mesmo depois da morte, dificilmente saem de cena. O mais curioso é que, por natureza, Saramago parecia reticente ao fluxo mediático.

 

O que o documentário aparenta mostrar é que nunca é tarde para o encontro com o mais fundo da pessoa. Saramago não começou a escrever muito cedo e foi já tarde que encontrou a pessoa com quem partilhou o resto da vida.

 

Apesar da secura e da acidez que patenteava, Saramago formava com Pilar del Río um casal feliz, sereno, em permanente encantamento mútuo. O desgaste parece que não os contagiou.

 

De resto, Saramago é uma contradição viva e, por isso, estimulante. Esteve sempre longe do que estava próximo e acabou por estar próximo do que, à partida, estaria mais longe.

 

De facto, as polémicas maiores que alimentou foi com as entidades que nos são mais familiares: a pátria e a religião. De Portugal saiu em litígio. À religião nunca chegou a voltar. Ou, talvez, dela nunca tenha saído.

 

Como afirma o autor do documentário, Saramago foi um permanente acicate para o pensamento. Pôs-nos a pensar sobre muita coisa. Inclusive sobre Deus.

 

A seu modo, movia-se no terreno da religião. De uma forma adversativa, é certo. Mas que seria da obra de Saramago sem a motivação religiosa? O Evangelho segundo Jesus Cristo, In nomine Dei ou Caim são alguns títulos que corporizam o universo religioso (muito especial) de Saramago.

 

Acabou por se aproximar de quem estaria mais distante e esse foi o encontro determinante da sua vida.

 

Pilar del Río não era portuguesa e o temperamento era muito diferente.

 

Diz quem o conhece que Saramago se tornou uma outra pessoa. Pilar parecia fazer parte dele.  Daí o título deste documentário.

 

Saramago achava-se longe de Deus. Mas Deus nunca Se acha longe de ninguém. Nem daqueles que O negam. Porque, no fundo e como disse um dia Miguel Esteves Cardoso, são esses os que mais precisam d'Ele.

publicado por Theosfera às 10:53

Se pensarmos bem, a proposta de Cristo está nos antípodas das receitas de auto-ajuda que por aí vão proliferando.

 

Jesus não promete uma via fácil nem uma vida cómoda. Ao invés e como percebeu magistralmente Agostinho de Tagaste, o Senhor «não nos promete segurança e tranquilidade; o que Ele nos anuncia são aflições, tribulações e provas».

 

 Estranho marketing este que visa atrair seguidores através daquilo que mais tende a repelir os potenciais adeptos.

 

 Agostinho recomenda, por isso, «que não nos lamentemos nem murmuremos até porque os sofrimentos que hoje suportamos foram já suportados pelos nossos pais».

 

 Há muitos (isto foi já escrito no século V) «que se queixam do seu tempo, como se tivessem sido melhores os tempos dos antepassados. Porventura não murmuravam igualmente se pudessem voltar a viver os tempos dos seus antepassados? Julgas melhor o tempo passado, simplesmente porque não é o teu».

 

 Determinação, pois, já que é preciso participar na mudança. Mas, ao mesmo tempo, serenidade e mansidão. Os obstáculos não são de agora. A força, essa, é a de sempre. É a força de Jesus.

publicado por Theosfera às 10:17

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