O adolescente é conhecido por Bruma. E, pelos vistos, o seu futuro mais próximo é por uma bruma que está envolvido.
Trata-se de uma bruma de interesses e disputas a que já ninguém reage. E diante da qual já poucos se indignarão.
Há um jogador nascido na Guiné e que, com 16 anos, já é desejado pelos maiores clubes do mundo.
Nada de especial.
O normal, nestes casos, é que se fale com o clube que representa e com ele próprio. Uma vez que se estamos perante um menor, deverá falar-se com os seus pais.
Mas isto é o que nós pensamos e consideramos minimamente decente.
Ao que parece, há dois empresários (ou agentes FIFA, como agora se diz) que estão a pressionar o jogador, os pais biológicos (que estão na Guiné) e os encarregados de educação (que o acompanham em Lisboa) para que assine um contrato com um clube inglês. Uns asseguram que é o Chelsea. Outros atestam que é o Manchester City.
Aqui chegados, confesso que não entendo qual é a necessidade de haver estes intermediários.
Os clubes mais ricos não terão dificuldade em contratar os melhores jogadores. O dinheiro é sempre convincente. O problema é que, além da contratação, terão de compensar os tais empresários.
Dizem alguns jogadores que, se não fossem os empresários, não teriam chegado tão longe na carreira.
Este é um argumento praticamente indigerível. Num mundo globalizado, qualquer jogador, mesmo no país mais recôndito, se torna facilmente conhecido.
Não consigo perceber, pois, a necessidade de haver empresários.
Mas isto nem sequer é o mais arrepiante.
O mais arrepiante é sentir que o futebol, que já tinha a aparência de um comércio, está a transformar-se mum puro negócio. Nele, fala-se de vendas e compras com uma gula assolapada.
Acontece que estas transacções incidem sobre seres humanos.
É verdade que a imprensa, por vezes, exagera. Mas fica no ar, até pela recorrência do fenómeno, a possibilidade de ser verdade.
E, aspecto a reter, veicula-se a informação de forma despojada. Sem qualquer apreciação crítica. Sem o menor apontamento ético. Sem a mais leve demarcação.
Assim nos vamos habituando à desumanidade. Com muitos milhões pelo meio...