O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

Andrés Torres Queiruga está a ser homenageado, entre hoje e sábado, em Santiago de Compostela.

 

Há quem o considere o maior teólogo espanhol vivo.

 

Como pessoa, é dos seres humanos com maiores índices de bondade que conheci.

 

O seu doutoramento foi sobre Ruibal e Zubiri. Convidei-o, por isso, para ser um dos orientadores nos meus estudos.

 

Aprendi imenso com ele. Como professor e como pessoa.

 

Muitos parabéns.

publicado por Theosfera às 23:47

Religião e diálogo é uma relação que tem tudo para dar certo. Só que nem sempre o que se mostra promissor à partida pode ser dado por garantido à chegada.

 

Há muitos tropeços no percurso e o fluxo das origens fica, amiúde, ofuscado pelas tormentas da caminhada. A impressão que dá é que, não raramente, quando avançamos no tempo, vamo-nos afastando da fonte.

 

A experiência atesta que, muitas vezes, uma coisa é a identidade e outra coisa, bem diferente, acaba por ser a realidade.

 

Pela sua natureza, religião é ligação. As portas para o diálogo parecem, por isso, abertas. Só que os atalhos da história parecem transformar uma combinação natural numa articulação quase impossível.

 

E se algum défice tem havido neste campo é precisamente quanto à substância. Existem hábitos de encontro, mas ainda estamos longe de uma verdadeira cultura do diálogo: do diálogo entre religiões e, já agora, do diálogo no interior de cada religião.

 

Daí a pertinência de um livro que acaba de aparecer. Não é um livro grande, mas é, sem dúvida, um grande livro.

 

Religião e diálogo inter-religioso é o título da mais recente publicação de Anselmo Borges, que mãos amigas me fizeram chegar e que, agora mesmo, acabei de ler.

 

É um texto com densidade, espessura e alma. Transporta com ele a vibração de alguém que milita no que apresenta. É obra de um homem culto e, coisa nada despicienda, de um homem livre.

 

Antes de mais, o Autor cumpre uma missão semelhante à que Zubiri atribuía a Ortega em finais do século XIX e princípios do século XX. Trata-se de uma missão ressoadora em relação ao melhor que se vai pensando e dizendo pelo mundo acerca desta temática.

 

Com efeito, Anselmo Borges faz ressoar um conjunto de preocupações e propostas que têm vindo a fazer caminho nos últimos tempos.

 

Por estas páginas desfilam assim as questões mais inquietantes (como a multiforme tipologia do fenómeno religioso) e as interpelações mais aliciantes (designadamente o problema da violência, do fundamentalismo, o lugar do religioso na escola pública, a verdade em todas as religiões, a complementaridade entre elas e o lugar dos ateus em toda esta discussão).

 

Foi sempre difícil (e continua a não ser fácil) conciliar a religião com o diálogo. E, no entanto, esta articulação é fundamental. Ainda sobram muitos preconceitos que facilmente desaguam numa combustão e delapidam os melhores esforços.

 

Partindo da referência ao tempo-eixo na introdução, podemos dizer que, de certa forma, vivemos uma época também ela axial para o diálogo e, consequentemente, para a paz.

 

A tese de Hans Küng (por muitos assumida) é recordada: não haverá paz no mundo enquanto não houver paz entre as religiões.

 

 O diálogo não amortece as convicções. Pelo contrário, fortalece o testemunho. Ver cada religião no conjunto não obscurece a sua força intrínseca, antes empresta um novo vigor à sua identidade.

 

Este é um domínio em que o todo tende a ser visto a partir das partes. É importante que nos habituemos a ver também cada parte a partir do todo. As sementes do Verbo, de que já falava S. Justino, não deixam ninguém de fora. Não professamos nós que o Espírito sopra onde quer?

 

Numa altura em que a política é atravessada pela adversidade, seria de esperar que a religião fosse olhada como oportunidade.

 

Infelizmente, o panorama não é entusiasmante e nem sempre as diversas configurações religiosas têm sabido responder às aspirações mais fundas da hora presente.

 

No fundo, as religiões ainda não conseguiram constituir a alternativa de que a humanidade precisa. Continuam a portar-se como a redundância que a humanidade lamenta. Também as religiões, de facto, são trucidadas por conflitos e por uma legião interminável de vítimas. No fundo, também a religião certifica que o ser humano tem dificuldade em conviver com o diferente.

 

Tudo isto toca um problema decisivo, que as religiões transportam em si e que nem sempre sabem gerir entre si: o Absoluto.

 

Esta é, sem dúvida, uma aspiração a que a religião dá um horizonte de sentido. Mas é preciso perceber que o Absoluto transcende todas as configurações. O Absoluto está presente (mas não prisioneiro) nas instituições.

 

Tem havido muitas tentativas de diálogo. Mas ainda não se obteve uma plataforma de encontro permanente.

 

É preciso, como assinala o livro, passar do multi para o inter. A multiculturalidade, que se observa, há-de assumir a forma de uma interculturalidade, que importa consolidar. 

 

Eis, portanto, um livro precioso para a compreensão do presente. E que certamente se vai transformar numa referência indispensável durante muito muito tempo no futuro.

 

Portugal carecia de um livro destes. Parabéns a Anselmo Borges, que soube suprir esta carência e dar corpo a esta urgência.

 

O religioso resplandece aqui como questão humana. Uma questão humana básica. E uma questão humana decisiva. Porque abrangente. Porque mostra como tudo (a começar por Deus) tem que ver com tudo!

publicado por Theosfera às 16:17

Falta perceber, na hora presente, que a parte só faz sentido no todo.

 

Daí que conceber a política económica de um país como uma questão de números seja sumamente redutor.

 

É preciso, acima de tudo, saber integrar: outras dimensões, outras perspectivas, outras pessoas.

 

Em toda esta discussão. nota-se como se está apegado como lapa às posições de cada um. Há uma falta de abertura que redunda em quebra de horizontes.

 

Foi a pensar neste cenário labiríntico que me voltei para a sabedoria budista e para as suas propostas diante do caos.

 

Apresenta três métodos para lidar com ele: acabar com a luta, usar o veneno como remédio e ver tudo o que surge como iluminação.

 

De facto, na hora que passa, do que mais precisamos é de calma e bom senso, os dois grandes parturientes da tão necessária lucidez.

 

Não se trata de ver quem grita mais alto, mas de concertar vozes e unir esforços. Será impossível?

 

Quanto ao veneno como remédio, o que se prentende é que se lide com a adversidade como oportunidade. Era melhor que não houvesse crise. Mas, já que ela existe, tentemos encará-la de frente. E procuremos superá-la. Não agravá-la.

 

O terceiro método ensina a olhar para tudo como uma manifestação de energia desperta. Não entremos em pânico nas horas difíceis. Há-de brilhar uma luz na escuridão.

 

Não entremos em dualismos nem segmentemos as situações entre o suposto lado bom e o putativo lado mau. Todas os pontos de vista são legítimos. Todos os contributos são necessários. A luz há-de ressurgir.

 

Os partidos não são trincheiras. Em toda a parte pode ser divisado um complemento ao que nos falta. O todo não está numa única parte.

publicado por Theosfera às 11:14

Daquela vez, o Prof. Cavaco Silva terá sido demasiado contundente e talvez injusto. Mas não será que teve razão?

 

No célebre artigo sobre a Lei de Gresham, recordou que a má moeda acaba por expulsar a boa moeda.

 

Trata-se não só de um princípio económico, mas de uma tendência geral: a mediocridade revolta-se contra a qualidade e, no limite, acaba por eliminá-la.

 

Em toda esta discussão sobre o Orçamento do Estado, sente-se uma ausência de horizontes e uma falta de grandeza que faz pensar. E penar.

 

Há uma falta da lastro humanista que faz com que a imolação das pessoas no altar dos números seja tida como normal, inevitável.

 

Quem lê as crónicas de economia do Dr. Nicolau Santos, repara como ele insere sempre, em lugar de destaque, um texto de um escritor, geralmente um poeta.

 

À partida, nenhuma afinidade existirá entre a economia e a poesia.

 

Mas, a bem dizer, esta é uma proximidade muito necessária e cada vez mais urgente.

 

O que mais tem impressionado é todo este desfile de números, brandidos de um modo quase imperceptível ao cidadão comum, sem se descortinar um horizonte de sentido.

 

É esta economia descordializada (isto é, sem coração) que leva a impor sacrifícios sem fim aos mais pequenos.

 

Não será possível uma economia com alma?

 

A pressão dos acontecimentos é grande. Mas a ausência de alma é ainda maior, mais gritante.

 

Esta é uma questão transversal, que envolve as famílias e afecta as esciolas.

 

O processo educativo tem desguarnecido a dimensão humanista. Tudo se subordina aos ditames do mercado e às regras da competição.

 

Todos querem ser primeiros. Só que o importante é (tentar) ser melhor. Melhor na capacidade. Melhor no coração. Melhor na solidariedade.

 

As especialidades não podem abrir mão da globalidade. A verdade, como ensinava Hegel, está na totalidade.

 

A economia tem de ser mais do que contabilidade.

 

Sei que há economistas com um apurado sentido humanista. Não lhes cortem a palavra. Nem lhes fechem as portas.

publicado por Theosfera às 10:48

Eis «um país arruinado, dividido, convulso, desorientado, descrente nos seus destinos, intoxicado por uma política estéril».

 

É possível que qualquer analista subscreva estas palavras, demasiado contundentes.

 

Mas elas não são de agora. São de 1970 (proferidas por Marcelo Caetano) e referem-se ao estado de Portugal em 1928.

 

Toda a gente sabe o que aconteceu a seguir.

 

As ditaduras prosperam na desordem.

 

Hoje em dia, não estaremos na iminência de uma ditadura política, embora, aqui e ali, o cerceamento da liberdade e a imposição de um pensamento único (ainda por cima medíocre) se venham a notar.

 

Mas um totalitarismo económico pode estar a chega, vindo de fora. A Europa e o FMI vão dando sinais de inquietação.

 

As nuvens começam a aparecer. Pressente-se clima de tempestade. Acredito, no entanto, que, na hora da verdade, o sol vencerá as resistências.

 

Ainda temos tudo. Menos uma coisa: tempo.

publicado por Theosfera às 10:38

«O que mais me aborrece na morte é que ela dura muito tempo».

Assim disse (sibilina e magnificamente) António Lobo Antunes.

publicado por Theosfera às 10:36

Jesus não ensinou apenas com os lábios. Ensinou também (e sempre) com a vida. D'Ele vêm-nos palavras imortais. D'Ele chegam-nos atitudes imperecíveis.

 

Foi Ele que proclamou felizes os mansos. Foi Ele que nos legou a mansidão. Ele foi sempre manso e humilde de coração.

 

A mansidão não é, porém, sinal de impassividade, nem de indiferença. Pelo contrário, é sintoma de empenho, de militância e de compromisso.

 

Ser manso não é ser ingénuo. É militar de outra forma nas grandes causas.

 

Poderá haver quem questione e pergunte acerca do que se ganha com a mansidão. Seria bom que pensássemos, sim, no que temos perdido com a violência.

 

Os violentos têm conseguido alguma coisa?

publicado por Theosfera às 10:35

«Há uma hora de partida, mesmo quando não há lugar certo para ir».

Assim escreveu (pertinente e magnificamente) Tennessee Williams.

publicado por Theosfera às 10:32

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