O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 25 de Outubro de 2010

1. O nosso ar, por estes dias, parece mais sorumbático e não é só por causa da crise.

 

A nossa pose é mais inclinada e os nossos olhos andam mais voltados para o chão. Há lembranças que se reacendem e pessoas que se recordam.

 

Esta é, assim, uma época que convida ao recolhimento. Para ele somos atraídos por aquele que Hans Küng denominou o grande tabu do nosso tempo: a morte.

 

Por muito que nos doa, a morte é a determinação maior da nossa vida.

 

Não foi, por isso, em vão que Xavier Zubiri sustentou que viver «é existir estruturalmente frente à morte».

 

E se a filosofia se detém sobre o mais importante, então percebe-se que Montaigne tenha defendido que, no fundo, «filosofar é aprender a morrer».

 

Está a morte conectada com o sentido e a finalidade da nossa existência. Para Gandhi, «o que importa é o fim para o qual eu sou chamado».

 

E não há dúvida de que a morte sinaliza não só o termo de um percurso, mas também o sentido de uma caminhada.

 

 

2. A morte é o problema central da vida porque ela a questiona como nenhuma outra.

 

É ela que ilustra o paradoxo humano em toda a sua crueza. Como reconhece Bruno Forte, «o homem é o paradoxo de alguém que luta pela vida e que, afinal, vai em direcção à morte».

 

O mais que conseguimos é adiá-la. Mas, por muito que tentemos, somos incapazes de lhe escapar.

 

À primeira vista, a morte é o grande certificado da caducidade de todas as coisas: não só das mais pequenas e imperceptíveis, mas também das que aparentam ser invencíveis, inexpugnáveis.

 

Tudo acaba. Tudo morre. Tudo desce à terra.

 

A hora que estamos a atravessar convida-nos, com extremos de acutilância, a sentir como tudo é perecível.

 

 

3. Numa altura em que a palavra crise desata a massacrar os nossos ouvidos, damos connosco a verificar que, de facto, este é um tempo de falências.

 

É tétrico, mas parece que só a morte não entrou em falência. Essa vem e chega sempre antes do tempo. Quanto ao resto…

 

Estão a falir empresas. Estão a falir fábricas. Estão a falir projectos. Estão a falir famílias. Estão a falir ideologias.

 

Faliu o colectivismo estalinista. Faliu o liberalismo capitalista. Faliu o totalitalismo. Faliu a partidocracia vigente. Faliu a alternativa, que não se vislumbra.

 

Faliu o Ocidente, que manda no mundo e não consegue orientar-se a si mesmo. Faliu a convivência, travestida em domínio de uns sobre os outros.

 

Estão a falir os relacionamentos entre as pessoas, cada vez mais fluidos, cada vez mais fúteis, cada vez menos duradouros.

 

Faliram os pobres. Faliram os ricos, mesmo que continuem ricos. Não faliram como ricos. Mas mostram falir como seres humanos. Não faliram na competência. Mas estão a falir na justiça, na partilha.

 

Os sonhos de há décadas parecem falir como amargas desilusões. Quem sofria continua a sofrer. O mundo melhor dá sinais de estar adiado. Para sempre?

 

Ângela Merkel veio dizer que o multiculturalismo também faliu. Os povos aprestam-se para voltarem a ser guetos. Os que chegam não conseguem integrar-se. Mas será que os que já cá moram sabem acolher?

 

O multiculturalismo não é possível em determinados países. Será viável em algum lugar?

 

Em toda a parte, há sempre quem domine, há sempre quem imponha. O pensamento único ameaça estender-se à escala planetária. Será que o diferente só tem lugar como revolta, como rebelião?

 

 

4. Estão, pois, a falir as pontes. Mas já tinham falido os muros, que agridem e afastam.

 

Estamos todos mais perto. Será que nos sentimos mais próximos?

 

A maior crise não será a de um mundo que ainda não aprendeu a ser mundo e a de um homem que tarda a aprender a ser homem?

 

 Falidas as expectativas, ainda não terá falido a esperança. Nunca consintamos que ela entre em falência.

 

 O desastre é grande. Não deixemos que seja total.

 

 A esperança tem muito de fénix. Acordará ainda que pareça adormecer. Ressurgirá mesmo quando ameace cair.  

 

 

publicado por Theosfera às 14:04

É um caso em que tendemos a separar o que Deus uniu.

 

Deus une a fé ao amor e o amor à fé. Nós, porém, gostamos de estabelecer fracturas e cisões.

 

Hoje, é cada vez mais frequente ouvirmos dizer que o importante é amar e que acreditar é secundário.

 

Mas também não basta acreditar. Acreditar sem amar não é evangélico. É coisa impossível a fé sem o amor. S. Paulo, de resto, já alertou que a fé actua pelo amor (cf. Gál 5, 6).

 

Amar é, por isso, fundamental e decisivo. Mas a fé é que inspira e enforma o amor. Longe da fé, tudo é oco, vazio e inane.

 

Amor sem fé seria como um invólucro sem conteúdo. Mas fé sem amor seria como um discurso sem acção. É o amor que dá crédito à fé.

 

A fé não precisa de se dizer quando existe amor. O amor, em si mesmo, já diz a fé. Onde há amor, flui a fé.

 

Deixa pois que Deus ame dentro de ti. Os outros terão um lugar central no teu ser.

 

Com fé, o amor brilha. Sem fé, o amor fenecerá. Mas, sem amor, a fé também murcha.

 

Um dia, talvez haja, na Santa Sé, uma sagrada Congregação para a vivência do Amor, tal como existe uma sagrada Congregação para a Doutrina da Fé.

 

Será uma forma de tornar visível o vínculo entre a fé  e o amor. Tudo sob a égide da esperança. A tal que, como alvitra Charles Péguy, «espanta o próprio Deus».

publicado por Theosfera às 11:00

José Mattoso é uma das pessoas que mais admiro. Não apenas pelo seu saber, que é muito, mas também pela sua humildade, que é ainda maior.

 

Ontem, deu uma entrevista sobre o seu percurso de vida, onde transparece toda uma panóplia de valores que cativam o mais desatento.

 

Assume-se como aluno de 13, 14 e não tem rebuço em qualificar-se como sofrível.

 

Isto dá logo que pensar. Como é que alguém excelente se apresenta como sofrível em contraste com tanta gente sofrível que se pavoneia como excelente?

 

Fala das suas opções, da sua entrada e da sua saída do mosteiro e do sacerdócio. No ar, fica uma necessidade de melhor se encontrar com Deus.

 

Há uma busca de pureza e autenticidade muito grande, que nem sempre é compreendida nem acolhida.

 

Evoca, com pesar, uma vida religiosa barroca, formal, assente nas exterioridades.

 

O que mais me toca é a referência a S. Francisco de Assis e à sua pureza que consiste em viver «o Evangelho sem glosa». Trata-se do «Evangelho despojado das derivas que foram acontecendo ao longo dos tempos». Trata-se, enfim, de uma procura da «autenticidade inicial».  

publicado por Theosfera às 10:50

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