1. No início de mais um ano lectivo, é importante que nos capacitemos do objectivo global do processo educativo. Este não pode ser tutelado por um qualquer governo. Ele está a ser permanentemente escrutinado pela vida.
É a vida que desponta como a matriz suprema e o critério maior do percurso de um aluno.
Não se deve reduzir a educação ao ensino. Ou, então, não é lícito que o ensino se circunscreva à leccionação das diversas matérias.
É necessário que seja dado espaço aos agentes para que se empenhem, activamente, no essencial: o crescimento da personalidade.
Convém ter presente que, periodicamente, a escola avalia conhecimentos. Mas é a vida que vai fazendo, de modo contínuo, a aferição dos comportamentos.
Nem sempre os índices de satisfação são tranquilizadores. Não basta olhar para a pauta de um estabelecimento de ensino. Urge reparar no porte da pessoa.
2. A boa educação não decorre apenas (nem principalmente) de altas classificações.
Já dizia Cuvier que «a delicadeza é o carácter que distingue os homens de espírito e boa educação».
O civismo não é mensurável, mas é, obviamente, perceptível. Ou imperceptível, se ausente.
A educação torna-se compensadora quando visa não somente a preparação de mentes brilhantes, mas a formação de personalidades luminosas.
Por isso e como sugere Augusto Cury, a escola deverá tender para se tornar não só um albergue de conhecimentos, mas um laboratório de valores.
Daí a importância de se valorizar tanto as atitudes de nobreza como os conhecimentos de excepção.
Aliás, Alceu Amoroso Lima defende que «a sabedoria está para lá da ignorância e para lá da ciência».
Fundamental é que «cada um de nós deve ter o amor da perfeição: saber que devemos querer o máximo, mas saber que o máximo nunca atingiremos».
De resto, a própria santidade também passa por este meridiano. Ela «é um mosaico de pequenas virtudes. Os grandes gestos são raros. No mais, a vida é feita de pequenos gestos anónimos».
Por conseguinte, «temos de adquirir o sentido de sermos o menos imperfeito possível. Isto já é uma grande conquista».
3. É neste sentido que comungo do pensamento de Joaquim Azevedo quando sugere que o Estado não devia intervir tanto no processo educativo.
O prioritário tem de ser mesmo a escola e, particularmente, a relação entre o professor e o aluno.
É esta a pedra de toque, a partir da qual tudo pode ser transformado. A própria interacção com a comunidade muito pode ganhar a partir daqui.
O forte clima competitivo, que tende a reinar na escola, leva a que o outro comece a ser visto, desde cedo, como um rival.
Ora, a escola há-de ajudar a ver o outro não como adversidade, mas como oportunidade.
A escola terá de ser uma semente de fraternidade. Ser colega tem de ser entendido, cada vez mais, como irmão.
4. Como se compreende, a escola prepara para o mundo. Mas quando pensamos em mundo, logo nos voltamos para o mundo exterior.
É neste que o sucesso (ou o fracasso) se torna mais visível. Acontece que é tempo de cultivar igualmente o mundo interior.
Como adverte Augusto Cury, «somos hoje subjugados por necessidades que nunca foram prioritárias: o consumismo, a estética, a segurança».
Como é difícil obter tudo isto no imediato, «a vida humana torna-se um espectáculo de frustração, de medo, de ansiedade».
É preciso trabalhar, cada vez mais, «o mundo das ideias, dos pensamentos, dos sonhos, das emoções».
A verdade, como asseguram os sábios, está na totalidade. E a totalidade da pessoa do aluno parte do fundo, de dentro, do interior.
É daí (e não das secretarias de um ministério) que vem a maior riqueza.
O melhor manual é mesmo a pessoa do aluno. É esse manual que temos (todos!) de reaprender a ler. Incessantemente…