O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 31 de Agosto de 2010

1. A vida de um teólogo raramente é acontecimento. A morte de um teólogo dificilmente será notícia.

 

É por isso que Raimon Panikkar é um nome que dirá pouco, ou quase nada, à maioria das pessoas.

 

E, no entanto, é alguém com uma trajectória muito interessante em vários domínios do pensamento com destaque para a filosofia e a teologia.

 

A sua vida foi longa e a sua obra extensa. Faleceu no passado dia 26 de Agosto aos 91 anos de idade.

 

 

2. Raimon Panikkar especializou-se bastante no diálogo inter-religioso extraindo as maiores ilações da experiência que acumulou na Índia.

 

Acentuou, particularmente, a religião como religação.

 

Esta acepção, sendo genuína, corre o risco de ser perigosamente subestimada. O facto religioso é, não poucas vezes, indissociável de um ensimesmamento que, radicalizado, conduz à violência e à desintegração.

 

Não deixa de ser sintomático que uma religião, para se afirmar, acabe por se desintegrar.

 

É que, quando ela pretende afirmar-se excluindo as outras, esbate-se a si mesma.

 

A essência da religião é o que liga, não o que afasta, não o que exclui.

 

Raimon Panikkar dispensou sempre uma grande atenção a esta dimensão.

 

A religião, para ele, era essencialmente religação não apenas do Homem a Deus, mas religação do universo consigo mesmo descobrindo-lhe a sua coesão e sentido.

 

Daí a pertinência da sua intuição cosmoteândrica, propugnando uma interacção entre Deus, o Mundo e o Homem.

 

Este não possui uma dupla cidadania, uma na sociedade e outra na religião. Está tudo implicado a partir do acto de existir.

 

 

3. O religioso não surge como um fenómeno sobreposto ao humano.

 

O religioso é mais que religioso. É, autenticamente, humano. São, de facto, seres humanos que optam pela fé, por uma vivência pessoal e por uma articulação comunitária da sua ligação ao divino.

 

Nas mais diversas experiências, há uma unidade que subjaz. No fundo, «o Ser está escondido em todos os seres».

 

As diferenças não podem ser vistas como separações. As diferenças são legítimas, as separações são sempre prejudiciais.

 

O religioso certifica o Homem como um ser no qual late algo mais que o tempo e o espaço. Este mais não tem limites: é infinito, é misterioso e é relacional.

 

Raimon Panikkar ajuda-nos a perceber que «a realidade «não está formada nem por um bloco único — seja este divino, espiritual ou material — nem por três blocos — o mundo dos deuses, o mundo dos homens e o mundo da física —, como se de um edifício de três pisos se tratasse».

 

Acima de tudo, «a realidade está constituída por três dimensões entrelaçadas umas nas outras, de maneira que não só uma não existe sem a outra, mas também que estão dispostas inter-in-dependentemente».

 

Esta implicação estende-se à concepção do tempo e da eternidade. O tempo não é o que está antes e a eternidade não é o que vem depois.

 

Cada momento «é habitado pela outra face “eterna”, formando assim a tempiternidade».

 

 

4. Esta visão integradora cura o abismo que se cavou, a certa altura, entre o material e o espiritual e, mais vastamente, entre o secular e o sagrado, entre o interior e o exterior, entre o temporal e o eterno.

 

Como é óbvio, não se trata de desvalorizar as diferenças, mas de termos presente a trama de relações e de nos tornarmos conscientes das interdependências e conexões.

 

Muitas vezes, os teólogos são incompreendidos porque trazem para o centro aquilo que está na periferia, no esquecimento.

 

A Raimon Panikkar devemos a superação de uma matriz dualista entre o religioso e o humano.

 

A fé não se esgota na celebração no templo. «O serviço à terra é também um serviço divino, tal como o amor a Deus é também um amor humano».

 

O que existe é uma realidade que «tem muitas moradas e apresenta diversas dimensões, mas que não divide a vida em secções».

 

Tudo pode resumir-se nisto: «se eu subir à montanha, lá encontrarei Deus, mas se, igualmente, penetrar no coração da divindade, aí encontrarei o mundo».

 

Tudo tem a ver com tudo.

publicado por Theosfera às 17:45

Domingo, 29 de Agosto de 2010

Tinha 91 anos. Partiu no pretérito dia 26.

 

Raimon Panikkar era um teólogo fecundo, empenhado no diálogo entre as religiões.

 

Era um homem vibrante, uma inteligência aguda, um espírito brilhante.

 

Como se compreenderá, foi um incompreendido.

 

A interacção cosmoteândrica ficou como uma intuição promissora.

 

O Homem, segundo ele, não tem uma dupla cidadania. O ser crente faz parte integrante do seu ser inteiro.

 

Era um prazer lê-lo. Será sempre benéfico reflectir sobre o que nos deixou.

publicado por Theosfera às 19:27

É com espanto que noto a recepção acrítica, por parte de certas instâncias, ao encerramento de escolas.

 

É um problema de grande complexidade e algum melindre, que tem de ser encarado em toda a extensão e amplitude.

 

Pelo que se vê, está a ser dada prioridade à dimensão logística e sobretudo à componente tecnológica do ensino. Está a desvalorizar-se, a meu ver perigosamente, a vertente relacional.

 

Os centros escolares estão bem equipados, sem dúvida. Mas tende a esquecer-se que o ensino é um processo progressivo que interage com a família. Sobretudo nos primeiros anos, a proximidade da família é fundamental.

 

Para a sobrevivência do interior, trata-se de uma questão decisiva. O percurso, até agora, desenhava-se mais ou menos assim: ensino básico na aldeia, ensino preparatório e secundário na vila e ensino superior na cidade.

 

Com estas medidas, o interior vai ficar cada vez mais vazio. Este é o cimento do que, a médio prazo, acabará por ser impor. A ter validade cimeira o critério da população, pouco faltará para a extinção de muitas freguesias e concelhos.

 

Longe vão os tempos em que uma freguesia tinha três referências: o regedor, o pároco e o professor. Viviam lá. Estavam com as pessoas.

 

O professor já lá não vai. O pároco ainda por lá vai passando. Resta o presidente da junta. Até um dia.

 

Que diria D. Sancho a tudo isto? 

publicado por Theosfera às 19:17

Quinta-feira, 26 de Agosto de 2010

«Sobreviver não é viver».

Assim escreveu (avisada e magnificamente) Edgar Morin.

publicado por Theosfera às 15:39

1. O tempo é de festa, mas o semblante das pessoas mantém-se carregado.

 

Parafraseando Adriano Moreira, dir-se-ia que o poder da palavra nada consegue diante da palavra do poder. Por muito que aquele se faça sentir, é esta que acaba sempre por decidir.

 

Os últimos tempos têm-se encarregado de desenhar uma espécie de quadratura do círculo.

 

O país treme quando o interior arde. Mas é o mesmo país que consente que o interior, votado ao abandono, arda.

 

As responsabilidades são repartidas, entre a classe política e a sociedade civil. A desolação, essa, é total.

 

Nunca houve tanto planeamento e nunca se sentiu tão pouca planificação.

 

Não deixa, de facto, de ser espantoso verificar que, há cem anos, Portugal tinha, sensivelmente, metade da população actual. E, não obstante, tal população estava mais bem distribuída.

 

As cidades não estavam tão ocupadas, os campos não estavam tão desertos. Os serviços estavam repartidos de modo mais equilibrado.

 

Hoje em dia, continuamos a assumir que não queremos o interior despovoado, mas que apoios lhe são dados?

 

 

2. Há cada vez mais estruturas a encerrar. São os hospitais. São as esquadras. São as escolas.

 

Isto significa que o interior tem cada vez menos saúde, segurança e educação. Ora, isto é um poderoso convite a não permanecer no interior.

 

É claro que, a montante desta discussão, subsistem questões do mais elementar bom senso e de uma indispensável racionalidade.

 

Para haver estruturas, é preciso haver população. Só que a equação não dispensa uma pergunta, de igual pertinência. Não será que, para haver população, é necessário haver estruturas?

 

Concentremo-nos no caso das escolas, de novo na ordem do dia.

 

Facilmente admitimos que uma escola sem um mínimo razoável de alunos não tem condições para funcionar. Mas estabelecer um mínimo de 21 não será um exagero?

 

Aqui, entra em jogo a distinção, cada vez mais vincada, entre a educação e o chamado eduquês.

 

Enquanto da educação se espera uma preparação para a vida, o eduquês acaba por constituir uma condicionante da vida.

 

Se turmas muito reduzidas trazem problemas de socialização, turmas demasiado extensas acarretam problemas de aprendizagem.

 

De resto, os países com melhores índices de aproveitamento são aqueles em que o número de alunos por turma é inferior a vinte.

 

 

3. É sabido que a globalização institui, inevitavelmente, a mobilidade e a deslocalização.

 

Mas também é verdade que a mesma globalização é sempre concretizada no âmbito local.

 

Miguel Torga percebeu muito bem esta interacção ao escrever que «o universal é o local sem muros».

 

Aliás, um dos preceitos mais ouvidos, nos tempos que correm, é precisamente «pensa global, age local».

 

A globalização não pode ser entendida como o sufoco do local. Tal sufoco conduzirá à deslugarização das pessoas (que já se manifesta) e à despersonalização dos lugares (que se vai, ameaçadoramente, consolidando).

 

Não falta quem viva num lugar e trabalhe noutro, por vezes bem distante. Isto leva a que os relacionamentos, nos lugares, sejam cada vez menos profundos, cada vez menos personalizados.

 

 

4. Lamego viu-se alcandorado ao primeiro lugar na escala dos concelhos onde encerraram mais escolas.

 

É um dado revelador e um sinal preocupante.

 

Há que olhar para a realidade de forma lúcida e com uma disponibilidade empreendedora.

 

Desde há muito que, à semelhança do que ocorre em todo o interior, também o nosso concelho vem encetando uma curva descendente.

 

Há que encontrar uma maneira de inverter a tendência. Há que unir esforços e ser mais pró-activo que reactivo.

 

É preciso que as vozes se juntem e, em coro, se façam ouvir. Há que acreditar no futuro e apostar no presente.

 

É fundamental que o pior vírus não nos contamine: o desânimo.

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Theosfera às 11:58

Faz hoje, 26 de Agosto, cem anos que nasceu Madre Teresa de Calcutá.

 

Isto é o que diz o registo. Porque o que ela sempre afirmou era que o dia do seu nascimento foi quando encontrou um leproso em fase terminal numa rua. Este, nos seus braços, desabafou: «Vivi como um cão, mas hoje posso dizer que morro como um anjo»!

publicado por Theosfera às 11:13

Também na Igreja precisamos de trabalhadores, de operários.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de falar de Deus.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de dizer que estão em comunhão com o Santo Padre.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de assumir posições claras.

 

De operários que não tenham nem vergonha de correr riscos e de enfrentar situações.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de estar ao lado das pessoas.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de tomar partido quando a vida, a liberdade e condição dos mais pobres estão em causa.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de dizer o sentem e de sentir o que dizem.

 

De operários que não tenham medo nem vergonha de rezar, de amar, de testemunhar, de ser. A tempo inteiro!

publicado por Theosfera às 11:06

Dizem que, só nos últimos dois anos, o país perdeu mais de 12 mil empresas.

 

O desemprego é alucinante.

 

O país para onde vai?

publicado por Theosfera às 11:04

Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

Tenho verificado que o discurso sobre Deus mantém-se conceptualmente robusto mas, ao mesmo tempo, mostra-se existencialmente frágil.

 

Na origem deste desfasamento encontra-se, quanto a mim, a débil atenção que tem sido dispensada à realidade.

 

Não só se nota um distanciamento do discurso sobre Deus em relação à realidade como se verifica, por vezes, uma desrealização desse mesmo discurso, que induz a ideia de uma dessignificação do respectivo conteúdo.

 

Talvez porque falta perceber que, como reconhece Olegario González de Cardedal, «uma das tarefas mais sagradas e difíceis hoje é unir a simplicidade do coração à complexidade da inteligência».

 

Com efeito, há um discurso sobre Deus de tal modo desligado do homem que, reactivamente, provoca um discurso sobre o homem desligado de Deus. Em tal discurso, o homem e o mundo surgem voltados sobre si mesmos como centro, origem e fim.

 

Devolveu-se-lhes o aposentamento na sua intimidade e outorgaram-lhes as propriedades que outrora eram atribuídas a Deus. Anulou-se o abismo da distância e da diferença.

 

Agora leva-se a cabo uma re-instalação no homem dos atributos de Deus. Começando pela criação, para tudo se recorre ao auto: autocriação, autonomia, autocompreensão, auto-realização, autoconsumação. O homem presume-se como o seu próprio criador e o seu único redentor. Onde antes se lia Deus e a Sua obra, agora propendemos a ler apenas o homem e a sua acção.

 

Neste cenário, ressignificar o discurso sobre Deus implica também reconfigurar o discurso sobre o homem a partir da realidade que o envolve e constitui.

 

É que na incessante procura de uma linguagem sobre Deus, o homem tem recorrido prevalentemente ao logos conceptual, ao logos cultural, ao logos ideológico, ao logos simbólico, ao logos ritual, ao logos da tradição e até ao logos da modernidade.

 

Todos eles têm ostentado virtualidades e patenteado limites. O que mais me impressiona em Xavier Zubiri é a ênfase que ele dá, em toda a sua obra, a um logos mais árquico, mais primordial, mais primigénio: ao logos da realidade. Per realitatem ad Deum, assim se poderia sintetizar, pois, o seu percurso.

publicado por Theosfera às 11:27

Tantos acidentes. As estradas estão a transformar-se em cemitérios ambulantes. Há um clima de ansiedade e de temor a atordoar os espíritos.

 

Os assaltos não param. O medo apodera-se das pessoas.

 

E, como se isto não bastasse, a notícia de que um árbitro matou um jogador.

 

Foi no Brasil. Nesta nossa aldeia. Neste nosso mundo.

publicado por Theosfera às 11:25

Segunda-feira, 23 de Agosto de 2010

Um dos sinais que melhor tipifica a presença do Espírito na Igreja é a profecia, a coragem, a franqueza.

 

A profecia é o maior exercício da liberdade para a qual Jesus Cristo nos libertou (cf. Gál 5, 1). É urgente a profecia para fora e para dentro. A amorfia e o conformismo sinalizam uma ausência de abertura ao Espírito de Deus.

 

Precisamos de recriar a atmosfera pneumática da Igreja da primeira hora. É preciso não ter medo das consequências. Já sabemos que a opção pela verdade acarreta sempre prejuízos. Mas vale a pena correr riscos em nome daquilo que perfilhamos. O que não podemos é ficar adormecidos, atolados no mar na indiferença.

 

Há um défice de profecia na Igreja. Há uma pulsão para neutralizar os profetas. Eles são incómodos por natureza e por missão. Como não conseguimos discutir com eles, preferimos agir contra eles.

 

Mesmo assim, não estiolemos nem desfaleçamos. A profecia vem com o Baptismo. Não a amordacemos.

 

Em nome de Deus, pratiquemos a profecia. Os pobres estão à espera...

publicado por Theosfera às 11:06

Não faço como aquele colega francês (nem tal coisa me passa pela cabeça), que está a rezar para que o seu presidente tenha um ataque cardíaco.

 

Mas, como é óbvio, a atitude de Nicolas Sarkozy de expulsar seres humanos do seu país deixa-me deveras abatido.

 

A raça não é um impedimento. Há-de ser um factor de integração.

 

Acima de tudo, estamos a falar de pessoas. Que, ainda por cima, estão a viver momentos difíceis, dolorosos.

publicado por Theosfera às 11:02

Sábado, 21 de Agosto de 2010

A palavra não vem apenas pelos lábios. Ela chega sobretudo pelo coração.

 

A palavra ouve-se pela voz. Mas acolhe-se no silêncio.

 

Não se intervém só pelo que se diz ou pelo que se escreve. Também se intervém pelo que se guarda, pelo que se cala.

 

Importante é que a palavra exista. Que a palavra passe. Que a palavra una. Que a palavra irmane.

 

Importante é que a comunicação aconteça. E a paz prevaleça.

publicado por Theosfera às 13:31

Consta que Francisco Franco tinha, na sua secretária, duas resmas de documentos amontoados.

 

Um era dos casos que o tempo resolveria. Outro pertencia aos casos que nem o tempo solucionaria.

 

Resultado? O Generalíssimo não se preocupava muito com as decisões.

 

Não sei se isto terá sido verdade. Só sei que deixar correr pode ser cómodo. Mas não conduz a grandes resultados.

 

Adiar só complica.

publicado por Theosfera às 13:25

Diz-se que, habitualmente, a ficção ultrapassa a realidade. Estou, porém, cada vez mais persuadido de que, actualmente, é a realidade que ultrapassa a ficção.

 

É sabido que o perigo convive com a vida. Mas uma coisa é conviver com o perigo e outra coisa, bem diferente, é procurar o perigo, desafiar o perigo.

 

Aqui o caso desliza, arriscadamente, para a temeridade.

 

Foi este o pensamento que me assaltou quando vi as notícias sobre o balconing.

 

Trata-se de saltar de uma varanda para outra varanda e de um quinto ou sexto andar para uma piscina.

 

Como é de esperar, há casos que correm mal. Alguns correm mesmo muito mal.

 

Só este ano, já houve onze vítimas mortais. Feridos são muitos mais.

 

Para onde vai o nosso mundo?

publicado por Theosfera às 13:19

«A sabedoria está para lá da ignorância e para lá da ciência. Cada um de nós dever ter o amor da perfeição. Saber que devemos querer o máximo, mas saber que o máximo nunca atingiremos. A santidade é um mosaico de pequenas virtudes. Os grandes gestos são raros. No mais, a vida é feita de pequenos gestos anónimos. Temos de adquirir o sentido de sermos o menos imperfeito possível. Isto já é uma grande conquista».

Assim escreveu (sapiente e magnificamente) Alceu Amoroso Lima.

publicado por Theosfera às 11:28

Porque é que os melhores estão tão apreensivos, pessimistas?

publicado por Theosfera às 11:28

Sexta-feira, 20 de Agosto de 2010

O artigo de José António Saraiva, na página 3 do Sol, toca numa ferida muito grande da nossa actualidade.

 

Estamo-nos, sem dúvida, a terceiro-mundanizar.

 

Não há instituição que não passe por crise e crise profunda.

 

Sente-se a falta de um desígnio, de uma direcção, de um rumo.

 

Veja-se a publicidade. Não há criatividade. Há gritaria e pura exibição.

 

Precisamos de nos reencontrar. Com urgência.

publicado por Theosfera às 16:39

Sobejam palavras na defesa de interesses, de ambições, de intrigas.

 

Faltam palavras de coerência, de comunhão, de solidariedade, de harmonia, de justiça e de paz.

 

Faltam palavras que emprestem voz e unam esforços.

 

Faltam palavras que se façam eco das aspirações dos pobres, dos pequenos, dos infelizes.

 

Faltam palavras de profecia.

 

Faltam palavras que, em nome do Evangelho, digam o que tem de ser dito.

 

Faltam palavras que, em nome do Evangelho, amplifiquem o clamor do interior esquecido e abandonado.

publicado por Theosfera às 11:24

Sendo Jesus alguém tão distante do poder, há quem fique surpreendido pela proximidade que, por vezes, a Igreja manifesta em relação ao poder.

 

De facto, é estranho.

 

O seguimento de Cristo, neste caso, é muito claro: respeito e distância.

 

É melhor para todos. E assegura um capital de enorme importância: a liberdade para dizer o que tem de ser dito e para fazer o que tem de ser feito.

 

Uma Igreja de Jesus tem uma opção preferencial: pelos pobres.

 

Sempre.

publicado por Theosfera às 11:21

Tem pouco mais de 60 anos e está com um cancro no esófago.

 

Assume que «está a morrer».

 

Christopher Hitchens é um jornalista e intelectual conhecido pelo seu ateísmo militante.

 

Um dos seus livros fá-lo emparceirar com Richard Dawkins, Sam Harris e Michel Onfray na apologia do chamado novo ateísmo, o qual se destaca por uma inusitada acidez.

 

Para já, diz que ainda não reconsiderou a questão sobre Deus.

 

Constrange-me a notícia desta doença. Rezo pelo bem-estar deste irmão. Pois tenho a certeza de que Deus é para todos. Ainda mais para os que dizem não acreditar.

 

 

publicado por Theosfera às 11:13

A vergonha inibe, mas também protege.

 

São muitas as vezes em que deixamos de fazer algo de bom porque uma força nos tolheu.

 

Mas são igualmente bastas as situações em que não fizemos algo de mau porque uma força nos impediu.

 

Como sucede com tudo, um pouco de vergonha não faz mal.

 

Impressiona, com efeito, a falta de vergonha que paira sobre a sociedade.

 

Há cada vez menos vergonha de mentir, de enganar, de usar os outros, de incumprir, de agredir, de assaltar, de corromper, de caluniar, de difamar, de insinuar, de insultar, etc.

 

O pudor também é um valor.

 

Santo Agostinho, confessando os desmandos da sua juventude, disse que chegou a ter vergonha de não ser desavergonhado.

 

Campos e Cunha alerta para a ausência de vergonha que percorre a vida cívica.

 

«Há muita gente com vergonha da falta de vergonha que por aí impera».

 

É que, acrescenta, «a vergonha é um dissuasor de comportamentos sociais pouco éticos».

 

O problema é que, cada vez mais, o poder, em sentido lato, tende a ser dominado «por pessoas que não sentem nem têm vergonha».

 

O resultado não é bom. «É mau, mesmo muito mau, para a democracia e para todos nós».

publicado por Theosfera às 11:01

Quinta-feira, 19 de Agosto de 2010

1. Apesar do sol, parecem sombrios os tempos que vivemos.

 

E é nestas alturas que mais sentimos a falta não tanto de ideias como de testemunhas. De pessoas de bem. De exemplos que resplandeçam como faróis.

 

Não há dúvida de que o mundo sente mais a ausência de testemunhas do que de mestres.

 

A vacuidade que se apoderou da hora presente não está, em primeira instância, nos conhecimentos. Está, acima de tudo, nos comportamentos.

 

É o vazio que, tingido pelo fútil, faz com que nem o trágico nos pareça tão trágico.

 

 

2. Até o trágico se vai tornando trivial, envolvente. Também ele é afectado pela ditadura da banalidade.

 

Habituamo-nos aos incêndios no Verão e às cheias no Inverno. Já não nos espantam os números da violência doméstica nem os dados da criminalidade.

 

Altera-se a legislação, mas não se muda a vida. Tudo escorre na direcção de um abismo que nem o mais optimista é capaz de suster.

 

No meio desta turbulência, os «heróis» (com umas aspas muito grandes) que fazemos desfilar são os que mostram tudo e não revelam nada.

 

Ficamos deslumbrados com as suas casas, com as suas roupas, com os seus casamentos e separações. Quase sem darmos por isso, somos arrastados pelo vazio que veiculam.

 

 

3. Não é a primeira vez que vivemos épocas destas.

 

Hannah Arendt recorda-nos que «a história já conheceu muitos períodos de tempos sombrios».

 

São tempos em que «a realidade é camuflada pelos discursos e pelo palavreado de quase todos os discursos oficiais que, ininterruptamente e com as mais engenhosas variantes, vão arranjando explicações para todos os factos desagradáveis».

 

As sombras chegam aos tempos «pelo discurso que não revela aquilo que é, preferindo esconder-se debaixo do tapete, e pelas exortações que, a pretexto de defender velhas verdades, degradam toda a verdade, convertendo-a numa trivialidade sem sentido».

 

 

4. Mas, mesmo (diria sobretudo) nestes tempos, «temos o direito de esperar uma luz. É bem possível que essa luz não venha tanto das teorias e dos conceitos como da chama incerta, vacilante e, muitas vezes, ténue, que alguns homens e mulheres conseguem alimentar em quase todas as circunstâncias».

 

A própria Hannah Arendt oferece-nos dez luzeiros em forma de vidas alentadoras para a nossa vida.

 

 

5. Uma dessas vidas é a do Papa João XXIII, que a filósofa judia descreve como sendo «um cristão no trono de S. Pedro».

 

Curiosa a reacção de uma criada de servir aquando da morte do Pontífice: «Minha senhora, este papa era um verdadeiro cristão. Como é que isso foi possível? Como pôde um verdadeiro cristão sentar-se no trono de S. Pedro? Ninguém se terá apercebido de quem ele era?»

 

 

6. Há, obviamente, um exagero e até alguma injustiça. Os papas dos últimos séculos mostraram ser cristãos de fibra, até à medula do seu ser.

 

Mas não deixa de ser sintomática a reacção de uma pessoa simples.

 

Na sua maneira de ver, alguém que irradiava o espírito de Cristo não teria grandes condições de ascender naquilo a que, impropriamente, se chama carreira.

 

 

7. Sabemos que a bondade de João XXIII lhe trouxe não poucos dissabores. Às vezes, a incompreensão acendeu-se dentro da própria Igreja.

 

Não era em vão, porém, que um dos seus lemas era precisamente «sofrer e ser desprezado como Cristo».

 

João XXIII tornou-se uma figura querida porque assumiu, sem o menor constrangimento, o espírito de Jesus.

 

Para ele, todos, incluindo os ateus, eram filhos e irmãos. A justiça sempre o preocupou e mobilizou.

 

 Conta-se que, um dia, terá perguntado a um trabalhador como ia a sua vida. Ele respondeu que ia mal. Então, o Papa garantiu que ia tratar do assunto.

 

Houve, no entanto, quem objectasse que, aumentando o salário aos trabalhadores, teria de haver um corte nas obras de caridade.

 

Resposta pronta do Pontífice: «Então é o que teremos de fazer. Porque a justiça está antes da caridade».

 

 

8. São estas atitudes que definem uma vida. E fazem com que as pessoas que as tomam brilhem. Mesmo nas sombras. Sobretudo nas sombras.

 

 

publicado por Theosfera às 16:07

Há quem tenha uma estranha noção de bondade.

 

Para não poucos, a bondade é assimilada à inacção.

 

Bom, segundo muitos, é o que não reage.

 

Ora, no limite, isto é uma negação da própria bondade, levando-a a pactuar com o próprio mal.

 

Os mestres ensinam que a bondade é profundamente pró-activa e interveniente.

 

Se olharmos para o testemunho de Jesus e para os textos de Dalai Lama, verificamos que a bondade não transige com a injustiça nem com a conveniência.

 

A bondade assenta numa cultura da compaixão e numa clara opção pelas vítimas da opressão.

publicado por Theosfera às 11:10

Os dramas da humanidade não são apenas uma decorrência da natureza. São, acima de tudo, uma decorrência da nossa vontade.

 

É a nossa vontade que impede, em grande medida, que a fome acabe e a justiça prevaleça.

 

Mas se nós somos o problema, porque é que não havemos de ser a solução?

publicado por Theosfera às 11:06

O padrão da normalidade tende a deslizar em todos os domínios.

 

O bom é visto como mau e o mau é visto como bom.

 

O medíocre é considerado como detentor de qualidade e o que tem qualidade é visto como medíocre.

 

O coerente é visto como teimoso e o oportunista é visto como esperto.

 

O dedicado é visto como ingénuo e o infiel é visto como sábio.

 

O que não se resigna é apontado como ressabiado.

 

O orante é visto como deslocado e o superficial é visto como moderno.

 

A alternativa parece ser clara: se queres ser popular, segue o vento da moda.

 

Mas o Senhor Jesus mantém a Sua recomendação: só quem perseverar (até ao fim) encontrará a salvação.

publicado por Theosfera às 11:04

Uma das coisas que mais me preocupa e entristece é que, havendo tanta coisa prioritária em causa, andemos entretidos com o fútil e com o vácuo.

 

Progresso decadente?

publicado por Theosfera às 11:01

No mapa das escolas que vão encerrar, Lamego ocupa, estranhamente, o primeiro lugar.

 

São vinte e um os estabelecimentos que vão fechar só neste concelho.

 

Há concelhos mais despovoados e as cifras não atingem este montante.

 

Não sabemos o número de alunos de cada uma destas escolas.

 

Para o caso de terem menos de cinco alunos, entende-se.

 

Mas não haverá escolas com dez ou mais alunos?

 

Repare-se.

 

Nos países mais desenvolvidos, um dos indicadores fundamentais são as turmas com poucos alunos.

 

Porquê seguir um rumo diferente?

 

Como querer os resultados dos melhores se não seguimos os seus exemplos?

 

É preciso inverter a tendência. É urgente dar voz ao clamor.

 

 

publicado por Theosfera às 10:56

Andamos desencontrados com o essencial.

 

A imprensa deste dia oferece-nos dados que nos deixam atónitos e, mais que atónitos, atordoados.

 

São centenas as crianças que são (sexualmente) pelos pais.

 

São centenas os pais que, já idosos, são agredidos pelos filhos.

 

Se não recuperarmos a família, como é que poderemos recuperar o país?

publicado por Theosfera às 10:52

Quarta-feira, 18 de Agosto de 2010

Portugal tem uma crónica falta de produtividade e começa a revelar um comatoso défice de motivação.

 

Acontece que há gente que quer colaborar na reconstrução do país e não é mobilizada. Pior, é continuamente posta de lado.

 

Como perceber o aumento do desemprego e, dado mais preocupante, do desemprego de longa duração?

 

Há pessoas que querem participar na obra de todos e as oportunidades são-lhes repetidamente vedadas.

 

Como entender?

publicado por Theosfera às 18:58

Terça-feira, 17 de Agosto de 2010

Dizem que em Igreja não se comunica, não se comunica bem.

 

Há quem pense que é uma questão de forma. Penso que é, acima de tudo, uma questão de conteúdo.

 

Antes de nos debruçarmos em técnicas de comunicação, concentremo-nos no essencial da comunicação.

 

Que queremos comunicar? Que pretendemos dizer? Que é que nos motiva, nos mobiliza, nos apaixona?

 

Os grandes evangelizadores da história não frequentaram cursos de publicidade ou de marketing. Numa coisa, porém, eram insuperáveis: em ardor, em convicção. Eram peritos na convicção.

 

Não descuremos, pois, as formas. Mas priorizemos sempre o conteúdo.

publicado por Theosfera às 12:27

Segunda-feira, 16 de Agosto de 2010

Ontem, foi mais um dia dedicado a Nossa Senhora.

 

É bom ter presente que há milhões de filhos Seus que morrem de fome.

 

1200 crianças perdem a vida a cada hora que passa.

 

Não seria Nossa Senhora mais honrada se os milhares de contos que são gastos nas festas fossem encaminhados para matar a fome aos Seus filhos?

 

Como podemos honrar a Mãe sendo indiferentes à sorte de tantos dos Seus filhos?

 

Milhares de pessoas estiveram, durante a tarde, a olhar para a imagem de Maria no Seu esplendoroso andor.

 

Parafraseando o saudoso Padre Abel Varzim, atrever-me-ia a sugerir que procurássemos Maria nos Hospitais, nas Prisões, nas Ruas, nas Camas ou em tantas Casas onde (sobre)vivem idosos abandonados.

 

Não digo que Maria não possa ser encontrada numa procissão, sobretudo se for feita com fé e unção. Mas alguém negará que Ela está sobretudo na dor dos Seus filhos?

publicado por Theosfera às 14:04

A esperança parece ter em entrado em pousio.

 

Prefiro acreditar que está a germinar, em silêncio, nos corações.

 

Porque é que só nos dão notícias da desesperança?

publicado por Theosfera às 14:00

Matar não é só acabar com a vida.

 

Matar é também ir tirando a vida.

 

 

publicado por Theosfera às 13:59

A ideia que se tem é que, só por milagre ou por alguma chuva, a terra deixará de arder em Portugal.

 

Uma palavra de muito apreço para os bravos soldados da paz.

 

Que mais dizer?

publicado por Theosfera às 13:57

Sábado, 14 de Agosto de 2010

São muitos os emigrantes que, nesta época do ano, voltam ao nosso país.

 

É bom voltar a vê-los.

 

Uma coisa me impressiona, entretanto.

 

É que a maior parte não tenciona regressar definitivamente.

 

As coisas lá fora não estão bem. Mas cá dentro estão pior.

 

Portugal não cativa, não atrai.

 

Para pensar.

publicado por Theosfera às 12:08

Sexta-feira, 13 de Agosto de 2010

O caso foi reportado pelo próprio a Luís Osório que, hoje, o reporta na revista do Sol.

 

Um padre terá escrito a Álvaro Cunhal: «O senhor já tem muita idade, está muito velho e, dentro de pouco tempo, comparecerá diante de Deus, que o julgará. E, se não começar a arrepender-se, será condenado às penas eternas».

 

A exortação ao arrependimento é pertinente. Para todos. Mas quem não precisa de conversão?

 

Alguém pode colocar-se no lugar de Deus?

 

O juízo é de Deus, diz a Bíblia.

 

E, assegura S. Paulo, Deus quer que todos os homens se salvem. Todos os homens.

 

Os desígnios de Deus são insondáveis e, na eternidade, há muitas moradas.

 

Porquê este afã em apontar condenados?

 

Somos portadores da salvação ou da condenação?

 

Não me revejo no ideário do Dr. Álvaro Cunhal, mas quem sou eu para o julgar?

 

Acredito na bondade e na largueza dos horizontes de Deus.

publicado por Theosfera às 23:52

1. As primeiras impressões dificilmente se extinguem. Mas são as últimas recordações que jamais se apagam.

 

D. António de Castro Xavier Monteiro chegou a Lamego com um coração de pastor e, quase 28 anos depois, despediu-se de Lamego com um olhar de pai.

 

Se a primeira marca constituíra já um registo forte, a derradeira imagem ofereceu, sem dúvida, uma memória imperecível.

 

É sabido que, ao aproximar-se o fim, D. António quase não falava. Mas não deixava de comunicar. Acima de tudo, com o olhar.

 

Era um olhar sofrido. Mas também um olhar sereno. Um olhar acolhedor. Um olhar agradecido. Um olhar de pai.

 

 

2. Foi há dez anos que D. António faleceu. Eram 18h30 do dia 13 de Agosto de 2000.

 

Confesso que me causa alguma estranheza que esta efeméride tenha passado incógnita na terra para onde ele veio com alegria e que serviu com extremos de dedicação.

 

D. António enchia as pessoas com a sua palavra e preenchia os ambientes com a sua presença.

 

Entrou na cidade a 8 de Outubro de 1972, vindo de Lisboa onde era bispo auxiliar do então Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

 

 

3. Ao saber da nomeação, não escondeu o contentamento: «Foi de joelhos, diante do altar, que li a carta onde me era significada a transferência para Lamego. Agradeci ao Senhor esta nova e grande chamada Sua ao seu serviço; e só Lhe pedi, mas comovidamente, que estivesse sempre comigo».

 

A partir dessa altura, Lamego passou a ser «a minha casa e a minha família». Em Lamego queria «ser pastor, vínculo de paz, de amor e de unidade».

 

 

4. A entrada de D. António na diocese foi um acontecimento marcante.

 

Mobilizou toda a gente. E nem os mais pobres foram esquecidos.

 

As Conferências Vicentinas aumentaram (com mais um quilo de arroz, um quilo de açúcar, um quilo de massa e um pacote de chá) as dádivas para as velhinhas e (com alguns maços de cigarros) para os velhinhos!

 

Acompanhava o cabaz uma estampa em que se assinalava a «especial predilecção e ternura que o senhor Arcebispo já mostrara por esses membros sofredores de Cristo que são os pobrezinhos e os necessitados de toda a ordem».

 

 

5. A intervenção social e política não foi esquecida.

 

Nas eleições legislativas de 1979, publicou uma nota que teve larga repercussão.

 

Alertava ele: «A Igreja tem o uma dupla missão: afirmar e promover o respeito pelos direitos do Homem e denunciar e condenar todas as suas violações».

 

Já há trinta anos, D. António mostrava-se cônscio de que «a contestação das ideias pode ser um direito e até um dever» ao passo que «a destruição das pessoas nunca se justifica».

 

6. A sua grandeza ficava bem patente em pequenos gestos.

 

A 15 de Outubro de 1978, foi a Espadanedo, concelho de Cinfães, em visita pastoral.

 

Arlindo Pinto da Silveira, de 49 anos, estava paralítico há 36 em consequência do reumatismo agudo que o afectou. Pois D. António fez questão de o ir crismar a casa, ficando a corresponder-se com ele a partir desse dia.

 

 

7. Cultivava o D. António uma proximidade que surpreendia e cativava.

 

Era dotado de uma nobre simplicidade. Não falava muito, mas estimulava imenso.

 

D. António tinha, efectivamente coração de pastor, palavra de mestre e olhar de pai.

 

 

8. Não deixemos apagar o seu rasto. Não esbatamos a sua memória. Honremos o seu legado.

 

Disse Elie Wiesel que «esquecer é rejeitar». Seria imperdoável esquecer quem nunca nos esqueceu.

 

 

9. Jamais poderei esquecer a sua estatura espiritual, humana e intelectual.

 

A sua delicadeza sempre o distinguiu e nobilitou.

 

D. António nunca esqueceu Lamego durante a vida. Que Lamego não se esqueça de D. António após a sua morte.

 

 

10. Aqui deixo uma prece sentida. Daqui verto uma recordação entremeada de saudades. Profundas. Imensas.

publicado por Theosfera às 18:30

Não te deixes abater, Irmão.

 

Há qualquer coisa de surpreendentemente belo que (te) pode acontecer.

 

As tuas lágrimas não caem em vão.

 

Felizes os que têm a coragem de chorar. E de não esconder as lágrimas.

 

Felizes os que são sinceros.

publicado por Theosfera às 13:56

Quando se foge à natureza, as coisas nunca correm bem.

 

Isto acontece nas pessoas e nas instituições.

 

Um regime autoritário, quando aparenta ficar mais tolerante, acaba por definhar.

 

Veja-se o caso do socialismo de rosto humano na Checoslováquia com Alexandre Dubchek. A intenção era boa, mas o desfecho foi o que se sabe.

 

O mesmo aconteceu com o próprio Gorbachev ou, noutra latitude, com Marcello Caetano. Tentaram humanizar os seus regimes. Mas o que aconteceu foi o fim.

 

Há tantos exemplos.

 

Nunca se pode fugir à natureza.

 

A Igreja, novo corpo de Cristo. só se pode afirmar pelo amor, pelo serviço, pela bondade.

 

Fora disto, não é ela.

 

Acresce que há cada vez mais gente atenta.

 

A natureza da Igreja é a Trindade, é o amor, é a tolerância, é a solidariedade.

publicado por Theosfera às 13:49

Já não basta a tragédia dos incêndios e o drama da incúria que lhes está adjacente.

 

A comunicação social tem o dever de informar. Mas assiste-lhe também a obrigação de não fazer espectáculo.

 

Para mostrar as chamas não é preciso ir quase para cima delas, ainda por cima às arrecuas (como acabou agora de ser mostrado).

 

Já basta a aflição das populações. Um pouco de serenidade é fundamental.

 

Não vejam isto como uma crítica. Trata-se apenas de um pedido.

publicado por Theosfera às 13:45

Não se morre apenas quando a morte chega.

 

A morte vai chegando com a rejeição, a calúnia, a opressão.

 

É fundamental (tentar) sobreviver.

publicado por Theosfera às 13:43

Para a evangelização, a net traz um precioso ganho: a agilidade.

 

Atenção, porém, ao custo que lhe pode estar conectado: a falta de profundidade.

 

Hoje, muitas pessoas não lêem; captam. Se a net ajudar à captação do essencial, óptimo.

 

O problema é que isso acontece, amiúde, à custa da superficialidade. É preciso, por isso, não descurar a compensação.

 

Faz bem vir à net captar. Urge não dispensar o livro para aprofundar.

 

A net não é só um novo meio de comunicação. Ela está a criar também um novo paradigma de relação.

 

Pura e simplesmente, não nos relacionamos da mesma maneira depois do aparecimento da web.

 

Estamos muito marcados pelo instante, pelo impulso. Outrora, poderíamos escrever um texto movidos por um ímpeto, mas até que ele fosse publicado no jornal, havia oportunidade para alterar uma palavra mais destemperada. O leitor, mesmo o eventual alvo da escrita, estava já também mais distendido.

 

Agora, é tudo muito em cima. As pessoas tendem a verter no blog todos os impulsos. Mas, mesmo que não vertam, há quem os lobrigue. Precisamos, pois, de serenidade e de uma nova hermenêutica.

 

Também na net, a linguagem deve servir para aproximar, para unir, para amar.

publicado por Theosfera às 11:10

Josefa, 21 anos, a viver com a mãe.

 

Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes.

 

Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude.

 

Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão.

 

Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar...

 

Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça.

 

A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui.

 

Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos.

 

Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?

publicado por Theosfera às 11:04

Quinta-feira, 12 de Agosto de 2010

Tudo parece estranho. Desde o nome até à história, passando pelos números.

 

Até há dias, pouca gente sabia quem era Tiago Silva.

 

E, hoje mesmo, poucos saberão quem é. Ele prefere que o tratem por Bebé. Isto, apesar de já ter vinte anos.

 

Pois este jovem ainda há meses vivia na Casa do Gaiato.

 

Ontem foi contratado pelo Manchester United por quase dez milhões de euros.

 

Dir-se-ia tão pouca sorte antes e tanta sorte depois.

 

Jogava no Estrela da Amadora e tinha sido contratado pelo Guimarães.

 

Poucos jogos de preparação terão convencido o clube inglês a desembolsar tamanha quantia.

 

Curioso é o facto de os chamados clubes grandes de Portugal, que correm o mundo atrás de vedetas, não terem reparado num (pelos vistos) prodígio ao pé de casa.

 

O mundo tornou-se mesmo uma aldeia. Quem tem dinheiro tem o poder.

 

Ainda bem que se ouviu falar da Casa do Gaiato. Não fora ela, por onde andaria este jovem?

 

 

publicado por Theosfera às 11:48

O mundo é diferente de Deus e Deus é diferente do mundo. Mas o mundo não é estranho a Deus, nem Deus é estranho ao mundo.

 

Mais, entre Deus e o mundo a relação não é de estranheza mas de entranheza. Deus está entranhado no mundo, o mundo está entranhado em Deus. Isto não contende, portanto, com o reconhecimento da diferença ontológica nem, por conseguinte, da transcendência de Deus.

 

Como dizia Xavier Zubiri, Deus não é transcendente às coisas; é transcendente nas coisas. Ou seja, no mundo Deus revela-Se como é.

 

O mal foi assimilarmos a diferença à separação. Já Yves Congar reconhecia que «ao ideal de um Deus sem mundo houve quem respondesse com o ideal de um mundo sem Deus». Paulo VI, nesta mesma linha, avisava que um dos grandes dramas da nossa época era a ruptura entre a fé e a cultura.

 

A relação entre Deus e o Homem não é de disjunção, mas de conjugação. Não se estabelece com um ou, mas com um e. Não um e de mera adição, mas de presença: Deus está no Homem e o Homem está em Deus.

 

Dois autores chamaram a atenção para esta situação. Xavier Zubiri fez sair, em 1983, o célebre O Hombre e Deus. Edward Schillebeeckx publicara, em 1964, Deus e o Homem. Na diversidade de pontos de vista e de dados, avulta algo estruturante e interpelador: o futuro não está na separação, mas na relação.

 

O Homem é mesmo habitação divina. Cada homem. Todo o homem. Também tu, meu Irmão. 

publicado por Theosfera às 11:39

Não é nostalgia, mas justiça.

 

A época que se vive torna mais valiosa as épocas que se viveram.

 

Como nos surgem belos os tempos em que as pessoas se cumprimentavam. Em que se sabia agradecer. Em que se sabia estar. Em que havia compostura. Em que a palavra tinha valor. Em que a amizade se fazia sentir. Em que a solidariedade e entre-ajuda apareciam. Em que o respeito se distinguia.

 

Como já parecem distantes esses tempos!

 

E são as excepções que mais dolorosa tornam a regra!

publicado por Theosfera às 11:33

O menos necessário é culpar. O mais importante é reflectir. E o mais urgente é (mesmo) inflectir.

 

Há toda uma sensação de desnorte na nossa vida.

 

As pessoas andam sofridas e indispostas.

 

Que fazer quando tudo arde?

publicado por Theosfera às 11:31

Quarta-feira, 11 de Agosto de 2010

Creio numa Igreja perto de Deus.

Creio numa Igreja perto do Homem.

Creio numa Igreja orante.

Creio numa Igreja humilde.

Creio numa Igreja embebida no Evangelho, amassada na esperança, aberta ao Espírito, comprometida na justiça, militante da Paz.

Essa é a Igreja de Cristo.

Essa é a Igreja de todos.

Que Ela se torne cada vez mais visível na nossa vida.

publicado por Theosfera às 11:39

O potencial destruidor é enorme. E nunca, como agora, o futuro da humanidade está dependente da decisão de algumas pessoas.

 

Quem alerta é o astrofísico Stephan Hawking, que sugere à espécie humana que se vá espalhando pelo espaço.

 

Só que isso é uma ideia muito cara.

 

Será que o futuro da terra passa, cada vez mais, por sair da terra? 

publicado por Theosfera às 11:28

Desde sempre, fica claro que não há teologia (nem acção eclesial) que seja apolítica.

 

A intervenção do crente tem sempre implicações políticas: ou directa ou indirectamente. Quem assume essas implicações revela de que lado está. Quem não assume é conivente com aquilo que acontece.

 

Concretizando, alguém que denuncie as injustiças sociais pode ser facilmente apodado de vanguardista, comunista, revolucionário. Mas alguém que, para não receber tal acusação, se cale acaba por tomar também uma opção: pelos que praticam a injustiça.

 

Neste caso, o silêncio é pouco edificante. A Igreja não pode ser imparcial. Não deverá, como é óbvio, tomar partido por partidos. Ela tomará sempre partido por pessoas, por ideais, por causas, por valores.

 

Se ela não o fizesse não seria isenta. Estaria a tomar partido por quem explora, por quem agride. Quem cala consente. Poderá um cristão consentir a exploração, a injustiça?

 

A clareza é sempre importante. As pessoas têm o direito de saber de que lado estamos. Nós temos o dever de as não defraudar. Cristo foi sempre claro. «Que as vossas palavras sejam sim, sim, não, não» (Mt 5, 37 ).

 

Por mim, sou do PP, do Partido dos Pobres, do Partido do Povo, do Partido da Paz! E, por isso, não milito em mais nenhum partido.

publicado por Theosfera às 11:20

A terra não está contente e arde.

 

Os céus não se mostram felizes e choram.

 

O problema é que, por entre os fogos que eclodem na terra e as tempestades que caem dos céus, há muita gente que morre.

 

As imagens dos últimos dias inoculam uma sensação de fim.

 

Muita gente, no último sábado, sentiu-se atordoada com a cor do sol: vermelha.

 

Aquela criança que morreu num barracão e a jovem que perdeu a vida quando combatia as chamas são o sinal de vidas que a vida não deixou germinar.

 

Precisamos de um surto de esperança. E de mais cuidado na preservação do que é de todos. Nosso também.

publicado por Theosfera às 11:15

Terça-feira, 10 de Agosto de 2010
As pessoas são irracionais, ilógicas e egocêntricas.
Ama-as MESMO ASSIM.
Se tu tens sucesso nas tuas realizações,
ganharás falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Tem sucesso MESMO ASSIM.
O bem que tu fazes será esquecido amanhã.
Faz o bem MESMO ASSIM.
A honestidade e a franqueza torna-nos vulneráveis.
Sê honesto MESMO ASSIM.
Aquilo que te levou anos para construir,
pode ser destruído de um dia para o outro.
Constrói MESMO ASSIM.
Os pobres têm verdadeiramente necessidade de ajuda,
mas alguns deles podem te atacar se tu os ajudares.
Ajuda-os MESMO ASSIM.
Se tu deres ao mundo e aos outros o melhor de ti mesmo,
corres o risco de te saíres muito mal.
Dá o que tu tens de melhor MESMO ASSIM.
publicado por Theosfera às 12:04

O calor vai apertando. Não se está bem em casa. Não se está bem fora de casa.

 

A natureza, com as suas inclemências, põe à prova a nossa tolerância.

publicado por Theosfera às 12:02

Segunda-feira, 09 de Agosto de 2010

Nem sempre o avanço é garantia de crescimento.

 

Já Edgar Morin se apercebera de que todo o progresso acarreta sempre um retrocesso.

 

Hoje, estamos melhor no conhecimento tecnológico. Mas estaremos melhor no conhecimento sapiencial?

 

Há mais ciência. Mas haverá mais sabedoria?

 

Quando lemos os textos de Lao Tzu, escritos há 2500 anos, fácil é perceber o quão longe estamos da sabedoria daqueles tempos.

 

 

publicado por Theosfera às 13:00

Os valores não conhecem limites. Germinam por toda a parte.

 

Na morte de Dias Lourenço, todos convergem em destacar a honradez, a verticalidade, a decência e a coerência.

 

Também foi a impressão que sempre retive dele.

 

Paz à sua alma. Atenção à sua conduta.

 

Estes valores são cada vez mais raros. Mas nunca prescrevem.

publicado por Theosfera às 11:11

Na panóplia incandescente de ocorrências flamejantes, há uma pergunta que tem assomado ao meu espírito: porque é que no Alentejo não há incêndios?

 

Refira-se que, só na pretérita semana, terá havido 2500 incêndios em todo o país. A bem dizer, no centro e no norte.

 

Alguns destes fogos têm assumido dimensões dantescas. A nuvem do incêndio de S. Pedro do Sul estende-se até Lamego!

 

O que dói é que grande parte destes incêndios resultam de dolo ou de negligência.

 

O que espanta é que o Alentejo, com uma área tão grande, tem estado abrigado desta onda de fogos. Será que há mais cuidado?

 

Era bom que se estudasse a questão. Aprender faz sempre bem.

 

publicado por Theosfera às 11:03

Domingo, 08 de Agosto de 2010

Ânimo, Irmão!

Há qualquer coisa bela que está para surgir.

A noite vai caminhando.

Ainda não vês o sol.

Mas sabes que a luz vai chegar.

Desanimar porquê?

publicado por Theosfera às 22:57

Simpatizo mais com quem é contestado do que com quem é aplaudido.

 

E escusado será dizer que me identifico mais com quem é contestado do que com quem contesta.

Esta foi uma das grandes lições que a vida me deu. Em causa não está primordialmente a pessoa (contestada ou aplaudida), mas os critérios das maiorias (regra geral, bastante difusos e muito vazios).

 

Em princípio, a contestação atinge quem é incómodo, quem é coerente, quem é recto, quem tem ideias e valor. Ao invés, o aplauso vai para quem não incomoda, para quem não interpela, para quem se adequa a todas as situações, para quem não defende aquilo em que acredita.

 

Por vezes, há escolhas que se fazem com a (única) preocupação de tapar caminhos e de ofuscar pessoas.

 

Prefiro, mil vezes, quem tem a coragem de assumir (mesmo que erre) do que quem só se preocupa com agradar. E, além do mais, agradar nem rima com servir...

publicado por Theosfera às 22:55

Não está fácil a vida para quem é sério, solidário, coerente, profundo, verdadeiro.

 

Não está fácil a vida para quem não se guia por interesses nem se norteia por cálculos.

 

O mais certo é sentir-se inadaptado, ancorado numa quase clandestinidade.

 

Quem se afasta do politicamente correcto (que, não raramente, assume a forma de pensamento único) vive asfixiado. Quase não tem lugar.

 

Há, porém, que persistir. Cedamos em tudo. Excepto nos princípios.

publicado por Theosfera às 19:09

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